Pré-candidato a presidente da República pelo PSD, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, tem viajado pelo país nos últimos meses em jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB). Por onde passa, fala de soluções para as crises econômica a sanitária que arrasam o país. O senador já torrou R$ 1,2 milhão com voos em aeronaves oficiais – um pouco mais da metade para se deslocar para casa nos finais de semana. O custo total das viagens chegou a R$ 2,16 milhões.
Em encontro nacional do PSD, em Brasília, no final de novembro, Pacheco criticou duramente o presidente Jair Bolsonaro e deixou claro que o seu partido terá candidatura a presidente neste ano. “Amor ao Brasil definitivamente não é só colocar uma camisa da seleção brasileira e sair xingando o STF, o Congresso Nacional e a política brasileira. Amor ao Brasil é praticar a cidadania, é cumprir seus deveres, é criticar de maneira respeitosa aquilo que se revela diferente”, afirmou o senador.
Sobre a candidatura do partido, afirmou: “O que fica claro, e houve aderência unânime de todos os filiados do partido, é que o partido terá candidatura a presidente em 2022. Esta candidatura deverá ser construída primeiro no campo das ideias e das propostas do partido para o Brasil e depois se personificar isso a partir de uma candidatura. Então não há uma definição de nomes”, disse.
Pacheco não se apresentou no evento como o candidato do partido, mas o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ficou otimista: “Mineiro, para ter falado como ele falou, é candidatíssimo”.
Quanto custam as viagens
As viagens do presidente do Senado têm despesas variadas. Só as 122 horas de voos em jatinhos da FAB custaram R$ 1,22 milhão. Tem ainda as diárias nacionais e internacionais para assessores e, principalmente, seguranças que acompanham a autoridade. Os seis policiais legislativos que se revezaram na escolta em Belo Horizonte, de 22 de dezembro a 2 de janeiro, por exemplo, receberam 36 diárias no valor total de R$ 24 mil.
Para o exterior é mais caro. As diárias dos assessores e seguranças que acompanharam o presidente na COP26, em Glasgow (Escócia), e no Fórum Jurídico de Lisboa, onde palestrou, somaram R$ 142 mil. Só um deles recebeu R$ 28 mil – ou US$ 5 mil – por 12 diárias. O próprio presidente recebeu mais R$ 14,3 mil em diárias. Durante o ano de 2021, as diárias dos servidores que acompanharam o presidente somaram R$ 474 mil.
Como o presidente do Senado deixou o jatinho em Brasília, todos os assessores e seguranças viajaram em avião de carreira. As passagens dos servidores custaram R$ 117 mil. Ao longo do ano, com as viagens de Pacheco para casa, para São Paulo, Rio de Janeiro e outros sete estados, a despesa com passagens de seguranças e assessores somaram R$ 233 mil. Alguns servidores viajam antes do presidente para os locais dos eventos. Outros retornam depois.
Mas ainda faltam as despesas com cartões corporativos, feitas por assessores e seguranças do presidente durante as viagens. Cobrem gastos emergenciais com material de consumo, serviços, passagens e despesas com locomoção, como aluguel de carros. Em 2021, totalizaram R$ 233 mil. Os detalhes dessas despesas não são divulgados por questão de segurança do presidente. Assim, o total de gastos com viagens do presidente do Senado ficou em R$ 2,16 milhões.
"O Brasil precisa de estabilidade"
Até meados de setembro, Pacheco havia realizado 60 voos em jatos da Aeronáutica, mas 45 eram de ida ou volta para Belo Horizonte. Outros deslocamentos eram para São Paulo ou Rio de Janeiro. No dia 15 daquele mês, tiveram início as viagens para outros estados. O senador esteve no Encontro Municipalista Goiano, em Goiânia, onde estavam 133 prefeitos. “Não há forma de sairmos da crise no Brasil que não seja pela descentralização e atribuição de direitos e deveres aos municípios, onde as pessoas vivem, onde criam sua família, onde trabalham”, afirmou.
Cinco dias depois, Pacheco estava em Campinas (SP), num evento do setor de supermercados. Deu a primeira estocada em Bolsonaro. "Tem faltado respeito ao país, especialmente nas relações entre os poderes, permitindo-se inclusive discutir essas relações através de redes sociais ou coisa que o valha, quando isso deveria estar sendo discutido em alto nível com respeito entre as instituições”.
No início de outubro, o presidente do Senado voou para Porto Alegre e seguiu para Gramado, na serra gaúcha, para um evento de procuradores: “O Ministério Público de Uma Nova Era: Reflexões e Projeções".
No dia 15, em Vitória, Pacheco tocou num tema que atormenta Bolsonaro, e passou a sua receita ao presidente: “O problema do preço de combustível envolve, sobretudo, estabilidade. O Brasil precisa de estabilidade, inclusive estabilidade política. Com a estabilidade, nós podemos ter um câmbio que seja tolerável, sem a desvalorização que tivemos do real nesses últimos anos, e aí vamos ter uma forma de contenção do preço do combustível no Brasil. Esse é o primeiro ponto, estabilidade e mecanismos de contenção de inflação e de câmbio”.
A vasta pauta do pré-candidato
Pacheco filiou-se ao PSD no final de outubro. Em 26 de novembro, esteve no encontro de líderes do partido, em Cuiabá, o Fórum Brasil de Ideias. No dia seguinte, usou as redes sociais para tocar no ponto mais sensível do governo Bolsonaro: “Externei a minha preocupação com a pandemia da Covid-19, no contexto da descoberta de mais uma variante da doença. Que não baixemos a guarda e tenhamos as precauções redobradas no enfrentamento do vírus neste momento em que se avizinham as festas de fim de ano e o Carnaval”.
E continuou relatando a sua extensa pauta, quase um plano de governo. “Por outro lado, o Senado trabalha para destravar as principais pautas do país, como a questão dos precatórios, do combate à fome, à miséria e ao desemprego”, afirmou, tocando em pautas petistas.
Em 29 de novembro, em encontro com entidades empresariais em Curitiba, o presidente do Senado defendeu a aprovação do novo Refis, sempre dando estocadas no governo Bolsonaro. “Há resistências naturais do governo, do próprio Ministério da Economia, mas vamos tentar com diálogo mostrar a importância para a sociedade. O Refis significa a vida ou a morte de uma série de CNPJs no Brasil". A votação do projeto no Congresso acabou adiada para 2022.
Em encontro com empresários em Cascavel (PR), em 10 de dezembro, Pacheco falou das perspectivas para a economia: “Temos que crescer nossa economia, gerar empregos, nos desenvolver, mas esbarramos em uma coisa básica, não há energia para poder ter crescimento nacional, fruto da falta do planejamento”. Como pré-candidato por uma terceira via, lamentou a atual polarização, mas apontou um caminho: “O país está dividido, desunido. Nosso caminho é único e exclusivamente da democracia”.
Não seria um exagero?
O blog informou à assessoria do senador Rodrigo Pacheco os valores gastos com jatinhos e diárias e perguntou se o presidente do Senado não estaria fazendo uma pré-campanha eleitoral com dinheiro público, nas asas da FAB. Lembrou, ainda, que foram gastos R$ 653 mil com voos de jatinho para casa nos finais de semana, e perguntou se não seria uma despesa exagerada num momento em que o país vive uma crise fiscal, com déficit orçamentário.
A Assessoria de Comunicação do Senado afirmou que presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, “tem dentre suas prerrogativas o direito ao uso de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para o cumprimento de sua agenda oficial, conforme previsto no artigo 2º, inciso II do Decreto nº 10.267/2020”. O decreto diz que “poderão requerer transporte aéreo em aeronave do Comando da Aeronáutica: os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal (STF).
A Assessoria acrescentou que “a norma também explicita as seguintes situações em que os aviões podem ser requisitados e que são respeitadas pela Presidência da casa: por motivo de segurança e emergência médica; em viagens a serviço; e em deslocamentos para o local de residência permanente. Esclarecemos, ainda, que as solicitações passam pelo crivo do Ministério da Defesa, por intermédio do Comando da Aeronáutica, que as cumpre estritamente”.
A nota da Assessoria não toca na questão do uso dos jatinhos numa fase de pré-campanha eleitoral – um benefício não disponível para os demais pré-candidatos. Com exceção do presidente Jair Bolsonaro, que já gastou mais de R$ 45 milhões com viagens pelo país e exterior em três anos de mandato.
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