O ex-presidente Jair Bolsonaro encerrou o mandato com um total de R$ 27,6 milhões gastos com cartões corporativos. A mordomia foi farta, mas não alcançou os valores dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, que gastaram R$ 62 milhões e R$ 43 milhões nos seus primeiros mandatos, em valores atualizados pela inflação. No segundo mandato, de 2007 a 2010, Lula torrou mais R$ 50 milhões (atualizados). Os dados da Presidência da República foram obtidos pelo blog por meio da Lei de Acesso à Informação.
A maior despesa dos presidentes da República com cartões corporativos foi feita com hospedagem – R$ 104 milhões. Em segundo lugar, vem a despesa com gêneros de alimentação – R$ 32 milhões. Nos seus dois mandatos, Lula investiu cerca de R$ 44 milhões com hospedagem da comitiva presidencial, assessores e seguranças.
No mandato completo de Dilma, de 2011 a 2014, as suas despesas com hospedagem somaram cerca de R$ 25 milhões. Bolsonaro sempre afirmou que procurava economizar nas viagens presidenciais, muitas vezes se hospedando em instalações militares. Mas gastou R$ 13,7 milhões com hotéis. As despesas no Blue Tree Faria Lima somaram R$ 374 mil, sendo R$ 350 mil com as quatro maiores estadias.
Bolsonaro gastou mais R$ 5,8 milhões com gêneros alimentícios. Torrou torrou R$ 820 mil no sofisticado Mercadinho La Palma. Gastou mais R$ 380 mil na Peixaria Guará, onde as 20 maiores compras somaram R$ 60 mil. Mas não é possível saber o que foi comprado porque esses dados ainda estão “classificados”, em sigilo. Para colocar o retirar o sigilo, basta uma canetada.
Mordomias sem limite
As despesas com gêneros de alimentação incluem bebidas alcoólicas. Como os dados de Lula e Dilma já foram “desclassificados”, podemos apurar que, em agosto de 2010, perto do final dos governos de Lula, foram adquiridas sete garrafas de vodka Absolut e seis garradas de cachaça Anísio Santiago, mais alguns vinhos, num total de R$ 4 mil, na Casa do Vinho. Duas semanas depois, foram compradas mais 24 garrafas de Johnny Walker black no valor total de R$ 5,7 mil. Em 10 de setembro, a adega do Palácio da Alvorada teve mais um reforço de 12 garrafas de black, cinco de Anísio Santiago e seis de Absolut, totalizando R$ 6,6 mil.
Hoje, documentos já abertos pela Presidência registram que as despesas do Alvorada com a Casa do Vinho somaram R$ 700 mil (em valores atualizados). Dilma preferia bebidas mais suaves. Em 2014, no ano da sua reeleição, o cartão da presidente pagou seis garrafas de vinho tinto português da região Península de Setúbal e três unidades de vinhos da região Alentejo.
Um vinho vale um Bolsa Família
O cartão de Dilma comprou ainda seis garrafas do vinho português Quinta da Bacalhoa, por R$ 200 a unidade, e mais três garrafas do vinho Pêra-Manca. A conta fechou em R$ 4 mil. Em julho daquele ano, ela já havia comprado três garradas de Pêra Manca por R$ 900 a unidade – um benefício e meio do Bolsa Família. Mas essas compras foram no Super Adega. Na Casa do Vinho, foram gastos mais R$ 37 mil na era Dilma.
A mesa sempre foi farta e sofisticada no Alvorada. Em agosto de 2010, foram adquiridos 23 quilos de bacalhau Gadus Mohua dessalgado, por R$ 205 o quilo, no Mercado Municipal, pelo valor total de R$ 4,8 mil. Durante os governos petistas, as compras no Mercado somaram R$ 370 mil (atualizados).
Em 13 de agosto de 2010, na Peixaria do Guará, foram comprados seis quilos de camarão rosa GGG por R$ 225 o quilo, mais dois quilos de camarão GG, 14 quilos de filé de robalo e outros outros peixes, no valor total de R$ 7 mil. No Mercado Municipal, mais R$ 3,3 mil por 16 quilos de bacalhau Gadus Mohua.
Questionada sobre a compra de bebidas caras e carnes nobres para o Alvorada, a assessoria de Lula respondeu que “o governo fazia inúmeros eventos e recepções a chefes de Estado e autoridades estrangeiras, que, na época, visitavam bastante o Brasil. Tais eventos constam da agenda da presidência da República”.
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