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As fabulosas viagens dos militares pelo mundo com dinheiro público
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O Ministério da Defesa enviou 516 representantes para os Jogos Mundiais Militares de 2019, em Wuhan, na China, a um custo de R$ 5,2 milhões – bem mais do que todas as viagens internacionais do presidente Jair Bolsonaro naquele ano. Mas houve tempos de maior fartura. Em 2015, no governo Dilma Rousseff, as despesas dos 404 militares enviados para os Jogos Mundiais da Coréia chegaram a R$ 9,4 milhões – R$ 11,7 milhões em valores atualizados.

Em 2019, já no governo Jair Bolsonaro, a Defesa foi o ministério que mais gastou com diárias e passagens em viagens internacionais, que totalizaram R$ 148 milhões. Só os militares gastaram R$ 33 milhões com esses deslocamentos – mais do que os R$ 22 milhões gastos pelo Ministério das Relações Exteriores.

A gastança aconteceu nos três governos dos últimos cinco anos – período de elevado déficit fiscal, em que o governo federal gasta mais do que arrecada. Em 2018, no governo Michel Temer, 110 militares brasileiros participaram do Panamax, na Flórida (EUA). O exercício multinacional criou um cenário fictício pela ameaça de ataques de uma organização extremista que afetaria o Canal do Panamá. Mais R$ 2 milhões milhão na conta do contribuinte, em valores atualizados. As fabulosas viagens dos militares pelo mundo incluíram o Mundial de Triatlo na Ilha Cozumel, em Cancún, em 2015, e o Campeonato Mundial de Orientação, em Helsinki/Finlândia, em 2017. Teve campeonatos de esgrima, tiro, tiro com arco e patrulha de cadetes.

Estudos em Paris, feira do livro, "viagem prêmio"

Mas houve também tempo para estudos e para a cultura. O Curso de Altos Estudos Política e Estratégia, para 69 militares, em Paris e Lisboa, em 2017, ao custo de R$ 706 mil. O mesmo curso estendeu-se por Brasília, Manaus e São José dos Campos, com mais R$ 271 mil de despesas.

Dois oficiais superiores foram ao México para participar da Feira do Livro de Guadalajara, durante 15 dias, em dezembro de 2019. Cada um recebeu R$ 17,5 mil de diárias. Com as passagens, a conta fechou em R$ 50 mil. Mais dois militares estiveram na Feira do Livro de Frankfurt/Alemanha, durante nove dias em outubro. Teve também "Viagem Prêmio" aos primeiros colocados no curso de Formação de Sargentos de 2018. Dezesseis sargentos passaram de oito a dez dias em Assunção/Paraguai, em dezembro de 2019. Cada um recebeu R$ 5 mil em diárias, num total de R$ 82 mil.

Os militares também valorizam muito as “passagens de comando”. As 660 viagens para participar desses eventos em 2019 custaram R$ 744 mil. Uma das cerimônias foi em San Antonio, no Texas (EUA), para a passagem de comando do Exército Sul, de 12 a 21 de julho. Mas a maioria das viagens – 167 – foi para o Rio de Janeiro, ao custo de R$ 303 mil. Também foram prestigiadas cerimônias em batalhões de Cabrobó (PE) e Caicó (RN), além do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo em Fernando de Noronha (PE).

Generais e ministro na China

A viagem para os Jogos Mundiais Militares na China, de 18 a 27 de outubro de 2019, contou com a presença de seis generais, ao custo de R$ 140 mil – a metade com diárias. O general de exército Manoel Narvaz Pafiadache recebeu diárias no valor de R$ 21 mil. Também participou do evento o ministro da Cidadania, Osmar Terra. A maior parte da equipe brasileira era de sargentos (268). Havia também 54 oficiais superiores. A maior despesa foi com passagens (R$ 4,7 milhões), no valor médio de R$ 9 mil. O Brasil ficou na terceira colocação nos Jogos Mundiais.

Nos Jogos de Incheon, na Coréia, em 2015, no início de outubro de 2015, os maiores gastos foram com diárias, num total de R$ 7,7 milhões e média de R$ 19 mil por militar. As diárias mais elevadas foram pagas ao major-brigadeiro (equivalente a general de divisão), Carlos Augusto Amaral Oliveira, num total de R$ 35 mil. As passagens custaram mais R$ 3,9 milhões. Todos os valores pagos em 2015 foram atualizados pela inflação.

O exercício multinacional Panamax 2018 estendeu-se por oito cidades norte-americanas, além da Cidade do Panamá, no início de agosto de 2018. A maior parte das despesas foi com diárias de 110 militares, num total de R$ 1,4 milhões. Trinta e quatro delas ficaram acima de R$ 20 mil. O general de brigada Mariano Valdoni Éder recebeu R$ 40 mil. Mais R$ 620 mil foram gastos com passagens. Todos os valores foram corrigidos.

Patrulhas, triatlo, tiro, esgrima...

A Competição Internacional de Patrulhas de Cadetes Chimaltlalli, na Cidade do México, em 2019, teve a participação de 13 militares brasileiros e custou R$ 246 mil, sendo R$ 145 mil com diárias – R$ 11 mil para cada participante. As equipes realizaram atividades como marcha de 22 km, transposição de campo de minas simulado, tiro de fuzil e pistola com estresse, rapel, salto plataforma e tirolesa.

O Campeonato Mundial de Vôlei Masculino e Feminino, em Edmonton/Canadá, em 2018, com 33 atletas, custou de R$ 350 mil. O Mundial de Natação, em Samara/Rússia, em 2018, saiu por R$ 231 mil. Com 23 atletas, o Campeonato Mundial de Futebol Feminino, em El Paso/Texas, em 2018, teve despesas de R$ 158 mil. Campeonato Mundial de Triatlo, em Hanover, em 2017, custou R$ 96 mil.

A Competição de Habilidades Militares, em Newark/New Jersey, em 2019, custou R$ 210 mil. O Campeonato Mundial Militar de Orientação, em Helsinki/Finlândia, em 2017, teve gastos de R$ 136 mil. A Copa do Mundo de Tiro, em Munique, em 2018, deixou despesas de R$ 192 mil. Teve ainda do Campeonato Mundial de Wrestling, em Moscou, 2018, ao custo de R$ 116 mi e o Campeonato de Esgrima, em Nancy, em 2018, com despesas de R$ 100 mil.

Dois oficiais superiores foram ao México para participar da Feira do Livro de Guadalajara, durante 15 dias, em dezembro de 2019. Cada um recebeu R$ 17,5 mil de diárias. Com as passagens, a conta fechou em R$ 50 mil.

"Preparação para a defesa do país"

O blog questionou o Ministério da Defesa se, num período em que o país enfrenta um déficit fiscal crescente (desde 2015), não seria um exagero o envio de cerca de 400 a 500 militares aos Jogos Mundiais Militares, assim como a participação em dezenas de outros eventos esportivos militares em vários continentes. Solicitou, ainda, esclarecimentos sobre aplicação, no país, de informações assimiladas em exercícios como o Panamax 2018.

O Ministério da Defesa respondeu em nota aos questionamentos feitos pelo blog. “Todas as viagens mencionadas foram aprovadas pelas autoridades competentes e tiveram adequada previsão orçamentária. Viagens internacionais realizadas por integrantes das Forças Armadas, para a realização de intercâmbios, cursos, treinamentos, operações e eventos, constituem parcela fundamental da preparação para a defesa do País. Tais viagens permitem travar contato direto com diferentes tecnologias e doutrinas militares, além de contribuir para o estreitamento de laços entre as nações, em uma atividade que a maior parte dos países do mundo pratica, chamada diplomacia de defesa”.

Sobre a Operação Panamax, a Defesa afirmou que “é o maior treinamento militar do tipo. Por sua importância, além do Brasil, participam do treinamento dezenas de países.  O tema da Operação tem importância fundamental para o Brasil, uma vez que 95% do nosso comércio ocorre por via marítima. Além disso, a participação em um treinamento desse porte e complexidade representa uma oportunidade ímpar de treinamento e aprimoramento técnico e profissional. O exercício tem sido centrado nas 'novas ameaças', tais como terrorismo, pandemia, pirataria, crimes transnacionais e desastres ambientais, cuja descrição e abordagem é esmiuçada na Estratégia Nacional de Defesa”.

A nota acrescenta que “as atividades de planejamento e emprego das Forças Armadas propiciam o aprimoramento das capacidades de interoperabilidade das organizações militares.  É por meio da realização de exercícios militares que as Forças Armadas brasileiras avaliam e aprimoram sua capacidade de resposta a situações adversas”.

Com relação às atividades esportivas mencionadas, a Defesa afirmou que “todo o planejamento consta em planos plurianuais, baseados em diretrizes, objetivos e metas. As ações que deram suporte ao desenvolvimento do desporto militar estão previstas em leis orçamentárias aprovadas pelo Congresso Nacional”.

O Ministério afirmou ainda que o Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR), do Ministério Defesa, “que incorpora atletas com grande potencial às Forças Armadas, já existe desde 2008, sendo uma política de Estado, que já passou por diversos governos, e visa contribuir para a transformação do Brasil em potência olímpica. Os atletas militares foram responsáveis por 68% das medalhas nos Jogos Olímpicos Rio 2016, por exemplo. Os Jogos Mundiais Militares fazem parte do calendário de preparação para os Jogos Olímpicos”.

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