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As despesas dos senadores com viagens internacionais somaram R$ 4,7 milhões em 2023. Mas os maiores gastos foram com a Cota para o Exercício do Mandato, que inclui autopromoção, aluguel de carros de luxo e escritório nos estados, correios, hospedagem e restaurantes sofisticados. A gastança dos senadores chegou a R$ 30 milhões. Quem mais gastou foi o senador Chico Rodrigues (PSB-RR), com R$ 866 mil. Só no “Cotão” foram R$ 588 mil. Quase o mesmo valor gasto por Nelsinho Trad (PSD-MS), que torrou R$ 292 mil com diárias e passagens internacionais. Irajá (PSD-TO) gastou mais R$ 330 mil com missões no exterior.
Omar Aziz (PSD-AM), ex-presidente da CPI da Covid, gastou R$ 699 mil do “Cotão”. Ele torrou R$ 360 mil – R$ 30 mil mensais – com empresa de consultoria, assessoria, pesquisas e outros serviços de “apoio ao exercício do mandato parlamentar”. Afirmou que a empresa contratada realiza pesquisas e outros serviços técnicos de comunicação “para melhor entendimento das demandas sociais”. Ele gastou mais R$ 53 mil com correios e R$ 17 mil com impulsionamento em mídias sociais. Seu gabinete é uma máquina de propaganda.
Chico Rodrigues (PSB-RR) foi o campeão da gastança. Ele ganhou destaque nacional em outubro de 2020 quando foi flagrado com R$ 33 mil em dinheiro vivo escondido na cueca durante uma operação policial na sua casa. Ele usou R$ 588 mil do “Cotão” em 2023. Foram R$ 133 mil com autopromoção do mandato, R$ 142 mil com o aluguel de uma camionete Amarok, R$ 32 mil com impulsionamento nas redes sociais e R$ 215 mil em viagens internacionais. Na mais longa, gastou R$ 88 mil para participar do Grupo Parlamentar Brasil-Cazaquistão, em Astana. Esteve ainda em Lisboa, Porto e Roma.
Nelsinho Trad (PSD-MS) gastou R$ 500 mil do “Cotão”, sendo R$ 187 mil relativos ao “pagamento de divulgação de atividade parlamentar”. Mas ele gastou mais R$ 155 mil com a contratação de serviços de apoio ao parlamentar, também destinados à autopromoção do senador, com serviços de marketing, produção de conteúdo e comunicação para a “divulgação da atividade parlamentar”. Trad gastou ainda R$ 292 mil com viagens internacionais. A conta fechou em R$ 865 mil.
Viagens de R$ 300 mil
Laércio Oliveira (PP-SE) teve despesas no valor de R$ 862 mil, sendo R$ 544 mil com verbas do “Cotão”. Ele gastou R$ 69 mil com o aluguel de um Corolla e R$ 102 mil com o aluguel de uma Toyota Hilux. Suas viagens internacionais custaram mais R$ 318 mil. Só as passagens aéreas custaram R$ 238 mil. A passagem para a “missão parlamentar” sobre Sistemas de Saúde, em Baltimore (EUA), na classe executiva, custou R$ 66 mil. As passagens para conferência em Singapura, também na classe executiva, chegaram a R$ 135 mil.
Irajá (PSD-TO) gastou R$ 337 do “Cotão”, mas torrou R$ 90 mil com correios e R$ 30 mil com impulsionamento de mídias. As despesas com viagens internacionais somaram mais R$ 331 mil. Só as diárias custaram R$ 104 mil. As passagens aéreas, mais R$ 227 mil. As suas despesas chegaram a R$ 796 mil.
O senador afirmou ao blog que é presidente da Frente Parlamentar de Relacionamento com o Brics no Senado Federal. "Essas nações têm enorme peso na balança comercial do nosso país e é natural que ele participe de fóruns internacionais sobre produção de alimentos, energias renováveis e logística, com o objetivo de atrair novos parceiros para a geração de empregos e renda no Brasil”, disse nota enviada pelo senador.
Rogério Carvalho (PT-SE) usou R$ 570 mil do Cotão, sendo R$ 177 mil com autopromoção e R$ 183 com locomoção. Os alugueis de carrões custaram R$ 166 mil. De julho a novembro, o senador pagou R$ 15 mil mensais pelo aluguel de uma caminhonete Ford F-150. Ele ainda torrou R$ 200 mil com viagens internacionais.
As despesas milionárias
As despesas com passagens aéreas nacionais continuam liderando os gastos dos senadores, apesar da alternativa das sessões remotas. Os gastos chegaram a R$ 9,8 milhões em 2023. A contratação de serviços de apoio ao parlamentar custou R$ 6,4 milhões. A maior despesa no ano foi de Omar Aziz – R$ 360 mil. Como revelou o blog, essa despesa é difusa, porque abriga a maior parte da verba de “divulgação da atividade parlamentar” – uma autopromoção do mandato dos senadores. Essa “divulgação” custou R$ 3,6 milhões no ano passado.
Os senadores têm direito a alugar imóveis para escritório político nos estados. O gasto chegou a R$ 3,5 milhões em 2003. A maior despesa foi do senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo Lula no Senado.
As despesas dos senadores com locomoção, hospedagem, alimentação e combustível somaram R$ 6,1 milhões em um ano. O líder do ranking da gastança foi Ciro Nogueira (PP-PI). Dos 280 mil gastos, R$ 120 mil foram destinados ao aluguel de uma Toyota Diamond SW4 – um veículo avaliado em cerca de R$ 330 mil.
Um salário mínimo por um jantar
Giordano (MDB-SP) continua liderando o ranking da gastança em restaurantes. Ele torrou R$ 59 mil com 219 refeições em 2023. A maior despesa foi feita na Cervantes, Tabacaria e Restaurante – R$ 1.314 ( quase um salário mínimo) num só banquete, no tradicional bairro paulista Cerqueira César, em agosto. Foram servidas três Fraldinhas com Arroz Biro-Biro por R$ 390. Teve ainda uma Moquequinha por R$ 189, um Bacalhau por R$ 168 e outros pratos. Quatro refeições nesse restaurante custaram, em média, R$ 760.
Em maio, Giordano pagou R$ 1.024 por um jantar no restaurante Walju, no bairro Bela Vista. O senador afirmou ao blog que os pedidos são feitos em respeito às normas legais, “estando restritos a compromissos de natureza política, funcional ou de representação parlamentar, nos moldes do regramento estabelecido pelo Senado”.
Os serviços de correios utilizados pelos senadores custaram R$ 2,1 milhões. A maior despesa foi do senador Flávio Bolsonaro – R$ 152 mil. A aquisição de material de consumo somou R$ 915 mil. As cotas de impulsionamento em mídias sociais ficaram em R$ 467 mil. Chico Rodrigues, aquele do dinheiro na cueca, gastou R$ 31 mil para melhorar a imagem.
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima