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O presidente Lula inaugurou fábrica da Hemobrás em abril, mas a estatal ainda não produz hemoderivados nem recombinantes, utilizados no tratamento de hemofílicos. E a gastança com viagens só aumenta. Nos últimos sete anos, foram gastos R$ 10 milhões com viagens, sendo R$ 1,7 milhão em missões internacionais. Os técnicos estiveram em 24 cidades de 10 países, fazendo cursos, visitas institucionais e negociando acordos com fábricas europeias. Presidente da estatal por dois anos, Antônio Lucena gastou R$ 470 mil em 90 viagens. Na missão mais cara, seis técnicos gastaram R$ 266 mil com diárias e passagens.
Após a “inauguração” da fábrica em Goiana (PE), a Hemobrás esclareceu que foi inaugurada a fábrica de recombinantes, onde será produzido o Hemo-8R (Fator VIII Recombinante). Acrescentou que “a inauguração marcou a conclusão das obras civis. A produção do Hemo-8R 100% nacional deve ocorrer até o final de 2025”. Informou ainda que a fábrica de hemoderivados tinha previsão de ser inaugurada no mesmo ano”.
Em 3 de dezembro de 2024, a estatal publicou uma nota onde anuncia: “Hemobrás comemora 20 anos de criação”. Realmente, a estatal foi criada em 2004, no primeiro governo de Lula. Mas as obras tiveram início em 2011. Já em 2009, o TCU havia apontado irregularidades na licitação para as obras da planta industrial, como restrição à competitividade e preços acima do mercado. A licitação foi anulada e a construção sofreu dois anos de atraso.
Em 2015, o presidente da estatal, Rômulo Maciel, nomeado por Lula e reconduzido por Dilma Rousseff, chegou a ser preso na Operação Pulso, da Polícia Federal. Durante as buscas e apreensões em Recife, maços de dinheiro foram jogados do edifício onde morava Maciel, que foi afastado do cargo.
Inauguração sem data prevista
Nesta quinta-feira (02), a estatal disse que os dois projetos seguem os calendários previstos para 2025, com as fases de qualificação do Projeto Buriti em andamento e as obras do Projeto Betinho sendo finalizadas. Ainda não há previsão de data da inauguração da fábrica de hemoderivados.
A fábrica de recombinante teve início em 2021 e faz parte de uma parceria com a empresa Takeda (Japão), que envolve a construção da planta, a transferência da tecnologia e a produção do medicamento recombinante no período em que a Hemobrás ainda não dispõe da tecnologia para a fabricação 100% nacional. O investimento foi de R$ 1,2 bilhão. O investimento na fábrica de hemoderivados já está em R$ 1,4 bilhões, por conta do governo federal.
As viagens pela Europa
Antônio Lucena foi presidente da Hemobrás de abril de 2022 a março de 2024. Naquele período, fez 41 viagens no valor de R$ 290 mil. Em março de 2023, esteve por uma semana em Lubliana e Zurique (Suíça) para reuniões de trabalho do projeto hemoderivados, celebração de contrato de transferência de tecnologia e de visitas técnicas nos sites do laboratório parceiro. As passagens e diárias custaram R$ 40 mil.
Em novembro de 2024, viajou mais uma semana para visita técnica em Bruxelas (Bélgica) e reuniões na França. Mais R$ 34 mil em diárias e passagens. Em abril de 2024, viajou para Cuba para participar do Encontro Internacional de Hemoderivados em Havana, organizado por laboratórios cubanos.
A missão mais cara ocorreu em junho de 2024, seis funcionários foram para Lubliana para testes de aceitação em fábrica de três autoclaves de materiais e cinco lavadoras automáticas, concebidos e fornecidos pela empresa Belimed Life no escopo da transferência de tecnologia com o LFB (Laboratório Francês). As despesas com diárias e passagens chegaram a R$ 266 mil.
O gerente Caueh Jovino fez 19 viagens ao custo de R$ 151 mil. As suas quatro viagens internacionais custaram R$ 105 mil – todas a serviço. Ele esteve em Paris, Bruxelas, Zurique, Lubliana e Lile (França). Oswaldo Castilho, presidente da estatal em 2028 e 2019, gastou R$ 195 mil com 63 viagens, todas nacionais. Bruna Arruda, chefe de serviço, gastou R$ 105 mil em quatro viagens internacionais, para testes de aceitação e auditorias na Alemanha, Bélgica e França.
Os funcionários da Hemobrás estiveram na Eslovênia, Suíça, Suécia, Alemanha, Áustria, França, Bélgica, Dinamarca, Estados Unidos, Buenos Aires e Cuba. Dois servidores estiveram em Buenos Aires para treinamento nos métodos a serem transferidos pela empresa Takeda. Cinco servidores foram a Buenos Aires para apresentar o artigo sobre Desafios no Contexto da Administração Pública Federal no Brasil e na Indústria Farmacêutica, na Universidade de Belgrano.
O volume de viagens cresceu nos últimos anos. As despesas em estavam em R$ 1,5 milhão em 2019. Após uma queda expressiva durante a pandemia da Covid, em 2020 e 2021, chegou a R$ 2 milhões em 2022, R$ 2,57 milhões em 2023 e R$ 2,7 milhões em 2024. Os valores foram atualizados mês a mês pela inflação do período.
Hemobrás justifica viagens
A Hemobrás destacou que mantém dois contratos de transferência de tecnologia com o LFB (França) e a Takeda (Japão), “o que requer constantes viagens de empregados do setor produtivo para a realização de formações presenciais em plantas industriais dos nossos parceiros, localizadas no exterior”.
A estatal acrescentou que mantém o relacionamento com a Hemorrede, “o que exige constantes idas do nosso corpo funcional aos hemocentros e serviços de hemoterapia de todo o Brasil. Um trabalho fundamental para que a empresa tenha atingido, em 2024, o recorde de captação de plasma excedente”.
A Hemobrás afirmou ainda que seus gestores estão, frequentemente, em Brasília, para reuniões, cerimônias e encontros de trabalho com os demais componentes do governo, como o Ministério da Saúde, a Anvisa ou o Ministério de Gestão e Inovação. A sede da estatal está em Goiana (PE). Afora isso, funcionários de todos os setores da empresa participam constantemente de treinamentos e eventos em todo o país.
Sobre Antônio de Lucena, a estatal informou que, desde 2018, ele é diretor de Desenvolvimento Industrial e, durante esse período, também assumiu a Diretoria de Produtos Estratégicos e Inovação e a própria Presidência da Hemobrás, entre 2022 e 2024. “Portanto, além de se configurar um importante gestor da área produtiva da empresa, também cumpre missões institucionais, o que acarreta em um volume de compromissos que necessitam de viagens naturalmente maior que o de outros funcionários”.