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O presidente Jair Bolsonaro reuniu centenas de milhares de pessoas em Brasília e na Avenida Paulista no dia 7 de setembro. A presença do presidente apenas na manifestação em São Paulo custou R$ 360 mil aos cofres públicos em gastos com cartões corporativos, locação de veículos, passagens, telefonia e diárias. A cerimônia de hasteamento da bandeira teve despesas de R$ 295 mil. Logo em seguida, ele esteve na manifestação em seu apoio na Esplanada dos Ministérios. Mas a Presidência da República não informa quando custou e quem pagou as despesas do comício.
Os gastos com a cerimônia de hasteamento da Bandeira, no Palácio da Alvorada, também foram custeados pela Secretaria de Administração da Secretaria-Geral da Presidência da República. Incluíram a montagem da infraestrutura do evento, a logística de fornecimento da alimentação do Pelotão de Choque do Exército e dos agentes de segurança, além dos cartões de pagamento do governo federal, mais conhecidos como “cartões corporativos”.
Para lembrar, em 7 de setembro, Bolsonaro chamou o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes de “canalha” e ameaçou descumprir ordens judiciais das quais das quais discordasse. Criou um clima de pré-ruptura institucional. Dois dias depois, o presidente recuou e publicou carta com pedido de desculpas, escrita com a ajuda do ex-presidente Michel Temer. Disse que suas palavras decorreram “do calor do momento”.
Despesas não esclarecidas
As despesas com a participação nas motociatas se confundem com gastos em eventos oficiais pouco expressivos, no mesmo dia ou na véspera. Antes do passeio de motos em São Paulo, dia 12 de junho, um sábado, Bolsonaro esteve na entrega de boina aos alunos do 6º ano do ensino fundamental no Colégio Militar, por 40 minutos, a partir das 8h. O desfile de motos teve início às 10h, na região do Sambódromo, com trajeto de 130 quilômetros. O presidente retornou para Brasília às 14h30. A viagem toda custou R$ 363 mil.
Na motociata de Porto Alegre, dia 7 de julho, sábado, chegou às 9h30 de Bento Gonçalves (RS), onde teve agenda no dia anterior. Participou do evento com os motociclistas pela manhã e almoçou com empresários, a partir das 12h45, durante uma hora e meia. Partiu para Brasília às 14h40. A viagem a Porto Alegre custou R$ 242 mil.
Em Chapecó, dia 26 de junho, novamente um sábado, houve eventos oficiais no dia anterior. O presidente visitou as obras na Arena Condá e as instalações da Cooperativa Aurora e manteve encontro com empresários. Partiu para Brasília às 13h45 de sábado, após a motociata. A viagem a Chapecó custou R$ 324 mil.
Bolsonaro chegou às 8h20 a Presidente Prudente (SP), dia 31 de julho, sábado. Após a motociata, visitou o Hospital da Esperança, que foi credenciado ao SUS, e teve encontro de uma hora com prefeitos do Mato Grosso, Paraná e São Paulo, às 14h. Partiu para Brasília logo em seguida. As despesas com a viagem somaram R$ 330 mil.
Sem eventos paralelos
Na viagem para o Rio de Janeiro, dia 23 de maio, um domingo, não houve eventos paralelos. O presidente chegou de Brasília às 8h25. Participou da motociata pela manhã e partiu às 14h para Quito (Equador), onde participou da posse do presidente Guillermo Lasso, no dia seguinte. A viagem ao Rio custou R$ 230 mil. Naquele domingo de festa bolsonarista, a média de mortes pela Covid-19 no país estava em 1.951 por dia.
O blog questionou à Secretaria de Administração, por meio da Lei de Acesso à Informação, quais seriam exatamente as despesas com a participação do presidente Bolsonaro nas motociatas. As informações não foram prestadas.
As motociatas foram marcadas com enormes aglomerações em movimento, com muitos seguidores sem usar máscaras, inclusive o presidente, descumprindo as normas sanitárias estabelecidas pelo próprio governo. Quando tiveram início, a média móvel de mortes estava próxima de 2 mil por dia. As comitivas se estendiam por quilômetros em ruas e estradas país afora.
Despesas são ainda maiores
As cinco viagens que tiveram os dados abertos pela Presidência, incluindo motociatas e agendas oficiais, somaram R$ 1,5 milhão – uma média de R$ 300 mil por evento. Mas há ainda mais gastos. Em outros três desfiles com motos – Florianópolis (SC), Uberlândia (MG) e Recife/Santa Cruz do Capibaribe (PE) –, as prestações de contas não estavam concluídas quando foi enviada a resposta ao blog. Estavam em “processo de instrução”.
Mas ainda não é tudo. A Secretaria de Administração informa: “Frisamos, por fim, que as despesas relacionadas a aeronaves que possam ter sido utilizadas não são de responsabilidade da Secretaria-Geral da Presidência da República, mas do Comando da Aeronáutica. As informações foram disponibilizadas pelo Gabinete Pessoal do Presidente da República”. A Aeronáutica não divulga os custos das aeronaves presidenciais.
Em relação às “motociatas” realizada em Brasília, dia 9 de maio; e em Taguatinda e Ceilândia, dia 8 de agosto, no Distrito Federal, não foram identificadas despesas extraordinárias no âmbito da Secretaria Especial de Administração. Os valores foram atualizados em 13 de outubro podem sofrer variação, caso ocorram atualizações decorrentes de processo de análise das prestações de contas, informou a secretaria.