A Empresa de Planejamento e Logística (EPL) foi criada pelo governo federal para elaborar os estudos do trem-bala Rio-São Paulo – um projeto faraônico dos governos petistas avaliado em R$ 64 bilhões (em valores atualizados). O projeto fracassou. Mas a estatal continua firme e forte. Tem hoje 139 empregados, orçamento anual de R$ 73 milhões e já consumiu R$ 460 milhões desde a sua criação em 2012, na gestão Dilma Rousseff.
Esse é apenas um dos exemplos de estatais deficitárias e inchadas que estão na mira do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Outro é a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que tem orçamento de R$ 723 milhões para este ano. As duas estatais são supervisionadas pela Presidência da República.
A EBC vai gastar R$ 398 milhões só com a folha de pagamento, mais encargos sociais, dos seus 2.282 servidores – todos celetistas, passíveis de demissão. O salário médio dos jornalistas é de R$ 6 mil, com teto de R$ 15 mil. A EBC conta ainda com a colaboração de 165 servidores estatutários oriundos da antiga Fundação Roquette Pinto. Nos últimos dez anos, a estatal consumiu R$ 6,5 bilhões.
LEIA TAMBÉM: CGU aponta tráfico de influência e diz que ministro da Saúde de Bolsonaro recebeu ‘vantagens indevidas’
Para a despesa com comunicação e transmissão de atos do governo federal em 2018 foram previstos R$ 30 milhões – metade do que será gasto com assistência médica e benefícios como auxílio-transporte e alimentação para servidores. Mais R$ 96 milhões serão investidos em “Comunicações para o Desenvolvimento, a Inclusão e a Democracia”, com a veiculação de conteúdos jornalísticos, educativos, culturais, artísticos, políticos, econômicos, sociais, visando a “expressão dos direitos humanos, da diversidade cultural, social e étnica do país”, como relata a empresa.
A EBC é uma única empresa, que possui duas emissoras de televisão (TV Brasil e TV NBR), oito emissoras de rádio (Nacional e MEC), a agência de notícias Agência Brasil, portais e redes sociais, a Radioagência e a Rede Nacional de Rádio. Só a TV Brasil custou R$ 122,4 milhões no ano passado. Até o terceiro trimestre de 2018, as despesas da TV estão em R$ 94,2 milhões.
Audiência recorde
A audiência da TV Brasil costuma ser baixa, mas a sua direção afirma que pesquisa realizada pela Kantar Ibope mostra que a emissora obteve, em outubro deste ano, a maior audiência desde que foi criada em 2007 – 0,37 ponto no Painel Nacional de Televisão (PNT). Cada ponto equivale a cerca de 240 mil domicílios. A medição reflete a audiência do horário comercial de TV, das 7h à 0h, de segunda-feira a domingo. Entre os canais pagos e abertos, a TV Brasil foi a 11ª mais vista do país em outubro, diz a sua direção.
LEIA TAMBÉM: Câmara gasta R$ 21 milhões por ano com manutenção de imóveis de deputados
Além de contar com recursos do Tesouro Nacional, a EBC tem receitas próprias. Neste ano, já arrecadou R$ 1,7 milhão com “publicidade institucional”, que são inserções de comerciais no próprio governo federal nos veículos da EBC. Mais R$ 12,9 milhões entraram como “publicidade legal”. São balanços dos poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e estatais distribuídos pela EBC e publicados nos veículos comerciais.
O “contrato Secom” rendeu mais R$ 28,5 milhões. Trata-se do contrato da TV NBR com a Presidência da República. A emissora estatal cobre a agenda do governo e faz a cobertura das solenidades no Palácio do Planalto. No final das contas, todas as fontes de renda próprias são governamentais.
Trem-bala de festim
O projeto do trem-bala teve início no governo Lula, em 2005. O orçamento estava estimado em R$ 35,6 bilhões em 2008. Os estudos previam a ligação Rio-São Paulo-Campinas com um trem da alta velocidade nos padrões europeus. Os paulistas pegariam o trem no centro de São Paulo e chegariam às praias do Rio de Janeiro mais rápido do que pela ponte aérea.
O edital de licitação foi lançado em dezembro de 2012, mas não houve interessados. As empresas privadas avaliaram que o projeto era inviável financeiramente. Com o fracasso do projeto, a Empresa de Planejamento e Logística teve “seu escopo alterado e suas competências ampliadas”, afirma a sua atual direção. Não existem novos estudos sobre o projeto em andamento. “Trem de Alta Velocidade depende de decisão do governo federal de prosseguir com o projeto que foi realizado pela EPL”, diz nota da empresa.
LEIA TAMBÉM: Vencedor de licitação feita por ministro de Bolsonaro apresentou carta de fiança e endereços falsos, diz CGU
A empresa foi mantida mesmo no governo Michel Temer. Em 2018, metade do seu orçamento está destinado ao pagamento dos servidores – R$ 35,7 milhões. Mais R$ 1,4 milhão está reservado para assistência médica e outros benefícios. A administração da empresa custará R$ 12,8 milhões. Para os estudos, projetos e planejamento de infraestrutura de transporte, restaram R$ 18,9 milhões.
No “Panorama das Estatais”, no portal do Ministério do Planejamento, consta que a EPL tem hoje 139 empregados, 12 conselheiros e três diretores. Já foram 181 em 2014, quando o orçamento da empresa chegou a R$ 110 milhões (em valores atualizados). A empresa afirma que tem 143 profissionais ocupantes de cargo comissionado, portanto sem estabilidade. O maior salário da estatal é de R$ 23 mil e o menor fica em R$ 5,7 mil.
Novos projetos
A direção afirma que a EPL presta serviços na área de projetos, estudos e pesquisas “destinados a contribuir com o planejamento da logística e dos transportes no país de forma a integrar todos os modais”. Em 2016, a EPL passou a ser vinculada à Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (SPPI) para prestar suporte operacional ao programa.
Questionada sobre os projetos que desenvolveu nos últimos anos, a direção citou o Plano Nacional de Logística (PNL), que “identifica os gargalos logísticos do país” e propõe soluções que visem reduzir custos, melhorar o nível de serviço para os usuários, aumentar a eficiência da movimentação das cargas e passageiros, e diminuir a emissão de poluentes.
LEIA TAMBÉM: Servidores do Congresso vão ganhar R$ 200 milhões com aumento salarial do Judiciário
A empresa também destacou a participação na elaboração do recente leilão realizado da Rodovia de Integração do Sul, composta pelas rodovias BR-101, 290, 386 e 448, no Rio Grande do Sul. Desenvolvido pela EPL, o Observatório Nacional de Transporte e Logística (ONTL) possibilita visualizar e acompanhar o comportamento do setor de transportes e identificar tendências da logística no Brasil.
A empresa afirma que também atua para dar celeridade aos licenciamentos ambientais – um ponto fundamental para a implantação de projetos de infraestrutura, diz a empresa.
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS