A proximidade das eleições resultou no aumento dos gastos de alguns deputados com fretamento de aviões para visitas às suas bases. Questionado sobre o motivo das viagens, um deles, o deputado Mandetta (DEM-MS), foi bem objetivo: “visita aos eleitores da cidade”. O campeão de gastos com esse tipo de despesa no primeiro semestre deste ano foi o deputado Silas Câmara (PRB-AM): um total de R$ 107 mil. Em todo o ano passado, ele gastou R$ 84 mil com esses deslocamentos. Proporcionalmente ao número de meses, o aumento de despesas ficou em 153%.
Só um contrato fechado por Silas Câmara – para visita a 19 cidades do interior do Amazonas, numa aeronave Caravan – ficou em R$ 72 mil. Um segundo contrato, para o trecho Manaus/Rio Branco/Manaus, no mesmo avião, custou R$ 25 mil.
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O maior aumento em termos percentuais foi do deputado Alfredo Nascimento (PR-AM). Ele havia gasto apenas R$ 12 mil com visitas às bases eleitorais no ano passado. No primeiro semestre deste ano, as despesas ficaram em R$ 60 mil. Um aumento de 900%. Só em junho último, os contratos somaram R$ 38 mil. O voo para Lábrea – onde termina a Transamazônica – custou R$ 24 mil. As visitas, invariavelmente, visam divulgar a liberação de recursos federais para os municípios – fatos narrados nas redes sociais dos parlamentares.
Em 8 de junho, Nascimento anunciou em seu Facebook: “Hoje, estive em Lábrea participando do lançamento de diversos projetos de infraestrutura. Os investimentos totalizam 65 milhões de reais e vão beneficiar diretamente a população do município. O projeto de maior porte é a ponte sobre o Rio Mucuim, que liga Lábrea à Humaitá. Será uma ponte de concreto de 400 metros de extensão”.
Ele também anunciou a construção do porto de Lábrea e a ampliação do aeroporto. “Estamos juntos trabalhando para levar investimentos para o interior e melhorar a qualidade de vida dos amazonenses”, escreveu.
Os campeões de emendas
Valtenir Pereira (MDB-MT) não havia feito despesas com aviões no ano passado. Neste ano, já gastou R$ 54 mil. Questionado pela reportagem, destacou que “o Mato Grosso possui dimensões continentais” e que seus deslocamentos “referem-se exclusivamente a viagens a municípios distantes da capital”. Ele também se declara um campeão na liberação de emendas e diz que “realiza visitas in loco em todos os municípios para receber demandas, destravar projetos e buscar a solução dos problemas juntamente com a sua assessoria”.
Uma das cidades visitadas foi Nova Brasilândia, em 20 de abril. Cinco dias mais tarde, anunciou pelo Facebook a liberação de recursos para construção de pontes de concreto e de madeira no interior do município. “Tenho a honra de anunciar que o município beneficiado desta vez é Nova Brasilândia”, disse o deputado.
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Wladimir Costa (SD-PA) gastou R$ 77 mil no primeiro semestre deste ano. Em todo o ano passado, foram R$ 68 mil. Esteve em cidades paraenses como Capanema, Marabá e Breves distribuindo máquinas agrícolas, ambulâncias, lanchas e veículos. Tudo devidamente registrado nas redes sociais do parlamentar. Ele se apresenta como o recordista nacional em liberação de recursos de emendas parlamentares.
O deputado do bunker
O deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), investigado no Supremo Tribunal Federal e no Conselho de Ética da Câmara no caso das malas com R$ 51 milhões em dinheiro vivo escondidas em um apartamento de Salvador, havia gasto apenas R$ 5,1 mil no ano passado com fretamento de aeronaves. No primeiro semestre deste ano, as despesas subiram para R$ 51 mil – dez vezes mais. Ele fez um voo pouco usual entre os deputados, que geralmente se deslocam para o interior. Ele pagou R$ 35 mil por um voo de Salvador para Brasília.
Mandetta gastou R$ 20 mil neste semestre, contra R$ 23 mil em todo o ano passado. Ele esteve em Corumbá, Dourados e Alcinópolis. Nos três casos, apresentou a mesma justificativa para os voos: “a finalidade da viagem foi visita aos eleitores da cidade”. Sobre o aumento das despesas em ano eleitoral, disse que “deveu-se à elevação do preço dos combustíveis, que impactou no custo inclusive das passagens dos voos domésticos”.
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Pauderney Avelino (DEM-AM) aumentou de R$ 4 mil (no ano passado) para R$ 33 mil as despesas com aluguel de aviões. O seu gabinete justificou o aumento de gastos: “Prezando pela economia da verba pública, o deputado sempre tentou conciliar as agendas no interior do estado com outros parlamentares da bancada para baratear o fretamento de aeronaves, por isso o baixo custo de notas emitidas em anos anteriores”.
A sua assessoria acrescentou que, “como muitas emendas parlamentares foram pagas pelo governo federal neste ano de 2018, surge então a necessidade de visitar os municípios para divulgar o seu trabalho exercido no Congresso Nacional”.
Deputado mudou estratégia
Hélio Leite (DEM-PA) havia gasto R$ 43 mil no ano passado. Neste ano, em seis meses, a despesa já chegou a R$ 38 mil. Ele explicou a sua estratégia. Disse que, em 2017/2018, “houve expansão significativa das ações parlamentares para municípios de regiões distantes da capital paraense. Ao contrário do que ocorreu nos dois primeiros anos de mandato, quando as atividades estavam concentradas no nordeste do Pará, onde fica o domicilio do deputado, na cidade de Castanhal. Nesse sentido, o aumento de utilização de aeronave no primeiro semestre deste ano é compatível com a expansão das atividades do mandato parlamentar”.
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O deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) gastou R$ 57 mil neste semestre – contra R$ 53 mil no ano passado. Afirmou que “as viagens foram para atividades vinculadas ao exercício do meu mandato parlamentar”. Ele acrescentou que em alguns locais citados houve apenas o pouso da aeronave. O restante do trajeto foi feito de carro até Mortugaba, Cafarnaum e Ibipeba. Em Guanambi, o pouso foi para abastecimento da aeronave.
Os demais deputados citados na reportagem foram procurados, mas não quiseram se manifestar sobre os gastos com fretamento de aeronaves.
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