O custo do Poder Judiciário foi tema levantado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) no final de fevereiro. Levantamento do blog mostra que os salários, indenizações e demais penduricalhos, custaram R$ 95 bilhões nos últimos seis anos e meio. Antes disso, eram trevas. Não era possível sistematizar esses números. Hoje, sabemos que os “subsídios”, ou salários, consumiram R$ 56 bilhões. Os direitos eventuais, mais R$ 29 bilhões. Os direitos pessoais, R$ 2,4 bilhões. As indenizações – auxílios saúde, alimentação, moradia, natalidade, pré-escolar – somaram mais R$ 7 bilhões.
Os números divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam pagamentos milionários. Entre os direitos eventuais, destacam-se os pagamentos retroativos, num total de R$ 6,6 bilhões, e as indenizações de férias, mais R$ 4,4 bilhões. A maior parte dos retroativos resultou do pagamento atrasado de verbas de equivalência de remuneração entre os magistrados e membros do Congresso Nacional
Retroativos e “venda de férias”
Só o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) pagou R$ 1,6 bilhão em retroativos em seis anos. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), R$ 1,46 bilhão. O Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) pagou R$ 638 milhões de retroativos e R$ 498 milhões de indenização de férias. Com direito a 60 dias de férias, é comum a “venda” de férias. Como é uma indenização, não há desconto do Imposto de Renda nem da Previdência. O dinheiro cai limpo na conta do magistrado. O TJSP pagou R$ 1,15 bilhão em indenizações de férias em seis anos. (Vaja abaixo, relação das maiores despesas)
As despesas com indenizações também são consideráveis. O TJSP, maior tribunal, com 360 magistrados, pagou R$ 362 milhões de auxílio pré-escolar em seis anos e meio, mais R$ 256 milhões de auxílio-saúde. O TJMG pagou R$ 354 milhões de auxílio-saúde e R$ 347 milhões em “indenização férias-prêmio”. O tribunal explicou que “as férias não gozadas, prêmio ou regulares, são indenizadas, o que justifica sua classificação orçamentária”.
Esses dados são divulgados hoje pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a partir das folhas de pagamento de 90 tribunais. Antes, cada tribunal divulgava seus salários no próprio site, em formatos diversos. Muitas das planilhas eram em PDF, o que dificultava a totalização. A unificação dos dados ocorreu em agosto de 2017. Os maiores gastos foram do TJSP: R$ 14,3 bilhões. O TJMG gastou R$ 7,5 bilhões; o TJPR, 5,3 bilhões; o TJRJ, 5 bilhões; o TJRS, 4,7 bilhões.
Os maiores “penduricalhos”
As maiores “boladas” de pagamentos retroativos ocorrem no TJMG. Pelo menos 30 magistrados acumularam retroativos em valores acima de R$ 3 milhões. O desembargador aposentado Lúcio Silva Martins recebeu um total de R$ 3,86 milhões em retroativos. Murilo José Pereira, outro desembargador aposentado, recebeu R$ 3,78 milhões. O tribunal afirmou que “os pagamentos de equivalência são feitos conforme decisões judiciais, de acordo com a disponibilidade orçamentária e financeira”.
No TJSP, o desembargador aposentado Antônio Paulilo acumulou R$ 1,38 milhão com retroativos, mais R$ 154 mil de indenização de férias. Egídio Giacoia, desembargador aposentado, recebeu R$ 1,13 milhão de retroativos e R$ 122 mil em indenizações de férias.
As “boladas” não acontecem apenas nos grandes tribunais. No Tribunal de Justiça de Rondônia, o desembargador Paulo Kiyochi Mori recebeu R$ 1,43 milhão de retroativo e R$ 967 mil de indenizações de férias. O desembargador José Ribeiro da Luz recebeu R$ 1,38 milhão de retroativo e o mesmo valor de indenização de férias.
TJs defendem atrasados e férias
O TJPR afirmou ao blog que, em seus mais de 132 anos de existência, “sempre honrou a missão de bem servir ao povo paranaense, cumprindo e fazendo cumprir a Constituição e as Leis do país, enfrentando passivos trabalhistas segundo seu orçamento e orientações dos órgãos de controle, dentre os quais o CNJ".
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) afirmou que os pagamentos da Parcela Autônoma de Equivalência (PAE) foram finalizados em dezembro de 2022. “Desde o ano de 2017 até a finalização do pagamento foram destinados 108 milhões e não há mais nenhuma pendência a ser quitada quanto à PAE. Informamos ainda que todas as verbas retroativas devidas e pagas a magistrados e servidores são expressamente autorizadas pelo CNJ”.
O TJRS acrescentou que a indenização decorrente da conversão de férias em pecúnia para magistrados e servidores é exclusivamente de períodos de férias vencidos. “São férias vencidas e não gozadas, por absoluta necessidade de serviço e imperiosa continuidade da prestação dos serviços. Pautamos nossa atuação pelo respeito ao erário público, de forma transparente, respaldados por administrações austeras”.
Os tribunais mais caros
tribunal | subsídios | direitos pessoais | indenizações | direitos eventuais | total de rendimentos |
TJSP | 8.453.624.098 | 467.144.493 | 642.866.398 | 4.778.304.557 | 14.341.939.548 |
TJMG | 3.481.438.070 | 155.997.900 | 1.401.437.380 | 2.498.407.854 | 7.537.281.205 |
TJPR | 2.915.964.492 | 90.652.430 | 402.448.227 | 1.927.054.969 | 5.336.120.117 |
TJRJ | 3.081.655.664 | 277.057.143 | 333.951.085 | 1.732.660.395 | 5.065.324.288 |
TJRS | 2.900.498.712 | 160.009.246 | 179.543.667 | 1.449.290.426 | 4.689.342.050 |
TJGO | 1.715.063.664 | 33.420.487 | 389.167.907 | 1.431.955.249 | 3.569.607.308 |
TJSC | 1.720.782.610 | 73.521.225 | 190.988.329 | 1.174.057.057 | 3.159.349.322 |
TRT2 | 2.141.339.815 | 45.284.880 | 116.057.023 | 603.245.226 | 2.933.106.840 |
TJPE | 1.649.007.520 | 150.630.811 | 191.748.736 | 531.192.140 | 2.520.579.207 |
TJBA | 1.543.281.492 | 64.833.554 | 125.291.319 | 763.330.455 | 2.496.736.820 |
TRF1 | 1.553.414.205 | 30.635.340 | 95.840.484 | 636.810.240 | 2.316.743.291 |
TRT15 | 1.405.903.475 | 29.409.554 | 123.758.124 | 505.073.662 | 2.064.144.814 |
TJDF | 1.305.545.495 | 65.010.261 | 114.115.255 | 571.475.489 | 2.056.146.499 |
TRF4 | 1.219.966.667 | 32.857.484 | 118.334.293 | 647.452.922 | 2.018.611.367 |
TJMT | 908.642.008 | 23.387.982 | 229.992.841 | 735.858.519 | 1.964.881.350 |
TJES | 1.126.354.286 | 30.954.515 | 117.047.524 | 551.319.285 | 1.825.675.611 |
TJCE | 1.395.435.445 | 37.178.653 | 78.598.080 | 255.335.269 | 1.766.547.448 |
TRT3 | 1.206.808.495 | 35.395.445 | 61.213.700 | 429.933.053 | 1.733.350.694 |
TRF3 | 1.115.074.250 | 27.405.206 | 67.481.538 | 499.838.039 | 1.709.799.033 |
TJPA | 1.114.012.200 | 33.621.319 | 186.287.725 | 313.197.998 | 1.647.119.243 |
TRT4 | 1.198.510.620 | 24.998.617 | 47.851.832 | 361.484.119 | 1.632.845.188 |
TRT1 | 1.095.274,88 | 25.498.599 | 71.548.548 | 260.094.847 | 1.452.416.879 |
TRF2 | 829.860.741 | 16.879.335 | 62.474.373 | 453.650.884 | 1.362.865.333 |
TJMA | 826.937.595 | 39.506.174 | 202.857.614 | 219.322.030 | 1.288.623.414 |
TJMS | 544.181.496 | 29.016.748 | 123.937.283 | 517.892.959 | 1.215.088.202 |
TJRO | 499.385.822 | 12.310.043 | 85.856.855 | 550.312.248 | 1.147.864.968 |
TRF5 | 645.779.079 | 12.684.235 | 48.272.705 | 362.487.682 | 1.069.223.701 |
TJRN | 611.402.471 | 33.769.558 | 73.348.874 | 313.154.180 | 1.031.675.083 |
TRT5 | 777.883.113 | 14.454.015 | 41.509.675 | 174.744.418 | 1.008.591.222 |
Fonte: Conselho Nacional de Justiça |
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