A verba da Câmara Federal destinada à “divulgação da atividade parlamentar” custou R$ 56,4 milhões no ano passado. Isso representa um quarto da cota para o exercício do mandato – o “cotão” –, que consumiu R$ 221 milhões. Os deputados imprimem boletins informativos que chegam a 100 mil exemplares, mas investem cada vez mais nas redes sociais, com intensa produção de vídeos. Muitos ainda mantêm a prática de pagar pela veiculação de textos produzidos pela própria assessoria (releases) em jornais, sites e emissoras de rádio. Desde o início da atual legislatura, em 2015, o gasto com divulgação já chegou a R$ 158 milhões.
O campeão de gastos com autopromoção foi o deputado Nivaldo Albuquerque (PRP-AL) – veja infográfico com todos os detalhes no final desse post. Suplente do deputado Maurício Quintella (PR-AL), que assumiu o Ministério dos Transportes no início do governo Michel Temer, Albuquerque iniciou o mandato em maio de 2016. No ano passado, ele investiu R$ 380 mil em divulgação da atividade parlamentar – o que representa 76% do seu “cotão”, um total de R$ 495 mil.
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Ele fez um contrato de R$ 326 mil com a empresa Conhecimento Digital, que faz a divulgação do seu mandato nas redes sociais. O contrato prevê a criação de vídeos, tratamento de imagem e confecção de cards para Facebook e Instagram. Deve deixar o mandato em abril deste ano, quando encerra o prazo de desincompatibilização dos ministros.
Fanpage com 50 mil seguidores
O segundo colocado foi o deputado César Halum (PRP-TO), que investiu em divulgação R$ 364 mil – de um total de R$ 508 mil gastos com o “cotão”. O maior contrato foi fechado com a empresa A. L. Marketing Eireli, para a produção e edição de vídeos de divulgação das atividades do deputado no Facebook e no WhatsApp.
O contrato prevê a cada mês a divulgação de emendas e recursos liberados pelo deputado no governo federal. Em dezembro, o destaque foi a divulgação de uma emenda de R$ 1 milhão para a distribuição de sementes e a liberação de recursos para a reforma do aeroporto de Araguaína (TO). Em outubro, ele pediu destaque para a emenda de R$ 2 milhões para a atenção básica de saúde na mesma cidade.
O coordenador de comunicação de Halum, Vinicius Rocha, relata a estratégia do deputado: “É muito raro a gente fazer um informativo. A gente tem investido muito em vídeos. São, em média, quatro por mês, para disseminar no WhatsApp, no canal dele no Youtube, a TV Halun. A maior parte do gasto, é com manutenção das redes sociais. Em média, gastamos R$ 4 mil por vídeo. No Facebook, temos uma página perfil com 5 mil amigos e uma fanpage com 50 mil seguidores”.
O deputado Wellington Roberto (PR-PB), terceiro colocado no ranking da gastança, tem uma estratégia de comunicação mais tradicional. Investe na distribuição de informações impressos. Dos R$ 351 mil do “cotão” com propaganda, aplicou R$ 207 mil na confecção desses informativos, por meio da empresa Ellite, com tiragem de até 100 mil exemplares.
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A estratégia do deputado Professor Victório Galli (PMDB-MT) foi a diversificação. Dos gastos do “cotão” – R$ 346 mil –, ele aplicou R$ 118 mil na impressão de informativos de até 50 mil exemplares, mais R$ 228 mil na confecção do material impresso, na atualização do seu site, na equipe de mídia (Facebook e Instagram) e na assessoria de imprensa.
Links patrocinados com 50 mil visualizações
O deputado Rubens Júnior (PCdoB-MA) também diversificou a sua comunicação. Ele aplicou nessa área R$ 324 mil – mais de 60% da sua verba do “cotão”. Investe em publicação de matérias, distribuição de um jornal, divulgação de informações em sites, envio de e-mails por mala direta e tem até links patrocinados em redes sociais (Facebook e Instagram). O contrato com a empresa Folha Nacional prevê links com envolvimento diário de 50 mil visualizações.
A assessoria do deputado explica a sua estratégia: “Priorizamos investimentos em divulgação a gastos com alimentos, aluguéis de escritório e carro, por exemplo, porque acreditamos que a comunicação pode ajudar a combater a crise de legitimidade existente nos dias atuais. Utilizamos de uma estratégia diversificada, distribuindo os conteúdos do mandato em diversos meios, sempre alinhados às redes sociais. Esses canais garantem mais alcance e capacidade de interação”, afirmou o assessor Antônio Maciel.
Mas há quem adote práticas antigas. O deputado Weliton Prado (PROS-MG) investiu R$ 291 mil em propaganda, sendo R$ 223 mil para divulgar as suas atividades parlamentares em dois jornais de Minas Gerais: O Tempo e Supernotícia. O aporte mais elevado foi em maio, quando pagou R$ 19,5 mil para assegurar a divulgação do material durante sete dias no jornal Supernotícia.
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Propaganda suspensa
Neste ano, como se trata de ano eleitoral, a propaganda será interrompida 120 dias antes das eleições em primeiro turno, marcadas para 7 de outubro. Mas não poderá haver um investimento maciço no primeiro semestre. O saldo não utilizado da cota acumula-se ao longo do ano. Pode ser utilizado nos meses seguintes, mas não pode haver antecipação de cotas.
Além da divulgação, o “cotão” prevê, ainda, os gastos com passagens aéreas, alimentação, hospedagem, aluguel de carros, de embarcações e de aviões, telefonia, serviços postais, manutenção de escritórios de apoio nos estados, combustíveis, segurança privada e contratação de consultorias, pesquisas e trabalhos técnicos.
Deputado justifica uso das redes sociais
A assessoria de imprensa do deputado Nivaldo Albuquerque justificou o elevado gasto do seu gabinete com divulgação, especialmente em relação às redes sociais. “Tendência hoje, as redes sociais têm sido cada vez mais utilizadas no meio político justamente por aproximar mais o congressista do povo. O crescente descrédito da população com a classe política em geral, as falsas notícias amplamente alardeadas pela internet e a busca por informações em tempo real exigem essa contrapartida dos homens públicos”.
Segundo a nota da assessoria, “um bom desempenho parlamentar passa, necessariamente, pela transparência em suas ações e posições, pela prestação de contas do trabalho enquanto representante popular e pela interação com as pessoas”. O gabinete destacou, ainda, que o deputado assumiu o cargo em maio de 2016 e, “por estar em seu primeiro mandato parlamentar, são necessários investimentos para estruturação de uma área de comunicação – até então inexistente – apta a desenvolver ações pertinentes à divulgação do seu trabalho”.
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