Bolsonaro e Mourão gastaram R$ 2,7 milhões em viagens antes da Covid-19| Foto: Divulgação/VPR
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Até o dia 11 de março, quando foi declarada a pandemia da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro e o seu vice, Hamilton Mourão, já haviam gasto R$ 2,7 milhões com viagens pelo país e pelo mundo. Naquele ritmo, as despesas chegariam a R$ 13,8 milhões até o final do ano. Bem mais do que os dois gastaram no ano passado – R$ 9 milhões. Nos quatro meses seguintes, a conta ficou em R$ 198 mil. O ex-presidente Lula também cortou as viagens internacionais a partir 11 de março, quando já tinha visitado Roma, Paris, Genebra e Berlim.

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Considerando também as despesas feitas pelos ex-presidentes e familiares do presidente e do vice, o pagamento de diárias e passagens a servidores chegou a R$ 3,3 milhões até 11 de março. Os ex-presidentes, que têm as despesas de assessores e seguranças pagas pela Presidência da República, gastaram R$ 232 mil. A maior parte – R$ 217 mil – por conta de Lula, que visitou o Papa Francisco, no Vaticano, e fez um périplo pela Europa, recebendo honrarias e defendendo a sua inocência nos processos que resultaram na sua condenação e prisão.

A viagem mais cara de Lula foi para Paris, Genebra e Berlim, de 27 de fevereiro a 12 de março, num total de R$ 168 mil, sendo R$ 131 mil em diárias para assessores e seguranças. Os dois servidores que fizeram os maiores trechos receberam R$ 23 mil e R$ 26 mil em diárias. Lula também esteve no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Paulínia (SP), Sorocaba (SP) e Roma, onde sua equipe de apoio recebeu R$ 26 mil em diárias. O ex-presidente Michel Temer gastou só R$ 15 mil.

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De Resende a Washington, o roteiro da família

Os familiares de Bolsonaro, que também contam a mordomia de diárias e passagens de seguranças pagas pela Presidência, fizeram o inverso. As despesas estavam em R$ 60 mil até o dia 11 de março. Depois de declarada a pandemia, somaram R$ 81 mil. Parece que os familiares foram convencidos de que o coronavírus não passa de uma “pripezinha”.

Eles se deslocaram para o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Resende (RJ), Florianópolis, Porto Alegre, Goiânia, Guarujá (SP), Campinas (SP), Gramado (RS), Rondonópolis (MT), São José dos Pinhais (PR), Senador Canedo (GO) e até Washington. As passagens dos militares que fizeram a segurança de familiares de Bolsonaro na viagem à capital americana, de 7 a 16 de março custaram R$ 15,6 mil.

As cinco viagens para Resende custaram um total de R$ 22,5 mil, sendo R$ 17,6 mil em diárias. Na viagem para Rondonópolis, de 25 a 29 de maio, as despesas foram de R$ 21,6 mil, com R$ 19 mil gastos em passagens aéreas. No deslocamento a São José dos Pinhais, as passagens custaram R$ 14 mil, numa conta total de R$ 17 mil. Familiares de Mourão viajaram só para Araguari (MG) e Assunção, no Paraguai, gastando apenas R$ 5,6 mil.

A viagem da contaminação

A viagem mais cara de Bolsonaro foi para os Estados Unidos. Ele passou por quatro cidades da Flórida de 7 a 10 de março. Foi homenageado pelo presidente Donald Trump num jantar em Palm Beach, assinou acordos de pesquisa em Doral, teve encontro com empresários em Miami e visitou a fábrica da Embraer em Jacksonville.

O périplo custou R$ 458 mil, sendo R$ 280 mil em diárias. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu R$ 5,4 mil em diárias. O seu voo de carreira custou R$ 19,5 mil. Já a passagem do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, saiu por R$ 4,4 mil. Mas as suas diárias somaram R$ 9 mil.

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Então chefe da Secretaria Especial de Governo, Fábio Wajngarten pagou R$ 4,5 mil pela passagem aérea. Os registros da Presidência da República informam que ele viajou em voo comercial “por falta de vaga no voo da comitiva presidencial”. Foi o primeiro a testar positivo para coronavírus após o retorno. Quase a metade da comitiva foi contaminada.

Na viagem para Nova Delhi, na Índia, de 25 a 28 de janeiro, Bolsonaro visitou o monumento a Mahatma Gandhi, almoçou com o primeiro-ministro e teve banquete oferecido pelo presidente daquele país, Ram Kovind. O governo brasileiro afirmou ter fechado parcerias nas áreas de segurança cibernética, energia, saúde e previdência. A viagem custou R$ 346 mil, sendo R$ 206 mil em passagens.

Os registros da Presidência da República revelam também algumas pequenas mas saborosas mordomias. De 16 a 20 de março, por exemplo, dois oficiais superiores e um assistente técnico militar estiveram em Fernando de Noronha para fazer o levantamento inicial para a possibilidade de participação do presidente da República na "atividade privada" de 10 a 12 de abril, naquele arquipélago. Ou seja, da Sexta-feira Santa à Páscoa. Bolsonaro não acreditava na gravidade da epidemia e preparava um passeio a Noronha. A breve missão militar custou R$ 8,5 mil.

Mas Bolsonaro passou a Páscoa em Brasília. Na sexta-feira, 10, quando já estavam registradas 1.074 mortes e havia 20 mil casos confirmados de coronavírus, ele deixou o Palácio da Alvorada, pela manhã, parou numa padaria e tirou fotos com apoiadores, contrariando recomendações sanitárias, e soltou mais uma frase polêmica: "Ninguém vai tolher meu direito de ir e vir".

Todas as viagens do presidente neste ano, considerando apenas passagens e diárias para servidores, deixaram despesas de R$ 1,2 milhão. Até 11 de abril, já haviam sido gastos R$ 1,15.

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Deu PT na viagem do vice

Mas o roteiro mais dispendioso foi marcado pelo vice-presidente, em meados de março. O deslocamento do escalão avançado e de seguranças para Abuja, na Nigéria; e Acra, em Gana; custou R$ 593 mil, com R$ 382 mil gastos com passagens. Mas os governos daqueles países cancelaram as visitas porque começou a avançar a pandemia da Covid-19. A contaminação da comitiva brasileira em Miami também pode ser assustado os governantes africanos. Deu perda total nos investimentos com a viagem.

Mourão também esteve na inauguração da nova Base Brasileira na Antártica, em 15 de janeiro. Viajou de Punta Arenas, no Chile, para a estação Comandante Ferraz, num Hércules C-130 da FAB, num voo de três horas. Uma aventura. Bolsonaro estaria na cerimônia, mas enviou o vice porque teve problemas médicos e precisou de nova internação naquele período. A viagem custou R$ 127 mil.

A viagem efetivamente realizada mais cara de Mourão não foi para o exterior, mas sim para o Amazonas. No dia 17 de fevereiro, ele passou por Manaus, reuniu-se com governador Wilson Lima, fez aquela visita tradicional à Suframa e rumou para São Gabriel da Cachoeira. Lá, recebeu o título de “Cidadão de São Gabriel da Cachoeira”. Todo o trajeto custou R$ 305 mil, sendo R$ 240 mil em passagens para 43 integrantes da comitiva.

Ele recebeu a homenagem porque foi comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, naquele município. No ano passado, ele tentou receber a honraria. O deslocamento da sua equipe custou R$ 105 mil, mas ele teve que adiar o evento porque representou Bolsonaro na posse do presidente argentino, Arberto Fernández, em dezembro. Outra perda total.

Antes da pandemia chegar, Mourão visitou governadores da Região Norte para apresentar o Conselho da Amazônia, por ele presidido. Era uma tentativa de reaproximação porque os governadores não fazem parte desse conselho. Ele esteve em Rio Branco, Cuiabá, Marabá e outras cidades da região. O roteiro mais longo, embora breve, incluiu Belém, Macapá e São Luiz. Custou R$ 180 mil, com R$ 140 mil em passagens aéreas para a sua equipe de apoio.

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Até 11 de agosto, as viagens de Mourão custaram R$ 1,53 milhão. Nos primeiros seis meses do ano, as despesas somaram R$ 1,7 milhão. Nos últimos quatro meses, o vice-presidente tem participado de conferências virtuais com os ex-governadores.