O ex-governador gaúcho Olívio Dutra (PT) recebeu Lula no aeroporto de Porto Alegre, antes do ato público de apoio desta terça-feira (23) ao ex-presidente na Esquina Democrática. Meia hora após o evento, concedeu entrevista à Gazeta do Povo enquanto tomava cerveja com graspa com assessores num pequeno bar da capital gaúcha. Afirmou que a mobilização dos movimentos sociais continuará independentemente do resultado do julgamento do ex-presidente.
“Evidentemente, tem os desdobramentos daqui para diante. O resultado de amanhã (quarta-feira, dia 24) não impede, primeiro que haja recurso. A gente se sente injustiçado. O Lula está sendo imputado por crimes que não cometeu. Há que ter recursos, mas, mais do que isso, tem que ter continuidade na mobilização e organização do povo”, disse Dutra, a primeira grande liderança do partido o estado.
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“Amanhã, tem o julgamento de um recurso da acusação contra o ex-presidente Lula, uma acusação que até agora não provou nada. Concretamente nada, tem suposições, e do interesse daqueles que fizeram o golpe. A Justiça não pode ser parcial, não pode ser partidária. Isso mostra que o Estado democrático brasileiro não está funcionando como deveria estar. O Judiciário não pode decidir por interesses partidários, ideológicos. Nós aguardamos uma decisão que não dê continuidade ao golpe. Mas, seja qual for a decisão, a mobilização continua”, afirmou ele.
Questionado se há um plano B no caso de condenação de Lula, respondeu: “O Lula é uma liderança que não é só do PT. É do povo brasileiro. Neste momento, a gente tem que lutar pelo resgate do respeito da figura do Lula. Não pode ele ser condenado por crimes que não cometeu. Estão arranjando provas e não conseguem. O povo vai escolher quem vai ser presidente, mas o Lula não pode perder a condição de candidato”.
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Ele afirmou que o ato em Porto Alegre “foi um ato da cidadania, ampla e irrestrita, que está questionando o funcionamento dos três poderes. É um desejo de uma parcela significativa do povo brasileiro que a democracia nesse país não pode ser uma sucessão de golpes, um atrás do outro. O povo tem que ser obediente, tem que ser passivo, depender dos poderosos. Não! Essa marcha está mostrando que o povo quer ser sujeito e não objeto da política”.
“A democracia não é coisa de cima para baixo, uma formalidade, um presente de alguns. Vem sendo agredida? Bueno, vamos às fontes da agressão, e vamos resgatar a democracia ferida. O povo tem que ter o direito de escolher quem vai ser o presidente da República agora em 2018. E esse povo que deu o golpe em 2016 quer uma democracia sem povo, até uma democracia sem voto, sem demora. O Estado brasileiro, para funcionar bem, tem que estar sob o controle público, e não privado. Então, lutamos por um projeto de radicalidade democrática”.
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Questionado se o PT cometeu erros no governo, reagiu: “Por que essa fixação com o PT? O PT não governou sozinho, governou com vários partidos. E esse é o grande defeito da nossa estrutura político-partidária. E os partidos que foram para governar junto com o PT não foram para tocar adiante um projeto de transformação para o Brasil. Foram para neutralizar o PT ou puxar para baixo. Então, é evidente que os partidos não estão funcionando bem no país, inclusive o PT. Então, precisamos de uma reforma política. Mas não essa que o Eduardo Cunha fez. Tem que vir por meio da convocação de uma assembleia nacional constituinte livre e soberana, não imposta de cima para baixo, não por esse Congresso que está aí”.
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