Os deputados federais consumiram R$ 211 milhões em divulgação da atividade parlamentar – ou autopromação – no mandato de 2019 a 2022. Quarenta e cinco deputados gastaram mais de R$ 200 mil com divulgação no ano passado. Entre eles estão o atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, Paulo Pimenta (PT-RS), e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR). Jéssica Salles (MDB-AC) torrou R$ 453 mil em divulgação (86% da verba) só em 2022.
Jéssica investiu R$ 1,4 milhão em divulgação das suas atividades durante o seu mandato. Nas eleições de 2022, fez 20,5 mil votos e não conseguiu a reeleição, mas ficou como suplente, ficando na 9º posição. Ela gastou R$ 453 mil em divulgação em 2020 – 86% dos R$ 524 mil gastos com a cota para o exercício do mandato – o “Cotão”.
A deputada investiu na produção e distribuição de material de divulgação do seu mandato em rádios e sites do interior do estado. Em alguns casos, foram feitos pagamentos diretos a esses veículos. A partir de junho, a deputada suspendeu os gastos com divulgação, mas gastou R$ 106 mil em outubro e R$ 94 mil em novembro, quando pagou R$ 50 mil pela impressão de 25 mil informativos de divulgação do seu mandato.
A maior despesa custeada com o “Cotão” no ano passado – R$ 546 mil – foi feita pela deputada Joenia Wapichana (REDE-RR), atual presidente da Funai. O seu maior gasto foi com passagem aérea – R$ 128 mil. Ela gastou R$ 115 mil com aluguel de veículos – cerca de R$ 10 mil por mês. Os carros mais utilizados foram o Toyota SW4 e o Amarok.
O deputado Bilac Pinto (União-MG) torrou em divulgação do mandato R$ 360 mil dos R$ 433 mil pagos pelo “Cotão” – 83% do total. Ele pagou R$ 30 mensais para uma empresa que produzia materiais para divulgação das atividades parlamentares do deputado em redes sociais e num website. Não foi reeleito. Marx Beltrão (PP-AL) investiu em divulgação R$ 332 mil dos R$ 462 usados. Foi reeleito.
A gastança dos petistas
O deputado Paulo Pimenta, hoje ministro da Comunicação Social, investiu muito em divulgação do seu mandato pelas redes sociais, principalmente no Twitter e no Facebook. Mas, em outubro, retomou uma antiga prática dos parlamentares. Gastou R$ 38,8 mil com a impressão de 50 mil jornais informativos para divulgar o seu mandato parlamentar.
Um dos contratos de Pimenta previa serviço de divulgação “com a finalidade de tirar fotos e fazer vídeos do deputado com prefeitos, vereadores, etc, para o Facebook”. Em outro, a finalidade era tirar fotos do deputado com prefeitos, vereadores e secretários da Região Metropolitana de Porto Alegre. Questionado pelo blog se faz sentido utilizar dinheiro público com propaganda do próprio mandato, o ministro respondeu: “O recurso de divulgação de atividade parlamentar só pode ser utilizado para o mandato parlamentar”.
A deputada Gleisi gastou quase a metade da sua cota para o exercício do mandato com divulgação da atividade parlamentar. Foram R$ 244 mil com autopromoção para um total de R$ 446 mil gastos. Entre as suas despesas, estão R$ 45 mil para “publicidade no Facebook". O blog apurou que, entre os maiores partidos, o PT foi quem utilizou o maior percentual do “Cotão” com divulgação - 26% do total. Oito deputados do PT gastaram mais de R$ 200 mil com divulgação. Diante desses fatos, o blog perguntou se faz sentido utilizar dinheiro público com propaganda do próprio mandato.
A presidente do PT respondeu: “O uso da cota da Câmara dos Deputados para divulgação das atividades dos parlamentares é previsto pelo Ato da Mesa nº 43/2009, que instituiu a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar. O artigo 2ª, inciso XII prevê a divulgação da atividade parlamentar. Diante disso, investimentos com comunicação são prestação de contas do mandato, de emendas destinadas aos municípios e instituições do Estado e de projetos apresentados, sendo legítimos e legalmente ressarcidos pelo Legislativo”.
“Publicidade é inarredável”, diz Câmara
A Câmara proíbe a divulgação da atividade parlamentar no período de 120 dias anteriores à data das eleições. Mas informa que, de acordo com a Lei 9.504/97, que estabelece normas eleitorais, é possível a divulgação de atos de parlamentares e debates legislativos, desde que não se mencione a possível candidatura ou se faça pedido de votos ou de apoio eleitoral.
Segundo a Câmara, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adota entendimento que “privilegia o princípio da publicidade”, não incidindo penalidade em caso de veiculação de informativo no qual o parlamentar divulgue suas atividades legislativas nos quatro meses que antecedem às eleições.
O Ato da Mesa da Câmara 20/2012 reduziu de 180 dias para 120 dias anteriores às eleições o prazo em que fica limitada a divulgação do mandato. “Desse modo, simplifica-se sobremaneira a sistemática legislativa que atende às eleições, além de propiciar aos deputados a observação do princípio da publicidade. A vantagem maior dessa alteração é assegurar aos cidadãos contribuintes o conhecimento e acompanhamento de todos os atos públicos praticados pelos deputados. A publicidade de tais atos, conforme o próprio nome atesta, é inarredável ao Parlamento”, registra o Ato 40/2012.
Quem gastou mais com autopromoção
parlamentar | total (R$ mil) | divulgação (R$ mil) | percentual |
Jéssica Sales (MDB-AC) | 524 | 453 | 86% |
Bilac Pinto (União-MG) | 433 | 360 | 83% |
Marx Beltrão (PP-AL) | 462 | 332 | 72% |
Nelson Barbudo (PL-MT) | 475 | 325 | 68% |
Jaqueline Cassol (PP-RO) | 532 | 298 | 56% |
Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) | 519 | 292 | 56% |
Hélio Leite (União-PA) | 488 | 286 | 59% |
Gustavo Fruet (PDT-PR) | 464 | 280 | 61% |
Mara Rocha (MDB-AC) | 521 | 271 | 52% |
Ricardo da Karol (PDT-RJ) | 418 | 269 | 64% |
Pastor Gil (PL-MA) | 505 | 266 | 53% |
Carlos Bezerra (MDB-MT) | 298 | 262 | 88% |
Severino Pessoa (MDB-AL) | 481 | 254 | 53% |
Frei Anastacio Ribeiro (PT-PB | 504 | 251 | 50% |
Igor Kannário (União-BA) | 461 | 251 | 54% |
Vander Loubet (PT-MS) | 482 | 248 | 51% |
Beto Faro (PT-PA) | 493 | 248 | 50% |
Ruy Carneiro (PSC-PB) | 496 | 246 | 50% |
Eduardo Costa (PSD-PA) | 487 | 246 | 50% |
Chiquinho Brazão (União-RJ) | 429 | 246 | 57% |
Prof Dayane Pimentel (União-BA) | 471 | 244 | 52% |
Glaustin da Fokus (PSC-G) | 410 | 243 | 59% |
Aline Gurgel (Republicanos-AP) | 520 | 243 | 47% |
Haroldo Cathedral (PSD-RO) | 360 | 243 | 67% |
Silvia Cristina (PL-RO) | 495 | 242 | 49% |
João Maia (PL-RN) | 506 | 242 | 48% |
Nicoletti (União-RR) | 525 | 232 | 44% |
Efraim Filho (União-PB) | 442 | 227 | 51% |
Gleisi Hoffmann (PT-PR) | 466 | 223 | 48% |
Julian Lemos (União-PB) | 473 | 223 | 47% |
Paulo Teixeira (PT-SP) | 435 | 219 | 50% |
Josivaldo JP (PSD-MA) | 435 | 218 | 50% |
AJ Albuquerque (PP-CE) | 456 | 218 | 48% |
Paulo Pimenta (PT-RS) | 456 | 218 | 48% |
Hugo Motta (Rep-PB) | 487 | 217 | 45% |
Rubens Pereira Júnior (PT-MA) | 495 | 212 | 43% |
José Nelto (PP-GO) | 430 | 211 | 49% |
Cássio Andrade (PSB-PA) | 493 | 210 | 43% |
Expedito Netto (PSD-RO) | 510 | 208 | 41% |
Luiz Antônio Corrêa (PP-RJ) | 415 | 207 | 50% |
Daniel Almeida (PCdoB-BA) | 475 | 204 | 43% |
Alexandre Padilha (PT-SP) | 423 | 203 | 48% |
Euclydes Pettersen (PSC-MG) | 415 | 203 | 49% |
Jenecias Noronha (PL-CE) | 495 | 203 | 41% |
Coronel Tadeu (PL-SP) | 455 | 201 | 44% |
Maiores gastos totais | |||
parlamentar | valor (R$ mil) | ||
Joenia Wapichana (Rede-RR) | 550 | ||
Jesus Sérgio (PDT-AC) | 537 | ||
Jaqueline Cassol (PP-RO) | 530 | ||
Shéridan (PSDB-RR) | 528 | ||
Jéssica Sales (MDB-AC) | 524 | ||
Nicoletti (União-RR) | 523 | ||
Mara Rocha (MDB-AC) | 520 | ||
José Ricardo PT-AM) | 520 | ||
Heitor Freire (União-CE) | 517 | ||
Ottaci Nascimento (Solidariedade-RR) | 515 | ||
Leo de Brito (PT-AC) | 515 | ||
Professora Marcivania (PCdoB-AP) | 514 | ||
Edio Lopes (PL-RR) | 514 | ||
Aline Gurgel (Republicanos-AP) | 513 | ||
Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) | 513 | ||
Expedito Netto (PSD-RO) | 509 | ||
João Maia (PL-RN) | 506 | ||
Frei Anastacio Ribeiro (PT-PB) | 501 | ||
Fonte: Câmara dos deputados |
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