O ministro da Defesa e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica gastaram R$ 1,3 milhão com jatinhos em deslocamentos para visitas e cerimônias militares país afora, num ano de elevadas despesas no combate ao coronavírus. Isso representa 47% dos gastos com deslocamentos da cúpula das Forças Armadas. Teve formatura, entrega de espadas, passagens de comando, entrega de honrarias, inaugurações e festas de datas militares.
Foram 134 horas de voo no cumprimento das missões festivas, num total de 285 horas para todos os deslocamentos dos comandantes militares. Os maiores gastos foram feitos pelo comandante do Exército, o general Edson Pujol, num total de R$ 567 mil em 34 deslocamentos para visitas e cerimônias. As viagens festivas do comandante da Aeronáutica, Carlos Bermudez, custaram R$ 304 mil. O comandante da Marinha, Ilques Barbosa Júnior, gastou mais R$ 176 mil. As despesas do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, chegaram a R$ 245 mil.
Viagem de valor afetivo e festa do agronegócio
Ex-comandante militar do Sul, em Porto Alegre, o comandante do Exército deu atenção especial ao Rio Grande do Sul, para onde fez a metade das viagens festivas. Depois de prestigiar a passagem de Comando do Leste, no Rio de Janeiro, no dia 14 de agosto (sexta-feira), Pujol pegou o jatinho da Força Aérea Brasileira e rumou para Canoas (RS). Passou o final de semana em Porto Alegre, sem compromissos oficiais. Na segunda-feira, seguiu para Santa Maria. Dali, para Santiago, onde participou da inauguração do centro cirúrgico do hospital militar local e da passagem de comando da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada.
Uma viagem de caráter afetivo, por conta do contribuinte. Como general de brigada, ele comandou a 1ª Bda C Mec. Na quarta-feira, em Santa Maria, ainda presenciou a passagem de comando da Brigada de Infantaria e visitou Centro de Instrução de Blindados. Depois da festança, retornou a Brasília na aeronave da FAB. O trecho todo custou R$ 53 mil. Ele também usou jatinho no trecho Canoas/Passo Fundo, em março, para participar da Expodireto – a festa do agronegócio, em Carazinho.
Pujol esteve ainda na formatura da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro, na entrega de espadins na AMAN em Resende, na passagem de comando da AMAN e fez visitas ou prestigiou passagens de comandos militares em João Pessoa, Recife, Goiânia, São Paulo, Campo Grande e Manaus.
Mas o comandante do Exército foi ainda mais longe. Fez uma visita institucional ao Exército Americano, em Columbus, na Geórgia, de 6 a 16 de março. Não usou jatinho, mas recebeu R$ 47 mil em diárias e gastou R$ 19 mil com passagem aérea e outras despesas.
Viagens para o Rio no final de semana
O comandante da Marinha fez apenas 15 deslocamentos diretos para visitas ou cerimônias, mas participou de um maior número de festividades – cerca de 40. Isso aconteceu porque ele permaneceu muito tempo no Rio de Janeiro. Muitas vezes, viajava na quinta ou na sexta-feira, participava de reuniões internas ou de algum evento, passava o final de semana na cidade sem compromissos oficiais e retornava a Brasília no início da semana. Em outros períodos, passava até duas semanas direto no Rio, quando participava de muitas cerimônias.
Esteve na transmissão do Comando do Corpo de Fuzileiros Navais, no cerimonial à Bandeira, na imposição de medalha ao diretor-geral de Navegação, na cerimônia de juramento à Bandeira e entrega dos espadins na Escola Naval, no sobrevoo a unidades da Base Naval, na cerimônia do 104º Aniversário da Aviação Naval, na formatura do curso para promoção a sargento, na inauguração da Área Recreativa Timoneiro, nas cerimônia alusivas ao Dia Marítimo, ao Dia do Hidrógrafo e ao 198º Aniversário da Esquadra.
Em viagem a Belém, num único dia, visitou as instalações do Esquadrão de Helicópteros, as instalações do Comando do 4º Distrito Naval, os navios e embarcações atracados no Cais do Centro de Hidrografia e o Departamento das Voluntárias Cisne Branco, além de fazer sobrevoo ao Terminal Portuário de Outeiro. Participou ainda da formatura dos cadetes da Academia da Força, em Pirassununga; e dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende. Em São Paulo, esteve na cerimônia de Incorporação dos Alunos recém-matriculados no 6º ano do Colégio Militar de São Paulo, juntamente com o presidente Jair Bolsonaro.
Inauguração de alojamento e “Dia da Intendência”
O comandante da Aeronáutica fez 23 deslocamentos para visitas e cerimônias. Prestigiou a cerimônia de entrega de espadins aos cadetes da Academia de Força Aérea, em Pirassununga (SP); esteve na inauguração de radar em Corumbá (MS), acompanhando o presidente da República; na cerimônia alusiva ao dia da intendência, no Rio de Janeiro; recebeu a Primeira Ordem Millennium, em Anápolis (GO); participou da inauguração de alojamento do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos (SP).
O ministro da Defesa foi ao Rio no dia 8 de agosto para a cerimônia de Juramento à Bandeira e entrega de espadim, na Escola Naval. Entre os dias 12 e 15 daquele mês, participou de mais quatro cerimônias no Rio; uma por dia, sempre às 11h da manhã: a passagem de comando da 1ª Divisão de Exército, a cerimônia de despedida do general de exército Luiz Eduardo Ramos, a passagem de Comando do Comando Militar do Leste e a cerimônia de brevetação dos novos paraquedistas da Brigada de Infantaria Paraquedista.
No dia 15 de outubro, esteve na inauguração da Colina dos Precursores e encerramento do Simpósio dos Precursores Paraquedistas, no Rio de Janeiro. Dois dias depois, participou da entrega de espadim aos cadetes da Turma "Centenário da Missão Militar Francesa no Brasil – outra cerimônia que contou com a presente do presidente Bolsonaro.
Também esteve declaração de novos aspirantes a oficial da FAB, em Pirassununga; e na entrega das espadas aos novos aspirantes da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende. No dia 12 de dezembro, um sábado, participou da cerimônia de declaração de Guardas Marinha da Escola Naval e entrega de espadas, sempre ao lado de Bolsonaro.
“Formaturas são essenciais à formação militar”
O Ministério da Defesa foi questionado pelo blog sobre a importância e necessidade de gastos elevados com viagens para visitas e cerimônias militares, num período de muitas despesas extras geradas pelo combate à epidemia da Covid-19. Respondeu que essas cerimônias são essenciais para “adequada supervisão, coordenação e, principalmente, para o exercício da liderança militar. Nesse aspecto, estão incluídas as formaturas militares, reconhecidas em todo o mundo como essenciais à formação militar”.
A Defesa afirmou que, durante 2020, “ao contrário de muitas organizações, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas mantiveram em andamento suas atividades, uma vez que a defesa do país e a segurança das fronteiras marítima, terrestre e aérea, bem como o treinamento e o preparo, são obviamente essenciais e não podem ser interrompidas”.
“Na realidade, a atual pandemia intensificou ainda mais as ações envolvendo o MD e as Forças Armadas. A Operação Covid-19, de combate à pandemia, envolveu diariamente mais de 34 mil militares em todo o território nacional. A Operação Verde Brasil 2, de combate aos crimes ambientais na Amazônia, por outro lado, envolveu grande esforço em apoio às agencias ambientais, em uma área que representa metade do território nacional”, diz nota ao blog.
Todos esses fatores envolveram “enorme esforço” das Forças Armadas, acrescenta a nota, “sendo a presença constante dos comandantes, por meio de visitas, inspeções ou mesmo das cerimônias militares. Assim, é natural e fundamental que o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas façam o uso das aeronaves militares para acompanhar essas atividades, até mesmo por uma questão de celeridade e segurança”.
O blog também questionou se as viagens do comandante da Marinha para o Rio nos finais de semana estariam de acordo com a legislação. Sem citar o caso, a Defesa afirmou que os comandantes “participaram de eventos oficiais, obedecendo rigorosamente a legislação vigente. Em suma, a utilização dos voos da FAB ocorreu em serviço, para cumprir agendas oficiais de trabalho e estão em estrita conformidade com o Decreto nº 10.267/2020, que dispõe sobre o transporte aéreo de autoridades em aeronaves da Força Aérea Brasileira”.
O Comando do Exército afirmou que os deslocamentos do comandante do Exército com apoio da Força Aérea Brasileira “seguem estritamente a legislação vigente, de acordo com o Decreto nº 10.267. O Exército esclarece ainda que as viagens do comandante são submetidas a análise e planejamento criteriosos, estando previstas em calendário de eventos e com o orçamento destinado no ano anterior”.
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