Estela Haddad, esposa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fez 14 voos como carona em jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) neste ano – todos para São Paulo. Numa dessas viagens, viajou apenas o casal – como se fosse um “Uber aéreo”. O ministro costuma viajar para São Paulo nos finais de semana, onde marca audiências. Das 68 viagens feitas pelo ministro, 53 foram de ida ou volta para a capital paulista.
A farra dos jatinhos está solta. Haddad viajou em aeronave “chapa branca” para acompanhar o discurso de Lula na Assembleia Geral da ONU. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez 92 voos nas asas da FAB, incluindo uma para Nova York. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), fez 44 voos, um deles para Roma. Mas o líder da gastança é o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Roberto Barroso, com 106 voos até outubro.
O “Uber aéreo” é utilizado principalmente nos voos “à disposição do Ministério da Defesa”. Esses voos foram criados no início de 2023, por iniciativa do então ministro da Justiça, Flávio Dino – hoje ministro do STF. Ele solicitou ao Ministério da Defesa que a regalia dos jatinhos fosse ampliada aos ministros do SFT, que vinham enfrentando hostilizações nos aeroportos durante voos de carreira. Havia uma brecha no decreto presidencial que regulamenta a utilização das aeronaves oficiais. O ministro da Defesa pode aprovar o uso dessas aeronaves por autoridades se houver motivo de “segurança”.
Apenas um passageiro a bordo
Neste ano, foram realizados 57 voos à disposição da Defesa. Em 52 casos, a viagem foi de ida ou volta para São Paulo, geralmente nos finais de semana. Considerando todos os voos, houve 26 com apenas 1 passageiro a bordo. Incluindo as viagens com 2 e 3 passageiros, foram 51 voos. Nessa categoria, 27 foram à disposição da Defesa. Estão registrados 60 voos do Ministério da Justiça. Desse total, 54 foram para de ida ou volta para São Paulo.
O presidente do Supremo fez 3 voos com apenas 3 passageiros, entre São Paulo e Brasília. Em 7 de setembro, Dia da Pátria, um sábado, Barroso partiu às 5h55 de São Paulo para Brasília com três passageiros no jatinho da FAB. No dia 31 de março, domingo, seguiu de São Paulo para Brasília às 6h30. Cumpriu agendas na segunda-feira.
Em 7 de janeiro, Barroso viajou de Miami para Brasília, com escala em Boa Vista, acompanhado do ministro do STF Cristiano Zanin. Não há registro de agenda oficial em Miami. No dia 8 de janeiro, Barroso presidiu o ato "Após 8 de Janeiro: Reconstrução, memória e democracia", no Hall dos Bustos, no STF; e esteve no evento “Ato Democracia Restaurada”, no Salão Negro do Congresso Nacional. À noite, Barroso e Haddad compartilharam um voo para São Paulo. Estavam também a bordo Zanin, Alexandre de Moraes e a sua esposa, Viviane Barci de Moraes.
No dia 30 de agosto, uma sexta-feira, Lira voou para Maceió no final da tarde. Havia apenas dois passageiros no jatinho da FAB. Um dia antes, deslocou-se a São Paulo às 17h e retornou a Brasília às 22h45, com três passageiros na aeronave nos dois trechos.
O “Uber” aéreo de Haddad foi solicitado no dia 19 de maio, um domingo. Os passageiros do jatinho eram o ministro e a mulher, Ana Estela. No retorno a Brasília, na manhã de segunda, havia 11 passageiros, incluído a esposa. Nesse o voo de retorno a Brasília, dia 20, estavam na lista de passageiros a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o ministro do STF Cristiano Zanin.
Voos internacionais
O presidente do Senado viajou num jatinho da FAB para um evento na Itália, em outubro. Segundo a assessoria do Senado, em Roma, Pacheco cumpriu agenda oficial no Senado italiano “para a troca de iniciativas comuns entre as Casas legislativas”. O senador se reuniu com o presidente do Senado italiano, Ignazio La Russa, e mais dois parlamentares. “Os encontros foram ainda uma retribuição às visitas recentes de autoridades italianas alusivas aos 150 anos da imigração italiana no Brasil”, diz nota do Senado. O blog perguntou por que o senador não viajou em avião de carreira. Não houve resposta.
Haddad viajou para Nova York em setembro nas asas da FAB. Na solicitaçãodo “apoio aéreo Internacional” para o ministro, o Ministério da Fazenda informa que o motivo da viagem era participar dos eventos a serem realizados pela 79º Sessão da Assembleia da ONU. O presidente Lula discursou durante a Assembleia. O blog questionou por que o ministro não viajou em avião de carreira ou no avião presidencial. Não houve resposta.
Lira viajou para Nova York na mesma data, mas não consta nos registros da FAB o voo de retorno. O presidente da Câmara também viajou para Portugal, no final de junho, para participar do Fórum Jurídico de Lisboa, criado e coordenado pelo ministro do STF Gilmar Mendes. Lira integrou a Mesa de abertura do Fórum, no dia 26 de junho. Procurado pelo blog, Lira não informou por que não viajou em avião de carreira.
Fazenda justifica viagem
A assessoria de Haddad afirmou ao blog que a viagem de 19 de maio, na companhia da esposa, “foi necessária em razão dos compromissos realizados na cidade de São Paulo no dia 20/05/2024”. Acrescentou que Ana Estela foi passageira no voo realizado no dia 19 de maio nos termos do Art. 7º do Decreto nº 10.267: "Art. 7º Ficarão a cargo da autoridade solicitante os critérios de preenchimento das vagas remanescentes na aeronave, quando existirem vagas disponíveis.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião