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Entre as 77 mil pensionistas “filhas solteiras” de servidores da União, há 72 centenárias – a mais idosa com 106 anos. As 10 maiores pensões nesse grupo já acumularam, em média, R$ 5 milhões nos últimos 25 anos. Sete mil delas têm mais de 80 anos. Nessa faixa etária, há também 70 irmãs solteiras, casadas ou viúvas. Há ainda sete netas solteiras com mais de 80 anos, uma delas chegando aos 90.
A filha solteira mais idosa é Maria do Rego Lima, com 106 anos, filha de uma agente postal que deixou a pensão em 1960 – hoje no valor de R$ 4,5 mil. Ela nasceu em 22 de junho de 1914. A sua mãe, Aurélia Pacheco Lima, nasceu em 1890. Outras três pensionistas têm 105 anos. Trinta e oito estão entre os 101 e 104 anos.
A pensão mais antiga é de Luiza Vasconcelos, de 100 anos, filha de um analista tributário da Receita Federal nascido em 1879. A pensão começou a ser paga em 1924 – há 96 anos, portanto. Filha casada, Luiza recebe o benefício pelo Montepio Civil, com renda mensal de R$ 16,3 mil. Já recebeu R$ 2,7 milhões líquido desde 1995.
No início, metade da pensão fica com a viúva do servidor e a outra metade é dividida entre os dependentes temporários – filhos, enteados, irmãos. Com o tempo, acabam ficando integralmente com as filhas maiores solteiras, que não têm limite de idade. A maior parte é beneficiada pela Lei 3.373/58, que criou a figura da “filha solteira”, maior de 21 anos. Ela só perde a pensão quando ocupa cargo público permanente ou quando casa.
O cálculo da renda acumulada foi feito com base nos dados levantados pela ONG Fiquem Sabendo – agência de dados independente especializada na Lei de Acesso à Informação (LAI) – a partir de informações oficiais de pensionistas da União divulgados pelo Ministério da Economia. Todas as pensionistas da União receberam um total de R$ 468 bilhões, em valores brutos, de 1995 até 2020. O líquido chegou a R$ 384 bilhões.
As pensionistas milionárias
As 10 maiores rendas acumuladas, em valores líquidos, são de pensionistas de auditores-fiscais da Receita Federal. Essas pensões são pagas pelo Montepio Civil – uma entidade de previdência privada criada pelo presidente Marechal Deodoro da Fonseca, em 1890, para beneficiar dependentes de servidores do Ministério da Fazenda. Depois, foi estendida a ministros, desembargadores e juízes.
A maior renda acumulada é de Emília Thiago, de 100 anos. Nos últimos 25 anos, ela juntou R$ 6,5 milhões. Tem hoje renda mensal bruta de R$ 27 mil – ou R$ 23,8 mil líquido. Hilda de Barros Salles, de 101 anos, com a mesma renda bruta, acumulou R$ 6,1 milhões.
Mas o Montepio também paga pensões para filhas viúvas ou mesmo casadas. Arminda Sá Stiebler, também com 101 anos, filha casada, acumulou um total de R$ 5,9 milhões. Adalgiza Rocha, de 104 anos, filha viúva, já faturou R$ 5,8 milhões. Na mesma condição, Aristea Cunha Boavista de 100 anos, recebeu R$ 5,7 milhões. (Veja lista completa abaixo)
Irmãs solteiras, viúvas, divorciadas
Também há pensionistas centenárias entre as “irmãs solteiras ou viúvas”. Maria de Lourdes do Espírito Santo, de 105 anos, recebe pensão de R$ 3,8 mil de acordo com a Lei 3373/58. Com a mesma idade, Anna Silva Bueno recebe pensão pelo Montepio Civil na condição de “irmã viúva”, com renda mensal de R$ 4,9 mil. Nilda Mesquita Rangel, de 100 anos, irmã solteira, tem renda um pouco maior – R$ 5,6 mil.
Mas a maior renda acumulada entre as irmãs solteiras é de Laura Brandão, de 99 anos. Ela recebe pensão de R$ 28 mil bruto, ou R$ 19 mil líquido, como irmã solteira de uma auditora da Receita Federal – o que resultou numa bolada de R$ 6 milhões em 25 anos. Mas ela conta ainda com uma pensão como filha solteira de um servidor do Ministério das Comunicações. Acumulou mais R$ 445 mil.
Com a mesma renda mensal, Antonietta Mendonça Lima, de 88 anos, acumulou R$ 6,2 milhões como irmã solteira de outro auditor da Receita Federal. Com 84 anos, Terezinha Meirelles Frota juntou R$ 2 milhões como “irmã viúva” de um auditor da Receita. Começou a receber a pensão só em 2012. As 111 irmãs solteiras, viúvas, divorciadas ou casada ainda custam R$ 6,9 milhões por mês aos cofres públicos.
Netas solteiras
Na categoria de “neta solteira”, a mais antiga é Maria Mendonça Cahet, de 94 anos, que recebe pensão de R$ 2,6 mil deixada por um carteiro. A maior renda é de Joselita Ramos Pereira, de 99 anos, dependente de um auditor da Receita – R$ 27 mil bruto atualmente. Ela acumulou R$ 4,4 milhões desde 1995, pagos pelo Montepio Civil.
Juntas, as 62 netas solteiras recebem atualmente R$ 3,4 milhões por ano. Desse total, R$ 2,5 milhões são pagos de acordo com as regras da Lei 3373/58. O restante é bancado pelo Montepio Civil, ou melhor, pela União, que assumiu mais essa conta. Ou seja, no final das contas, quem paga mesmo é o contribuinte.
As maiores rendas acumuladas
Fonte: Ministério da Economia