A pergunta é feita por eleitores dos dois políticos que protagonizam a pré-campanha presidencial de 2022. Dados oficiais de Presidência da República mostram que o campeão de gastos foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com média anual de R$ 7,7 milhões, de 2005 a 2010. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está na segunda colocação, ao lado de Dilma Rousseff (PT), com média de R$ 5,2 milhões. A viagem mais cara também foi de Lula – no valor de R$ 1,5 milhão.
Maior liderança do PT, Lula fez 939 viagens pelo país em seis anos, numa média de 159 por ano, gastando um total de R$ 46,3 milhões. Os dados estão disponíveis a partir de janeiro de 2005. Bolsonaro fez 208 viagens nos dois primeiros anos de governo – média de 104 por ano. As despesas somaram R$ 10,4 milhões. Dilma gastou R$ 26 milhões nas 632 viagens em cinco anos completos de mandato, até 2015 – média de 126.
A comparação das despesas de viagens do atual presidente da República com os ex-presidentes foi feita a partir de planilhas elaboradas com os mesmos parâmetros, considerando apenas viagens nacionais e sem os custos com diárias – critérios utilizados nos gastos dos ex-presidentes Lula, Dilma e Michel Temer. As informações foram apuradas e disponibilizadas pelo Gabinete Pessoal do Presidente da República, atendendo a pedido feito com base na Lei de Acesso à Informação.
A Presidência informou apenas a cidade visitada, a data e o valor nominal de cada viagem. O blog atualizou os valores pela inflação, mês a mês, e identificou o motivo das viagens de Lula e de Bolsonaro, numa apuração de 15 dias. Foram 1.835 viagens no valor total de R$ 85 milhões. Não foram computados os dados de 2016, parte deles de Dilma, parte de Temer e parte com Dilma afastada e Temer como interino, durante o processo de impeachment da presidente.
A viagem milionária
A viagem mais cara dos últimos 16 anos bancou a presença do então presidente Lula na Reunião da Cúpula do Mercosul e da Comunidade dos Países da América Latina e do Caribe, realizada em resort na Costa do Sauípe (BA). Reunião extraordinária formalizou a entrada de Cuba no Grupo do Rio. Lula saudou o "retorno" de Cuba e disse que a decisão foi consequência das mudanças políticas e ideológicas vividas pela América Latina.
Os representantes dos 33 países reunidos pediram o fim das sanções econômicas impostas a Cuba desde 1962. O presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu que os líderes latino-americanos expulsassem os embaixadores americanos de seus países até que os Estados Unidos suspendessem o embargo.
O deslocamento do presidente Lula e de assessores e seguranças integrantes dos escalões avançados e da comitiva presidencial, no período de 11 a 17 de dezembro de 2008, custou R$ 793 mil. Em valores atualizados, R$ 1,53 milhão.
Viagem para casa nos finais de semana
Lula fez 121 voos para São Paulo, capital, em seis anos, com um gasto de R$ 5,9 milhões. Mas a maior despesa foi com os 111 voos para o Rio de Janeiro – R$ 8,4 milhões. Também se destacam os 104 voos para São Bernardo do Campo (SP), no valor total de R$ 4,2 milhões. Na maioria das vezes, o presidente apenas descansava no seu apartamento, na companhia da primeira dama, Marisa Letícia, e de outros familiares.
O presidente da República pode viajar para casa em aviões oficiais nos finais de semana, como também podem o vice-presidente da República, os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Enfim, a mordomia está liberada para todos.
Mas o então presidente também viajou a São Bernardo para vários compromissos políticos, como reuniões com a direção e com lideranças do PT, participação em comícios, atos públicos ou apenas para votar nas eleições. Esteve no evento organizado por seis organizações sindicais, em 10 de abril de 2010, para contrapor a pré-candidata de Dilma ao lançamento da candidatura de José Serra (PSDB). Lula também esteve no comício do candidato do PT a prefeito, Luiz Marinho, em 2008; e discursou no evento para lembrar os 30 anos da sua posse como presidentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 2005.
Nas visitas a São Bernardo, Lula inaugurou duas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), inaugurou um bloco do campus da Universidade do ABC e o Espaço Cidade dos Direitos da Criança e do Adolescente. Mas não faltou atenção ao empresariado. Teve reunião com a diretoria da Volkswagen, visitou a fábrica de caminhões da Mercedes Benz, participou de jantar reservado na Rolls-Royce, esteve no 50º aniversário da Scania e na cerimônia de lançamento do novo Gol.
Na estreia da TV dos Trabalhadores (TVT), em agosto de 2010, o discurso de Lula lembrou a briga atual de Bolsonaro com a imprensa: “Se nós temos uma TV hoje, é porque nós queremos ter qualidade e informar o povo com mais isenção do que até agora ele está sendo informado”, disse Lula. A diferença é que Bolsonaro usou as redes sociais para se contrapor à imprensa.
Lula e Bolsonaro gostam de férias e folgas em locais paradisíacos
Num ponto, Lula e Bolsonaro têm a mesma preferência: lugar bom para passar férias por conta do contribuinte é o Forte dos Andradas, no Guarujá. Lula esteve lá por pelo menos quatro vezes. No Carnaval de 2008, Lula e Marisa Letícia passaram nove dias no Forte, gerando despesas de R$ 305 mil aos cofres públicos. Eles já haviam estado por lá no Carnaval de 2007. Em janeiro daquele ano, também passaram 10 dias de férias no Forte. Mais um gasto de R$ 260 mil. Em janeiro de 2010, voltaram para mais cinco dias de folga. Os quatro passeios custaram R$ 846 mil.
Nesse item, Bolsonaro foi mais exagerado. Em 2020, gastou R$ 1,6 milhão com folgas no Guarujá, já excluídas as diárias de assessores e seguranças. Só a viagem de férias em dezembro ficou por R$ 714 mil. Naquele mês, a segunda onda da Covid-19 já havia começado e o Brasil ainda não havia comprado vacinas. Mas o presidente dizia que a epidemia estava “no finalzinho” e decidiu tirar férias. Computando as diárias, o gasto de Bolsonaro em 2020 foi de R$ 11,4 milhões. O valor com diárias não está disponível para os ex-presidentes.
Mas Lula dividia o seu tempo de férias entre o Guarujá e a Base Naval de Aratu, no município de Salvador. Em janeiro de 2006, passou cinco dias na praia reservada da Marinha. Em novembro daquele ano, após quase quatro meses de campanha eleitoral, o presidente foi descansar em Aratu. Em janeiro de 2009, mais uma semana de férias na base naval, acompanhado de Marisa Letícia e mais 12 pessoas. Voltou no ano seguinte com a família. Foi flagrado na praia carregando uma caixa de isopor na cabeça, no estilo farofeiro.
As quatro folgas custaram R$ 480 mil. No Carnaval de 2006 esteve ainda na Restinga de Marambaia, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde pescou corvinas e bagres na baía de Sepetiba. A área é controlada pelo Exército e Marinha.
Maiores despesas de Lula
O ano com a maior despesa para Lula foi 2005 – R$ 9,5 milhões com 114 viagens. O custo médio chegou a R$ 83 mil. A viagem para a abertura do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, custou R$ 349 mil. A inauguração da nova unidade da LG Electronics, em Taubaté, deixou despesas de R$ 233 mil. Em 2009, ele prestigiou o Fórum Social Mundial, em Belém. Mais R$ 424 mil.
Lula também gastou com viagens para inaugurações e visitas a obras, como a cerimônia de lançamento ao mar do navio Sérgio Buarque de Holanda, em Niterói-RJ (R$ 290 mil); o lançamento da pedra fundamental da nova sede da UNE e da UBES, no Rio de Janeiro (R$ 240 mil); o lançamento da pedra fundamental do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (R$ 215 mil); a assinatura de ordem de início das obras do PAC na comunidade da Rocinha, no Rio (R$ 200 mil); e a entrega de unidades habitacionais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em Manguinhos, Rio (R$ 190 mil).
O Complexo Petroquímico (Comperj), que teve a pedra fundamental lançada em 14 de junho de 2006, está inacabado até hoje – passados 15 anos –, como mostrou reportagem do blog. Quando a primeira etapa da refinaria estava com execução de 85%, num contrato de R$ 30 bilhões, a Petrobrás decidiu reformular totalmente o projeto. Em dezembro de 2019, concluiu que a finalização de refinaria não teria atratividade econômica. Está agora construindo uma unidade de processamento de gás natural e um gasoduto.
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