Verbas indenizatórias extras pagas em junho levaram a renda de embaixadores do Brasil no exterior até R$ 166 mil – mais de cinco vezes o salário do presidente da República. É o caso do embaixador em Tóquio, Eduardo Paes Saboia. Nos meses anteriores neste ano, a sua remuneração média era de R$ 128 mil. As verbas extras, ou penduricalhos, não estão submetidas ao teto remuneratório dos servidores públicos (R$ 39,3 mil) nem sofrem desconto do imposto de renda porque são indenização de despesas.
Além das remunerações básica e eventuais, os embaixadores têm direito a indenizações como auxílio-moradia, auxílio-familiar, auxílio mudança, transporte e a indenização de representação no exterior (Irex), para cobrir despesas “inerentes a missão”. O auxílio-familiar é pago mensalmente para atender à manutenção e às despesas de educação e assistência de dependentes no exterior. Os benefícios contemplam todos os servidores civis e militares no exterior, mas os valores são bem mais elevados no caso dos embaixadores porque são calculados com base na sua remuneração.
Levantamento do blog, a partir de dados oficiais do governo federal, mostra que o valor médio das indenizações subiu de R$ 50 mil em maio para R$ 76 mil em junho – mês da última folha de pagamento disponível. Mas a publicidade desses dados é bastante limitada. O governo divulga apenas o valor total das indenizações. Não há informações sobre o valor de aluguéis de imóveis, despesas com familiares, mudanças, transporte nem da verba de representação. O pagamento da remuneração básica e das indenizações no exterior é feito em dólares. O blog fez a conversão para reais nos meses citados na reportagem.
O Ministério das Relações Exteriores afirmou ao blog que o aumento das indenizações foi resultado do pagamento do adiantamento de gratificação natalina – o 13º salário. O blog argumentou que essa gratificação não está incluída nas verbas indenizatórias. Após a publicação da reportagem, o Itamaraty acrescentou que a gratificação natalina "incide sobre todas as rubricas do contracheque, incluindo Irex. Por essa razão, no mês de junho, quando normalmente é paga a primeira parcela daquela gratificação, em todos os anos, observa-se aumento de 50% no dispêndio com a folha de pagamento, o que volta a ocorrer em dezembro, quando se paga a segunda e última parcela". Isso significa que o Ministério paga 13º sobre verbas indenizatórias.
Embaixadas e organismos internacionais
A segunda maior remuneração em junho foi paga ao embaixador brasileiro em Libreville (Gabão), Appio Muniz Acquarone Filho – R$ 164 mil. Em maio, ele havia recebido R$ 128 mil. Só as verbas indenizatórias de junho somaram R$ 106 mil. O chefe da embaixada do Brasil em Roma, Hélio Vitor Ramos Filho, teve renda total de R$ 153 mil em junho. No mês anterior, ele havia recebido um total de R$ 120 mil. As suas verbas indenizatórias chegaram a R$ 93 mil em junho.
O embaixador do Brasil na Suíça, Evandro de Sampaio Didonet, contou com a remuneração de R$ 150 mil em junho. Ele recebera R$ 119 mil em maio. Suas indenizações em junho chegaram a R$ 92 mil. O chefe da embaixada em Londres, Cláudio de Matos Arruda, teve remuneração de R$ 148 mil em junho, com indenizações de R$ 89 mil. O embaixador em Damasco (Síria), Fabio Vaz Pitaluga, teve renda de R$ 138 mil em junho e R$ 109 em maio.
O embaixador em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita, recebeu um total de R$ 137 mil em junho, sendo R$ 82 mil de verbas indenizatórias. Ele contou ainda com jetons da Itaipu Binacional num total de R$ 1,67 mil. Sua renda foi, então, para R$ 138,5 mil. Tovar da Silva Nunes, embaixador em Moscou, teve remuneração de R$ 133 mil em junho, com R$ 74 mil em indenizações.
Missões e delegações também pagam bem
Além do posto de embaixador, a chefia de missões, delegações e representações em organismos internacionais pelo mundo também rendem ótimos salários, com as mesmas indenizações. O chefe da Delegação Permanente junto à Unesco em Paris, Santiago Irazabal Mourão, teve remuneração de R$ 149 mil em junho, incluindo indenizações no valor de R$ 93 mil.
O chefe da Missão junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington, Fernando Simas Magalhães, teve renda total de R$ 142 mil em junho, com indenizações de R$ 86 mil. Chefe da Representação Brasileira junto à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em Roma, Fernando José Marroni de Abreu recebeu um total de R$ 137 mil em junho. O chefe da Missão junto às Nações Unidas em Nova York, João Genésio de Almeida Filho, teve remuneração de R$ 135 mil naquele mês.
Os altos salários não estão restritos a embaixadas na Europa, Ásia e Estados Unidos. O embaixador brasileiro em Maputo (Moçambique), Carlos Alfonso Iglesias Puente, recebeu R$ 126 mil em junho, com R$ 72 mil em verbas indenizatórias. Aqui pertinho, em Buenos Aires, o embaixador Sérgio França Danese teve remuneração total de R$ 117 mil. (veja abaixo a lista com as 20 maiores remunerações)
Penduricalhos variados
A indenização de representação (Irex) é destinada a compensar as despesas inerentes a missão “de forma compatível com suas responsabilidades e encargos”, diz a regulamentação. O valor é calculado com base em fatores como o grau de representatividade da missão, a hierarquia funcional, o custo de vida local e as condições de vida da sede no exterior, entre outros. O valor é calculado pela multiplicação do índice de representação, correspondente ao cargo, pelo fator de conversão da sede.
O chefe de missão diplomática tem o maior índice de representação (125). Depois vem ministro de 1ª classe (80). O fator de conversão da sede vai de 35,4 para Rivera (Uruguai) até 108,94 para Tóquio. Em Libreville, é de 93,66. Em Genebra, chega a 103,48. O fator de conversão explica a elevada remuneração dos embaixadores em Tóquio, Libreville e Genebra. O governo federal não informa o valor da Irex para cada um dos servidores no exterior.
O auxílio-familiar é calculado com base na Irex, na razão de 10% de seu valor para a esposa e 5% para cada um dos seguintes dependentes: filho menor de 21 anos ou estudante menor de 24 anos, filha solteira e mãe viúva que não recebam remuneração, enteados, adotivos, tutelados e curatelados nas mesmas condições. As regras valem para todos servidores civis e militares no exterior.
"Auxílio mudança" robusto
A ajuda de custo cobre as despesas de viagem, de mudança e da nova instalação no exterior. Tem o valor de duas vezes a remuneração básica e duas vezes o auxílio-familiar, acrescido de uma Irex. O transporte compreende a passagem e translado da bagagem do servidor e dos seus dependentes. O transporte é assegurado, ainda, para um empregado doméstico e, anualmente, no período mais longo de férias escolares, para que dependentes possam se reunir à família na sede no exterior.
Os limites de cubagem e de peso, para efeito da translação da bagagem estão fixados em tabelas. O embaixador em missão permanente tem direito a duas toneladas se não tiver dependentes e quatro toneladas com dependentes. O servidor tem direito ao acréscimo de 400 quilos por dependentes em missões permanentes, além do transporte terrestre ou marítimo de um automóvel de sua propriedade.
O auxílio-moradia é pago, a título de indenização, para custeio de locação de residência. É concedido na forma de ressarcimento por despesa comprovada pelo servidor. O valor dessas locações também não é informado no Portal da Transparência do governo federal. Tem ainda o auxílio-funeral, que pagas despesas com sepultamento ou cremação.
As diárias de embaixadores no exterior chegam a US$ 460 – ou R$ 2,6 mil atualmente – nos chamados países do primeiro mundo, como Estados Unidos, França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Japão.
O blog solicitou ao Ministério das Relações Exteriores esclarecimentos sobre o motivo da elevação do valor das indenizações no mês de junho deste ano. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.
As 25 maiores rendas
Embaixada ou representação | diplomata | maio | junho |
(R$ mil) | (R$ mil) | ||
Tóquio | Eduardo Paes Saboia | 128 | 166 |
Libreville (Gabão) | Appio Cláudio Munis Acquarone | 128 | 164 |
Roma | Hélio Vitor Ramos Filho | 120 | 153 |
Genebra (Suíça) | Evandro de Sampaio Didonet | 119 | 150 |
Delegação na Unesco em París | Santiago Irazabal Mourão | 117 | 149 |
Londres | Claudio Frederico de Matos Arruda | 117 | 148 |
Missão na OEA em Washington | Fernando Simas Magalhães | 113 | 142 |
Damasco (Síria) | Fabio Vaz Pitaluga | 109 | 138 |
Repr. Da FAO em Roma | Fernando José Marroni de Abreu | 110 | 137 |
Pequim | Paulo Estivallet de Mesquita | 108 | 137 |
Missão na ONU em Nova York | João Genésio de Almeida Filho | 105 | 135 |
Moscou | Tovar da Silva Nunes | 107 | 133 |
Lisboa | Carlos Alberto Simas Magalhães | 105 | 130 |
Berlim | Roberto Gomes de Mattos | 105 | 129 |
Abu Dhabi (Emirados Árabes) | Fernando Luís Lemos Igreja | 103 | 129 |
Riadi (Arábia Saudita) | Marcelo Souza Della Nina | 103 | 129 |
Tel Aviv (Israel) | Paulo Cesar Meira de Vasconcellos | 103 | 127 |
Maputo (Moçambique) | Carlos Alfonso Iglesias Puente | 101 | 126 |
Ottawa | Pedro Henrique Lopes Borio | 101 | 124 |
Pretória (África do Sul) | Nedilson Ricardo Jorge | 98 | 121 |
Madri | Pompeu Andreucci Neto | 98 | 121 |
Buenos Aires | Sérgio França Danese | 95 | 117 |
Washington | Nestor José Forster Junior | 96 | 112 |
Repr. Organ. Intern. Londres | Marco Farani | 91 | 112 |
Nova Delhi (Índia) | André Aranha Corrêa do Lago | 91 | 111 |
Paris | Carlos Márcio Bicalho Cozendey | 87 | 107 |
Fonte: Portal da Transparência da Presidência e Itamaraty |
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