Em ato público em frente à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a ex-presidente Dilma Rousseff comparou a situação de Lula – “condenado sendo inocente”, segundo ela – à do presidente Michel Temer, personagem principal do escândalo da JBS no ano passado.
“O Lula está sendo perseguido sem perdão. Enquanto isso, outros, com gravações, com malas de dinheiro subindo e descendo, são protegidos, podem concorrer livremente e não estão submetidos à Justiça”, disse a ex-presidente em cima de um carro de som, nesta terça-feira (23). Ela relatou que a eletricidade da Assembleia havia sido cortada.
Dilma afirmou que não há “plano B” na disputa presidencial no caso de condenação do ex-presidente no TRF4 nesta quarta-feira (24). “Nós achamos que o Lula é inocente. Por isso, nós não temos plano B. Isso, quando se trata de um inocente, é covardia. Nós, mulheres desse país, já demonstramos que não somos covardes”, afirmou Dilma após o encerramento de um encontro de mulheres na Assembleia.
Leia também: Presença de Lula em Porto Alegre é um risco, mas ele não resistiu
A petista tentou demonstrar tecnicamente a inocência de Lula. “Não há nada que demonstre o que o presidente fez. Aliás, o juiz diz que não é preciso ter um ato. É o que ele pensa, mas não é o que diz a lei brasileira. O Lula antes tinha que ser destruído, agora tem que ser aniquilado da face da terra. E aí usam contra ele um processo de perseguição política”.
Seguiu-se, então, a exposição da sua tese: “A acusação não tem base. Para ter sentido a acusação, ele tinha que ter cometido o que chamam de ato de ofício e teria que ter uma vantagem em troca. O próprio juiz reconhece que a acusação está errada e disse que jamais disse que tinha algo a ver com contrato”.
“Ocorre que o tríplex não está no nome dele. Portanto, não é propriedade dele. Não está na posse dele porque ele nunca usufruiu do tríplex. Mas alguém pode dizer: há um laranja ocultando esse tríplex. Aí, a defesa mostrou para o juiz que esse tríplex estava registrado no nome da empresa OAS. E essa empresa tinha dado esse imóvel como garantia para uma operação financeira”.
Leia também: Dilma tem vida discreta na Tristeza, mas muda rotina para defender Lula
Dilma lembrou que uma juíza em Brasília “agora tirou da propriedade da construtora, executou o tríplex e deu para uma empresa. Isso é uma confusão danada. O Lula é condenado por um tríplex que uma juíza tirou de uma empresa e deu para outra. Se isso não é injustiça e perseguição política, nós não sabemos o que é”.
Depois, a ex-presidente fez um gesto de aproximação com o Judiciário: “Eu espero que o Judiciário desse país se resgate. Nós vivemos numa democracia. Numa democracia, se tem uma área de atuação que não pode se tornar suspeita diante da população é a Justiça. A Justiça tem que ser isenta, tem que ser cega, não pode condenar inocente. Resgatar não é apenas pelo companheiro Lula, é bom para todo o povo brasileiro. Se a Justiça é injusta num caso, quem garante que não será nos outros casos?”.
Em tempo, Temer foi alvo de duas denúncias criminais da Procuradoria-Geral da República por causa das denúncias do caso JBS. Ambas foram rejeitadas pela Câmara dos Deputados, a quem cabe autorizar ou não a abertura de ação penal contra um presidente da República em exercício, de acordo com a Constituição.
Leia também: Cinco pontos que Lula questiona na sentença de Moro – e o que diz a Lava Jato
As denúncias contra ele, porém, não foram arquivadas, estão apenas em banho-maria. Quando findar o seu mandato no Planalto, o que ocorrerá em dezembro deste ano, Temer poderá ser processado pelas mesmas denúncias barradas na Câmara. Resta saber em qual instância judicial.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS