Marcelo Camargo/Agência Brasil| Foto:

Nesta semana haverá na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara uma daquelas sessões de faz de conta. Os deputados passarão cerca de 40 horas apresentando argumentos contra e a favor da abertura de processo contra o presidente Michel Temer no Supremo Tribunal Federal. Alguns descerão às minúcias, às filigranas, como se alguém ali estivesse interessado no aspecto meramente jurídico. O que estará em discussão, na verdade, é se Temer tem ou não condições políticas de se manter no cargo.

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Muitos vêm se declarando indecisos ou simplesmente não anunciam o voto. O andar da carruagem vai definir em quem eles votarão. Nessas horas, no Congresso, a lei da manada funciona com precisão. Para o lado que vai um, segue um pequeno grupo. Atrás desse grupo vai a tropa toda.

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Aconteceu assim no impeachment de Dilma Rousseff. O ex-ministro José Eduardo Cardozo gastou dezenas, talvez centenas de horas, com as tais filigranas jurídicas para dizer que as “pedaladas fiscais” não eram motivo para afastar a presidente. Mas ela não caiu por isso, embora esse também tenha sido um grave erro – ela maquiou o Orçamento da União para se beneficiar eleitoralmente. Dilma caiu porque o seu governo fracassou política e economicamente. A inflação e o dólar estavam sem controle, reflexos da crise de credibilidade da sua administração. Também é bom lembrar que o impeachment de Collor foi aberto com base legal na compra de um Fiat Elba. O “senhor mercado” não desejava mais nem Dilma nem Collor, como agora cansou de Temer.

Ele escapou no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral não porque os argumentos da sua defesa foram eficientes, ou as provas insuficientes. As provas eram robustas contra Dilma, e a chapa era indivisível. Escapou porque tinha maioria no plenário antes do início da sessão. Tiveram que absolver Dilma para livrar Temer.

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A luta real não será na tribuna da CCJ, nos discursos enfadonhos, alguns até bem embasados, ou simplesmente emocionados. Muitos deles serão reproduzidos depois em campanhas eleitorais. A batalha mais sangrenta, mais suja, será nos bastidores, no toma lá dá cá de cargos e verbas federais, no troca-troca de integrantes da CCJ. Os representantes das grandes corporações ajudaram a tropa de Temer na reta final do afastamento de Dilma. Talvez também compareçam nessa hora decisiva com seus jatinhos e agrados.

A economia parece sob controle, com indicadores econômicos positivos, apesar do desemprego, que não cede. Mas está muito claro que, se Temer for afastado para ser julgado pelo Supremo, Rodrigo Maia manterá Henrique Meirelles e a sua equipe. Já afirmou isso a tucanos em conversas, muito reservadas, sobre o dia seguinte ao afastamento do presidente.

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Temer vai cair porque ele e a sua equipe perderam a credibilidade. Popularidade ele nunca teve. Se não for agora, poderá ser na próxima delação, seja ela de Lúcio Funaro, de Eduardo Cunha, de Palocci. O mundo político, não apenas Temer, está no meio de um lamaçal interminável.