As viagens do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em 2019, custaram R$ 4,7 milhões em diárias a passagens para assessores e seguranças – um pouco mais do que gastou o presidente Jair Bolsonaro. No roteiro mais longo, incluindo Beirute, Pequim e Florença, as despesas somaram R$ 660 mil. No Brasil, a agenda teve solenidades militares, encontros com empresários, reuniões da maçonaria, formaturas colegiais, casamento e muitos títulos de cidadão e até de torcedor honorário do Flamengo.
Na visita a Beirute, no Líbano, houve dois eventos, visita à Fragata União e almoço a bordo da Fragata União. Em Xangai, na China, ele visitou a bolsa de valores e teve reunião com o vice-presidente chinês. Em Pequim, teve jantar em sua homenagem oferecido pela embaixada brasileira, banquete oferecido pelo vice-presidente chinês, Simpósio do Conselho Empresarial Brasil-China e audiência com o presidente da China, Xi Jinping. Em Florença, participou de homenagem à Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou na Itália na 2º Guerra Mundial.
A segunda viagem mais cara foi para Londres, em setembro. Ele recebeu do presidente Bolsonaro a missão de buscar o estreitamento das relações comerciais com o Reino Unido, a partir do seu afastamento da União Europeia. As passagens e diárias dos integrantes do escalão avançado e equipe de segurança custaram R$ 270 mil. Mas o vice-presidente cancelou a viagem na última hora por conta de mais uma cirurgia de Bolsonaro.
A viagem da delegação brasileira à cerimônia de canonização de Irmã Dulce, no Vaticano, em outubro, chefiada por Mourão, custou R$ 257 mil. Teve cumprimentos ao Papa Francisco, apresentação da ópera “Ave Dulce”, a canonização e recepção na embaixada brasileira. O vice-presidente seguiu em avião oficial, acompanhado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, alguns senadores e familiares. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, usou outra aeronave oficial.
A viagem para Boston e Washington, em abril, ficou R$ 150 mil. Em Boston, Mourão teve reuniões com professores e encontro com alunos e com integrantes da banda Brumadinho e almoço do “Roadshow Brasil Conference”. Na capital americana, teve reuniões com o embaixador brasileiro, Sérgio Amaral, e com adidos militares brasileiros, além de encontro com o vice-presidente Mike Pence.
Ao contrário de Bolsonaro, Mourão gastou mais com viagens nacionais. Os deslocamentos para o exterior custaram R$ 1,6 milhão. Ele também esteve em Buenos Aires, Bogotá, Puerto Maldonado, no Peru, e Punta Arenas, no Chile. As nacionais chegaram a R$ 3,1 milhões.
Mourão fez visitas de caráter afetivo
O vice-presidente fez duas visitas a Ijuí (RS), gerando uma despesa de R$ 104 mil em diárias e passagens, sem contar o custo do jatinho oficial. Em 18 de dezembro, por exemplo, ele foi para a passagem de comando do 27º Grupo de Artilharia de Campanha, unidade que ele comandou de 1998 a 2000. Também esteve na cidade em 18 de outubro. Recebeu a medalha do Mérito Farroupilha, em Porto Alegre, almoçou no Comando Militar do Sul e foi para Ijuí, onde teve reunião com empresários do agronegócio, visitou a Expoijuí e participou de cerimônia na Loja Maçônica.
Mourão foi comandante da 6ª Divisão de Exército, Porto Alegre, onde nasceu, além de Comandante Militar do Sul. Fez algumas dezenas de viagens para o estado, a um custo de R$ 790 mil. Recebeu o título de cidadão honorário em visitas a Porto Alegre e Bagé, onde também, participou de sessão branca na Loja Maçônica Amizade. Também esteve na Festa da Uva em Caxias do Sul, na Fenavinho em Bento Gonçalves, na Festa Nacional da Artilharia em Santa Maria, na Festa Nacional da Cavalaria em Tramandaí e inaugurou a “Calçada da Fama do Agro” em Não-me-Toque.
No final de setembro, Mourão viajou para Gramado e Canela, cidades turísticas na Serra Gaúcha. As despesas somaram R$ 35 mil, mas não há registros dessa viagem na agenda do vice-presidente. O blog apurou que ele esteve lá para uma festa de casamento, acompanhado de 12 seguranças. Ficou hospedado no hotel Alpestre. A festa foi na Caza Wilfrido.
Mourão marcou para o dia 10 de dezembro a solenidade de entrega do título de Cidadão do Amazonas. A equipe de apoio, com 35 integrantes, viajou para Manaus no dia 7, com despesas totais de R$ 108 mil. Mas aconteceu um imprevisto. O vice teve que representar o presidente na cerimônia de posse do presidente argentino, Alberto Fernández, que havia defendido a absolvição do ex-presidente Lula. Bolsonaro chegou a anunciar que não iria à posse.
Em 18 de fevereiro deste ano (2020), finalmente aconteceu a homenagem, com algumas alterações. Mourão viajou para São Gabriel da Cachoeira, no extremo Oeste do Amazonas, para receber o título de “Cidadão de São Gabriel da Cachoeira”. Foi acompanhado de uma equipe de 47 seguranças e assessores, ao custo de R$ 309 mil. Só as passagens custaram R$ 248 mil, num valor médio de R$ 5,6 mil. Seis passagens custaram em torno de R$ 9 mil. Mas por que a homenagem? O vice-presidente foi comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, naquele município.
Homenagens do Rio e no Amazonas
No dia 29 de novembro, o vice-presidente viajou para o Rio de Janeiro para receber o título de “Associado Honorário do Flamengo”. Na manhã seguinte, esteve na cerimônia de Declaração de Aspirantes a Oficial da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). A presença em solenidades militares foi constante. Em 6 de dezembro, em Curitiba, participou da formatura da 3ª série do ensino médio do Colégio Militar Pedro II. No Rio de Janeiro, prestigiou o 130º aniversário do Colégio Militar, em maio. Mourão foi aluno do Colégio Militar de Porto Alegre.
Outra viagem bem cara foi para Teresina (PI), em abril, no valor total de R$ 156 mil. Mourão fez palestra na Federação das Indústrias e esteve na Convenção Logista do Piaí. Também recebeu o título de “Cidadão Piauiense”.
Em 17 de junho, teve encontro com empresários do Rio de Janeiro e recebeu o título de “Cidadão Horonário do Rio de Janeiro”. Mas essa viagem foi baratinha, apenas R$ 33 mil. Todas as viagens do vice-presidente para o Rio de Janeiro custaram R$ 428 mil. As viagens para São Paulo somaram mais R$ 537 mil.
Outra característica das viagens do vice-presidente foi o encontro com lideranças empresariais. Aconteceu em quase todas as cidades visitadas. Em fevereiro, no Rio de Janeiro, teve reunião com a diretoria do Conselho Empresarial Brasil-China. Em São Paulo, em março, reuniu-se com a diretoria da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Em setembro, em Natal, palestrou no Encontro Empresarial Brasil-Alemanha. Em Palmas, em outubro, fez palestra no Fórum Internacional de Administração. No mesmo mês, palestrou na Associação Comercial de Jaraguá (SC). Não houve encontros com representantes de trabalhadores.
Para prestigiar o agronegócio, Mourão esteve na solenidade de encerramento da safra de soja e de plantio de entressafra de milho, em Sorriso, no Mato Grosso, em fevereiro, com uma equipe de apoio de 42 servidores. A festividade durou um dia e custou mais R$ 104 mil aos cofres públicos.
As viagens dos familiares
A Presidência da República também paga diárias e passagens para as equipes de segurança dos familiares do vice-presidente. Mas Mourão usou pouco essa mordomia. Foram gastos apenas R$ 25 mil. Os familiares se deslocaram para o Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Araguari (MG).
As maiores despesas foram em viagens para Araguari, mas ficaram em R$ 10 mil. Como a cidade fica distante apenas 400 quilômetros de Brasília, os quatro deslocamentos devem ter sido feitos de carro. Nos registros da Presidência da República, consta que as equipes de apoio acompanharam a esposa do vice-presidente, Ana Paula de Oliveira Mourão, que participou de “eventos privados”.
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