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A construção do Pavilhão do do Brasil na Expo Dubai custou US$ 25 milhões à Apex
A construção do Pavilhão do do Brasil na Expo Dubai custou US$ 25 milhões à Apex| Foto: Alan Santos/PR

As viagens do presidente, diretores, gerentes e convidados da Apex-Brasil pelo mundo custaram R$ 2,8 milhões no ano passado. Só os deslocamentos dos convidados somaram R$ 1,2 milhão. Eram deputados, senadores e jornalistas. Dos R$ 8 milhões gastos com passagens, diárias e hospedagem, a metade foi investida na Expo Dubai, nos Emirados Árabes. A Apex investiu mais 25 milhões de dólares na construção do Pavilhão do Brasil na feira de negócios.

As 145 viagens para Dubai ao longo do ano custaram R$ 4,2 milhões. Considerando todas as viagens nacionais e internacionais, foram gastos R$ 2,7 milhões com diárias, R$ 2,6 milhões com hospedagens e R$ 2,5 milhões com passagens. Os 184 deslocamentos do presidente, diretores, gerentes e convidados consumiram R$ 3,15 milhões. Servidores da agência foram destacados para ciceronear deputados, ministros e auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) na Expo Dubai e em outras feiras mundo afora.

O ex-presidente Sérgio Segóvia foi exonerado quando estava em Dubai, em 27 de abril, nos preparativos iniciais para a apresentação brasileira na Expo Dubai. As despesas da viagem de 10 dias somaram R$ 43 mil, sendo R$ 22 mil em diárias. Ele já havia passado uma semana naquela cidade para participar da Feira de Alimentos e Bebidas do Oriente Médio, a Gulfood, com despesas de R$ 28 mil. Os 10 integrantes da comitiva gastaram R$ 304 mil.

Os maiores gastos de diretores e gerentes

O novo presidente, Augusto Pestana, diplomata, também estava na viagem em que aconteceu a demissão de Segóvia, mas na condição de diretor de Negócios da agência. Pestana retornou a Dubai em novembro para participar da Expo 2020 e acompanhar o presidente Jair Bolsonaro ao Bahrain. Esses deslocamentos custaram R$ 57 mil. A missão durou uma semana.

O diretor de Gestão Corporativa, Roberto Escoto, esteve com Pestana em Dubai, em novembro, e também acompanhou o presidente Bolsonaro no Bahrain. As despesas do diretor em 10 dias chegaram a R$ 55 mil, incluindo R$ 19 mil em diárias e R$ 23,7 mil com hotel. General de brigada da reserva, ele tem renda total de R$ 75 mil – R$ 29 mil como militar aposentado e R$ 46 mil como diretor da Apex. Contra-almirante da reserva, Segóvia tinha renda de R$ 76 mil, como mostrou reportagem do blog. A Apex é uma entidade de direito privado e não está submetida ao teto remuneratório. Mas é controlada pelo governo e mantida quase que exclusivamente por contribuições sociais.

Nas viagens nacionais e internacionais, a Apex paga a seus dirigentes e servidores despesas com passagem aérea, hospedagem e diárias, além de "outros serviços". Uma vez que há recursos destinados a hospedagem, o blog questionou quais despesas são pagas com as diárias. Não houve resposta.

O diretor de Negócios, Lucas Fiuza, também esteve na Semana do Brasil na Expo Dubai, em novembro, fazendo uma despesa de R$ 46 mil. A viagem para Nova York e para a abertura da Expo Dubai custou mais R$ 44 mil. Fiuza e Escoto estiveram juntos no evento OTC Houston (EUA), durante uma semana, em agosto. Escoto foi palestrantes. As despesas dos dois somaram R$ 68 mil. Também foram juntos para a Anuga, feira da indústria de alimentos e bebidas, em Colônia (Alemanha). A viagem de Escoto durou 11 dias. A de Fiuza, apenas três dias. Mais R$ 87 mil de despesas.

Cicerones de ministros do TCU

O gerente de Integridade, Marcelo Barreto, ligado diretamente à presidência da Apex, viajou a Dubai, de 26 de setembro a 5 de outubro, para acompanhar os trabalhos do representante da Presidência do TCU, durante a visita técnica institucional à Expo Dubai. A sua viagem custou R$ 32 mil. Foi acompanhado na missão pelo gerente de Aquisições e Contratos, Rafael Coelho, que acompanhou a visita do representante do tribunal e auditoria interna ao pavilhão do Brasil. Mais R$ 29,6 mil de despesas.

Em meados de novembro, Barreto voltou a Dubai para acompanhar a “visita institucional” de ministros do TCU à Expo Dubai, em particular ao Pavilhão do Brasil. No início daquele mês, o gerente Jurídico, João Marcos, ligado à presidência, foi enviado a Dubai para reuniões técnicas e para acompanhar os ministros do TCU Jorge Oliveira e Vital do Rego.

Como mostrou o blog, o TCU gastou mais R$ 530 mil com 12 deslocamentos para Dubai no ano passado, sendo quatro ministros e oito assessores. Apenas uma caravana, liderada pela presidente do tribunal, Ana Arraes, custou R$ 280 mil.

O coordenador de Auditoria Interna, Eduardo Kruger, esteve em Dubai, de 24 de setembro a 5 de outubro, para executar auditoria na Expo Dubai. Ficou registrado que “a opção do hotel foi pela localização (próximo ao metrô), indicações de colegas da Apex e por estar dentro dos limites de valor”. Sua viagem custou R$ 38 mil, sendo R$ 17 mil com hospedagem. A Apex afirmou ao blog que Kruger esteve em Dubai para "acompanhar os processos de auditoria da Expo, realizados em estrita observância com os procedimentos internos da Agência".

Parlamentares e jornalistas convidados

O senador Irajá (PSD-TO) esteve na Expo Dubai na primeira semana de dezembro, como convidado da Apex, para participar de atividades no Pavilhão do Brasil na feira. Suas despesas ficaram em R$ 22 mil. Os analistas da Apex Thiago Silva e Antônio Ferreira gastaram mais R$ 62 mil para acompanhar o senador na visita à feira. Reportagem do blog mostrou que a Câmara e o Senado gastaram mais R$ 210 mil com viagens de parlamentares a Dubai.

Irajá também foi convidado para a Anuga, feira comercial para a indústria de alimentos e bebidas, em Colônia (Alemanha), no início de outubro. Sua despesa chegou a R$ 27,5 mil. Foi uma viagem em família. A senadora Kátia Abreu (PP-TO), sua mãe, também foi convidada para o evento. A Apex enviou 13 funcionários para a feira, com uma despesa de R$ 490 mil. A viagem do gerente de Relações Institucionais e Governamentais, Tiago Vicente, durou 18 dias, com um custo de R$ 82 mil, sendo R$ 38 mil com hospedagem e R$ 21 mil com passagens.

Também foram convidados para o evento os deputados Aline Sleutjes (União-PR), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Sérgio Souza (MDB-PR), Evair Vieira de Melo (PP-ES), Hugo Nóbrega (Republicanos-PB) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL). A despesas com todos os convidados para a  Anuga chegou a R$ 239 mil, sendo R$ 153 mil com hospedagem. Marcos Pereira, Bulhões e Hugo Nóbrega estiveram também em Houston (EUA) como convidados da Apex. Sleutjes esteve no México.

A Apex registrou na prestação de contas que “a justificava para o convite aos parlamentares é mostrar o trabalho da Apex Brasil junto às feiras que apresentam oportunidades para a ampliação das exportações e eventuais investimentos no Brasil. O parlamentar complementará a divulgação do trabalho da Apex no exterior”.

Seis jornalistas da TV Record e da Agência Brasil estiveram em Dubai a convite da Apex, ao custo de R$ 97 mil. A agência afirmou que a “viagem de familiarização” levou os jornalistas para cobrir a abertura da Expo 2020 Dubai, a agenda do vice-presidente da República nos três primeiros dias de outubro em Dubai e também agendas de negócios.

No final de novembro, a agência levou nove jornalistas especializados em arquitetura para visitar o Pavilhão do Brasil na Expo Dubai. Mais uma despesa de R$ 103 mil. Oito jornalistas árabes foram trazidos de Dubai para Foz do Iguaçu (PR) para conhecer fábricas de empresas brasileiras participantes na Expo Dubai e conhecer o trabalho da Apex. A viagem custou R$ 107 mil.

“Exposições projetam imagem do país”

A Apex afirmou ao blog que, “em relação à viagem de convidados e colaboradores, essas e tantas outras atividades fazem parte do cotidiano de trabalho da agência, uma vez que uma das missões estratégicas da Apex Brasil é promover negócios brasileiros no exterior – seja em feiras internacionais, rodadas de negócios, entre outros eventos. Isso inclui construir agendas com parceiros em eventos organizados pela agência”.

O blog também questionou a Apex sobre o retorno dos investimentos feitos na Expo Dubai. A agência respondeu que “o balanço completo da Expo será divulgado oportunamente. Alguns dados de investimentos não podemos divulgar por força das cláusulas de confidencialidade com nossos parceiros privados. No entanto, podemos te adiantar que há indicações de que o retorno previsto do investimento feito pela Agência superará as expectativas iniciais”.

A agência acrescentou que presta contas à sociedade brasileira, “até por isso, ações como as de familiarização voltadas ao Legislativo, aos órgãos de controle e à imprensa nacional são fundamentais. Por fim, destacamos que as exposições universais têm forte componente de projeção de imagem do país no exterior e, por isso, viagens como as citadas por você fazem parte desta estratégia. A relação de parceria com os Emirados Árabes Unidos vai muito além da Expo, afinal nossa relação de negócios com eles é abrangente. No período da Expo, tivemos mais de 50 feiras e conferências realizadas em Dubai, num contexto de retomada pós-pandemia”.

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