Em aviões próprios ou alugados, alguns senadores visitam suas bases eleitorais com despesas pagas pelo contribuinte. Até o combustível das aeronaves é custeado com recursos das “cotas para exercício da atividade parlamentar”. A chamada verba de gabinete financia também passagens aéreas e terrestres, hospedagem, alimentação, consultorias, aluguel de escritório e divulgação. O valor da cota é definido de acordo com o estado de origem do senador – quanto mais longe de Brasília, maior é a verba.
No primeiro semestre deste ano, as despesas com verba de gabinete ficaram em R$ 11,2 milhões. A maior parte foi gasta com passagens aéreas, num total de R$ 3 milhões. As despesas com combustível, hospedagem e alimentação ficaram em R$ 2,6 milhões. O aluguel de imóveis e despesas como condomínio, telefonia, luz e impostos consumiram R$ 2,2 milhões. Consultorias, impressões e outros serviços de apoio parlamentar custaram R$ 1,4 milhão. O mesmo valor foi gasto com divulgação da atividade parlamentar.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) esteve em quatro municípios do Piauí utilizando aeronave fretada: Floriano, Bom Jesus, Uruçuí e Sebastião Leal – os dois últimos na região do Mapito, a mais recente fronteira agrícola do país. Gastou R$ 60 mil com combustível para avião e mais R$ 62 mil com táxi aéreo.
Já Zezé Perrella (PMDB-MG) utiliza aeronave própria nos seus deslocamentos, mas o contribuinte custeou pelo menos R$ 11,7 mil da sua despesa com combustível. Chama a atenção o pagamento feito ao posto Oeste Comercial, em Ilhéus (BA), no valor de R$ 2,2 mil, fora da sua base eleitoral.
Questionado sobre essa despesa, o senador afirmou que houve apenas um “equívoco de sua assessoria”. “A referida nota foi encaminhada para ressarcimento como se houvesse sido uma despesa relacionada com sua atividade parlamentar. Esse equívoco foi detectado e, embora não resida ilegalidade no procedimento, tanto assim que o Senado Federal realizou o ressarcimento, foram tomadas providências para a devolução dos recursos, que se efetivou no dia 12 de julho de 2017”, diz nota da própria assessoria.
O senador Ivo Cassol (PP-RO) gastou R$ 69 mil no abastecimento de aeronaves. Como não há despesas com fretamento de aviões, a reportagem perguntou à sua assessoria se o senador conta com aeronave própria. Não houve resposta. O mesmo aconteceu com Vicentinho Alves (PR-TO), que fez despesas no valor total de R$ 55 mil com combustível para aviões. Estaria numa fazenda, incomunicável, informou o seu assessor.
Passagens, campanhas e protestos
Os deslocamentos da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pelo país consumiram 73% da sua verba de gabinete, que somou R$ 215 mil. Só com passagens aéreas e terrestres para ela e alguns de seus assessores foram gastos R$ 101 mil. As despesas de combustível, táxi, hospedagem e alimentação somaram R$ 56 mil. Além dos deslocamentos para Curitiba e cidades do interior do Paraná, ela esteve em dez capitais do país, como Vitória, João Pessoa, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, Teresina e Cuiabá.
Em parte das visitas ela estava em campanha para a presidência do Partido dos Trabalhadores. Em outras, participou de manifestações de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de protesto contra o presidente Michel Temer. Em algumas dessas viagens, esteve junto com o seu concorrente à presidência do PT, o senador Lindbergh Farias (RJ), que teve gastos de R$ 100 mil com passagens áreas no primeiro semestre. Mas o recordista nessa despesa foi Randolfe Rodrigues (Rede-AP), com R$ 142 mil.
A assessoria de Gleisi Hoffmann lembra que cada senador paranaense possui uma verba de transporte aéreo de R$ 17,5 mil mensais. “O mandato da senadora utilizou-a dentro das resoluções internas do Senado Federal, prestando contas (conforme consta no Portal da Transparência) e cumprindo todas as normas estipuladas. É importante lembrar que, no primeiro semestre de 2017, a senadora ocupou o cargo de líder do PT no Senado, o que fez com ela participasse de eventos em todo o país”.
Consultorias, imóveis e segurança
O senador Eduardo Braga (PMDB-AM), além de gastar R$ 109 mil com passagens aéreas, investiu mais R$ 144 mil na divulgação da sua atividade, com a contratação de empresas especializadas em produção multimídia e publicidade. O seu foco são as redes sociais, especialmente o Facebook, com postagens bem direcionadas aos municípios do estado.
Valdir Raupp (PMDB-RO) também investiu muito em divulgação da atividade parlamentar: R$ 140 mil. Mas a maior parte da verba é distribuída entre veículos de comunicação do seu estado.
Cerca de 80% da verba de gabinete do senador Omar Aziz (PSD-AM) – exatos R$ 180 mil – foi aplicado em um único contrato, feito com o marqueteiro Jefferson Coronel. Ele executa serviços de consultoria em comunicação e marketing.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) investiu 77% da sua verba no aluguel de um imóvel para o seu escritório político, no edifício Asamar, em Belo Horizonte. Só o aluguel custa R$ 9 mil. O condomínio fica em torno de R$ 3,8 mil mensais.
A maior preocupação do senador Fernando Collor (PTC-AL) é com segurança. Ele gastou toda a sua verba – R$ 149 mil – com serviços de segurança privada. Nos primeiros quatro meses a empresa contratada foi a Citel Service. Não houve gastos em maio. Em junho, contratou a Avanço Service.