Além de acessar dados do INSS mantidos sob sigilo, financeiras de empréstimos consignados enganam aposentados ao prestar informações sobre taxas de juros. Os vendedores tentam também empurrar os cartões de créditos, elevando a margem de consignação para 35% da renda dos segurados da Previdência Social. A voracidade das operadoras é explicada, em parte, pelo volume de dinheiro em disputa. Em maio, o INSS pagou R$ 25 bilhões aos seus aposentados. A parcela mensal que pode ser comprometida com os consignados chega a R$ 8,8 bilhões.
Reportagem publicada pela Gazeta do Povo mostrou como funciona o esquema de acesso ao cadastro dos aposentados pelas corretoras que vendem os consignados. Elas compram mailings com informações como número do benefício, CPF, nome do beneficiário e valor da aposentadoria. A invasão da privacidade dos inativos acontece por meio de compra de senhas e acesso a banco de dados sigilosos, segundo depoimento de empresas de software que atuam nesse mercado.
Após ser procurado por vendedores dessas corretoras, gravei por telefone ou em conversas presenciais a estratégia de venda dos consignados. Os empréstimos, descontados na folha de pagamento, podem chegar a 30% da renda do segurado. As prestações podem chegar a 72 parcelas. No primeiro contato, o aposentado muitas vezes não tem as informações já disponíveis aos vendedores.
“Estou lhe ligando porque o senhor deu entrada no seu pedido de aposentadoria por tempo de contribuição. O senhor vai receber pelo Bradesco na sua conta corrente”, informa um funcionário da Citycred. Ele acrescenta: “O senhor tem R$ 40 mil aprovado para estar fazendo a liberação. Esse valor ele te ajudaria?”. Ele informa o valor bruto e líquido da primeira parcela da aposentadoria, a ser paga no mês seguinte. E passa a falar da taxa de juros.
“O custo total efetivo do contrato é de 2,34%, já incluso IOF, taxa administrativa e o seguro pensionista. Como a parcela é fixa e o seu benefício tem aumento todo ano, o senhor não vai ficar seis anos com esse desconto. A parcela vai diminuindo”. Faço um cálculo rapidamente e mostro que, em 72 parcelas, eu pagaria 110% de juros sobre o valor tomado. “Isso o senhor fazendo o cálculo até o final do contrato”, responde o vendedor, meio sem graça.
O vendedor da RA Promotora faz questão de mostrar que está bem informado e também anuncia os valores bruto e líquido da aposentadoria: “O senhor tem esse benefício junto ao INSS. Ele estará à disposição para o senhor a partir do dia 7. Estará disponível no Bradesco, na agência Prime. Com esse benefício, o senhor já poderá estar fazendo as consignações”.
Ele tenta empurrar um empréstimo de R$ 41,2 mil e diz que a taxa de juros é de 2,32%. Pergunto se é ao mês. “Não, 2,32% fixa”, responde. Insisto na pergunta: “Sim, mas em que período, mês, ano?”. Ele também insiste na resposta: “Não, o juro é fixo até o final do pagamento do senhor. Não tem acréscimo de juros”.
Na financeira Facilita, em Brasília, a vendedora informa que a margem do crédito consignado é de 30%, mas o pensionista ainda dispõe de mais 5% em cartão de crédito. “Foi uma nova modalidade que surgiu no ano passado, para liberar mais dinheiro para o cliente, com uma taxa de juro muito inferior ao cartão de crédito convencional, 3,5% ao mês. O mínimo é descontado todo mês da sua conta. A bandeira é mastercard, é internacional, e não tem anuidade”.
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R$ 100 bilhões por ano
Dados do Banco Central mostram que os empréstimos consignados para aposentados pelo INSS movimentaram R$ 100 bilhões no ano passado. A taxa de inadimplência dos empréstimos é de 2%, enquanto a taxa dos cartões chega a 3,5%. As operações de crédito realizadas por instituições financeiras com aposentados e pensionistas do INSS variam entre 1 milhão e 2 milhões por mês.
Em outubro de 2015, pela primeira vez as operações com cartões estiveram na liderança – com 700 mil operações contra 670 mil dos empréstimos consignados. Em março do ano passado, foram 1,5 milhão de operações com cartões e 1,2 milhão com empréstimos. Mas depois disso os consignados voltaram a liderar as operações.
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