O senador Vicentinho Alves (PR-TO) utiliza avião de sua propriedade para viagens no interior do estado e também para o deslocamento até Brasília. Mas quem paga a conta do combustível é o contribuinte, inclusive para ele se dirigir ao local de trabalho. O deputado Giacobo (PR-PR) pagou R$ 25 mil por um voo fretado no trajeto Curitiba/Brasília/Curitiba, quando um voo de carreira custaria cerca de R$ 1 mil. Esses são alguns exemplos dos fretamentos de aeronaves de senadores e deputados pagos com recursos públicos. Câmara e Senado gastaram R$ 3,5 milhões com essa despesa no ano passado.
No mesmo mês, em fevereiro do ano passado, Giacobo também fez o trajeto Foz do Iguaçu/Cascavel/Brasília em voo fretado, ao custo de R$ 39 mil. Em avião de carreira, o trajeto Foz do Iguaçu/Brasília ficaria em torno de R$ 1 mil. Procurado, o deputado não quis explicar o motivo desses fretamentos. Limitou-se a afirmar: “nas datas citadas, utilizei, rigorosamente, a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar nos estritos limites estabelecidos pelo Ato da Mesa 43/2009”.
Primeiro-secretário da Câmara, o deputado é o responsável pelos serviços administrativos da Casa. Ele ganhou notoriedade no ano passado ao notificar o presidente Michel Temer sobre as denúncias de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça feitas pelo Ministério Público Federal.
Leia também: Senadores gastam até R$ 950 (ou um salário mínimo) numa única refeição
Os maiores gastos com aluguel de aviões no ano passado foram feitos pelo deputado Átila Lins (PSD-MA), um total de R$ 276 mil – mais da metade da sua cota para o exercício do mandato, o “cotão”. A viagem mais cara foi no trajeto Manaus/Apuí/Lábrea/Manaus, no valor de R$ 28 mil. Giacobo ficou em segundo lugar na Câmara nos gastos com fretamento: R$ 211 mil – 46% do seu “cotão”.
Francisco Chapadinha (PODE-PA) gastou R$ 163 mil com viagens pelo interior do Pará. Numa delas, foram R$ 6 mil para se deslocar de Santarém até Monte Alegre, numa distância de 100 quilômetros. A cidade visitada fica no outro lado do Rio Amazonas.
Os gastos de 66 deputados com fretamento de aeronaves somaram R$ 2,84 milhões. A reportagem apurou os dados da Câmara com a utilização do sistema de buscas e filtros do site OPS – Operação Política Supervisionada, uma ONG que faz a fiscalização dos gastos dos parlamentares. O site acessa diretamente os dados das páginas das Casas Legislativas na internet.
Campeões no Senado
No Senado Federal, o campeão de gastos com aviões foi o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Ele também lidera os gastos com viagens internacionais e com alimentação, conforme reportagens publicadas pela Gazeta do Povo recentemente. Torrou R$ 12 mil em restaurantes luxuosos em São Paulo, bem distante do pobre Piauí. E gastou R$ 28 mil com passagens para fazer parte do workshop “Consumo Inteligente e Responsável de Bebidas Alcoólicas” nos Estados Unidos, em 2016. Ciro gastou R$ 157 mil com fretamento de aeronaves, mais R$ 76 mil com combustível para aviões.
Em duas dessas viagens, esteve nas fazendas Progresso e Nova Era (Canel), duas gigantes do agronegócio no cerrado do Piauí. Questionado pela reportagem, não deu detalhes sobre o motivo dessas viagens.
O segundo colocado nas despesas com aviões foi Gladson Cameli (PP-AC), que também se destacou nos gastos em viagens internacionais. Ele chegou a gastar R$ 48 mil em passagens de ida e volta ao Japão. Nas viagens pelo interior do Acre, gastou R$ 97,7 mil.
A senadora Lúcia Vânia (PSD-GO) gastou R$ 79 mil com aluguel de aviões para viagens no interior de Goiás. Ela utiliza um bimotor. Uma das viagens foi para Alto Paraíso e Cavalcante, cidades distantes 350 quilômetros de Brasília. A sua assessoria destaca que essa viagem foi feita a partir de Goiânia. “Na ocasião a senadora visitou municípios vizinhos, como Cavalcante e Teresina, onde a parlamentar tem projetos sociais”, diz nota da senadora.
Leia também: Mordomias a ex-presidentes do Brasil já custaram R$ 36 milhões aos cofres públicos
O senador Acir Gurgacz (PDT-RO) liderou os gastos com combustível para aviões – um total de R$ 167 mil no ano passado. Ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a quatro anos e seis meses de prisão, em 27 de fevereiro, por crimes contra o sistema financeiro. Ele não respondeu à reportagem se é proprietário de alguma aeronave.
Os gastos dos senadores com fretamentos e combustível para aeronaves somaram cerca de R$ 700 mil.
Senado paga combustível para viagens a Brasília
A assessoria do senador Vicentinho Alves justificou os gastos de R$ 55 mil com combustíveis: “Ele possui aeronave e utiliza, com frequência, esse meio de transporte para deslocamentos dentro do Estado do Tocantins. O Estado possui 139 municípios distribuídos por seus 277 mil km2. A distância entre municípios localizados nos extremos do território tocantinense pode chegar a 800 km”.
Os voos a Brasília também foram justificados: “No caso de locação de meios de transporte, a utilização da verba pode ser feita somente para fretamento de meios de locomoção para percorrer trechos integralmente dentro da unidade da federação do senador. Como o gasto é efetuado com aquisição de combustíveis e não com fretamento, uma vez que a aeronave é de sua propriedade, esse meio de locomoção é utilizado também para os deslocamentos para Brasília”.
A assessoria afirma que essa alternativa “fica mais barata, considerando as poucas opções de voos de Palmas para Brasília e o elevado custo das passagens, que pode chegar a R$ 1,8 mil um único trecho”. Questionada se o senador pode usar combustível pago pelo Senado em deslocamentos para fora do estado, respondeu: “a restrição a trechos localizados dentro do estado é para gastos com o fretamento de aeronaves, não para as despesas com combustível”. A nota acrescentou que os gastos seguem o que regulamenta o Ato da Comissão de Diretora nº 3, de 2003.
O senador Wellington Fagundes (PR-MT) é proprietário de aeronave de pequeno porte, modelo Seneca II, utilizada para deslocamentos a cidades mais distantes em Mato Grosso, “não atendidas por voos regulares”, segundo afirma sua assessoria. Ele não gasta com fretamentos, mas foi reembolsado em R$ 30,9 mil utilizados na compra de combustível.
Projetos sociais
A senadora Lúcia Vânia afirmou que os seus gastos com fretamento de aviões estão de acordo com o limite estabelecido pelo Senado, como prevê o Ato do Primeiro-Secretário nº 5, de 2014. “As viagens são feitas em um avião próprio para pistas do Estado, que na sua maioria não tem balizamento. Viajo de transporte aéreo para ir a cidades distantes de Goiânia e Brasília e, em casos excepcionais, em que o deslocamento de carro seria inviável para conciliar com minha agenda no Senado”, afirmou a senadora.
Leia também: Senadores torram milhões de reais com correio. Quem ainda manda carta?
Ela também falou sobre o motivo das viagens: “Todas as viagens tiveram o objetivo de me aproximar da população, dos gestores locais e das lideranças sociais, no intuito de compreender as necessidades dos municípios, discutir o orçamento e cumprir com minhas obrigações parlamentares”.
Aviões e carrões
A senadora Regina Sousa (PT-PI) não fretou aviões para percorrer municípios do interior do estado, mas também não poupou recursos do Senado. Ela utiliza uma camionete Trailblazer – um dos modelos preferidos dos magistrados do Nordeste – nas viagens pelo interior do estado ou em compromissos na capital. O custo mensal do aluguel ficou em R$ 10 mil – totalizando R$ 120 mil no ano.
O seu gabinete afirmou que a camionete foi utilizada no “exercício da atividade parlamentar”. “O Piauí tem 224 municípios, com uma extensão longitudinal superior a mil quilômetros, necessitando de um veículo adequado para a realização das atividades. De praxe, a senadora visita de três a quatro municípios do estado por final de semana, onde participa de audiências públicas, reuniões, palestras e realizando uma prestação de contas contínua do mandato. É necessário para tanto um automóvel de maior porte, resistente e com capacidade para levar os materiais das referidas atividades”, diz a nota.
Questionada se não haveria um veículo mais econômico, a sua assessoria respondeu: “Infelizmente, carros de menor tamanho e motorização já foram utilizados pela senadora para o devido fim e não corresponderam às exigências das extenuantes viagens feitas semanalmente, o que exigiu constantes reparos e trocas e motivou a escolha por um modelo mais resistente. Por fim, informamos que o valor pago pelo aluguel do veículo segue o preço praticado pelo mercado nacional, tendo sido feitas diversas consultas de preços com distintas empresas”.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS