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Lúcio Vaz

Lúcio Vaz

Cotão

Quem são os deputados que menos gastam verba de gabinete? E os mais gastadores?

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, rodeado por deputados durante a discussão da reforma da Previdência no Plenário.
Mesa diretora da Câmara durante a discussão da reforma da Previdência: valor gasto pelos deputados no primeiro semestre deste ano caiu em relação ao mesmo período de 2018. (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

As despesas feitas pelos deputados federais no primeiro semestre deste ano representam 74% dos gastos no mesmo período do ano passado – uma economia de R$ 120 milhões. Alguns exageros foram mantidos, como as vultosas quantias aplicadas na publicidade do mandato, mas há boas novidades. O Partido Novo gastou apenas 30% da média das demais legendas com a cota para o exercício do mandato, o cotão, e usou só 52% da verba disponível para contratar assessores nos seus gabinetes.

Até junho deste ano, os deputados usaram R$ 69,5 milhões do cotão e investiram R$ 257 milhões na contratação de servidores. No ano passado, no primeiro semestre, haviam gasto R$ 113 milhões da cota para o exercício do mandato e investido R$ 326 milhões para lotar seus gabinetes com assessores.

Dois deputados usaram menos de R$ 1 mil do cotão em seis meses neste ano. A deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF) só fez despesa com telefonia: míseros R$ 202. O deputado Hercílio Diniz (MDB-MG), dono da rede de supermercados Coelho Diniz, usou R$ 608 na mesma despesa. Para os deslocamentos até Governador Valadares (MG), onde mora, usa voos de carreira pagos do próprio bolso ou utiliza o seu bimotor turbo-hélice Baron.

“Não tenho a política como profissão”, afirma Diniz. “Está dando para trabalhar, mas tem um custo com locomoção, hospedagem, moradia”, explica o deputado, que também abriu mão de apartamento funcional e auxílio-moradia e contratou apenas oito dos 25 assessores possíveis. Ele declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 38,8 milhões.

Com patrimônio de R$ 5,6 milhões, a empresária Paula Belmonte também usa parte do salário para contratar assessores na área de comunicação e cobrir despesas com deslocamento. Ela afirma que é possível tocar o mandato com pouco dinheiro. “Temos que otimizar o recurso que é do contribuinte, porque não existe recurso público, o recurso é de cada um de nós. Principalmente neste momento de recessão no país, com pessoas desempregadas, com recursos escassos para a saúde, a educação”, diz.

“Fazer jus a cada centavo”

Em seis meses, os oito deputados do Novo gastaram apenas R$ 304 mil do cotão – a maior parte com passagens para o deslocamento a Brasília, um total de R$ 121 mil. Com divulgação, foram apenas R$ 59 mil. Cada deputado gastou em média R$ 38 mil no semestre. A média nos demais partidos chegou a R$ 127 mil. O PT liderou os gastos, com média de R$ 159 mil por deputado.

Três deputados do Novo estão entre os dez que menos gastaram com o cotão. O mais econômico foi Tiago Mitraud (MG), que usou apenas R$ 14,3 mil, sendo R$ 5 mil com passagens aéreas para se deslocar até o Congresso. O líder da bancada, Marcel Van Hatten (RS), utilizou R$ 21 mil – R$ 11,4 mil com passagens para Porto Alegre.

Van Hatten afirma que é possível tocar o mandato com economia. “É possível. Vários rankings colocam os deputados do Novo como os mais eficientes do Congresso. Procuramos fazer mais com menos. Os eleitores do partido exigem essa austeridade”. Ele acrescenta que a transparência ajuda. “Faz com que o deputado procure fazer jus a cada centavo que o cidadão paga em impostos que são reinvestidos no exercício do mandato”.

O líder da bancada, que teve destaque nos debates da reforma da Previdência, explica como a bancada fez a divulgação do mandato com apenas R$ 49 mil no semestre: “A divulgação é pelas redes sociais. É muito mais barato e são meios mais eficientes e rápidos de chegar ao eleitor. Também usamos as entrevistas que concedemos à imprensa. Quanto mais fizermos coisas boas para o país, mais chamaremos a atenção e não precisaremos gastar para nos mostrarmos mais aparentes à opinião pública”.

Partidos enchem os gabinetes

Os partidos utilizaram, em média, 87% da verba destinada à contratação de assessores – R$ 111 mil por mês. O PT utilizou 94% da cota, num total de R$ 29 milhões. O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, usou 80%, ou R$ 25 milhões. O Novo chegou a apenas 52% dos recursos disponíveis, investindo R$ 2,3 milhões em assessores. O gasto médio por deputado ficou em R$ 290 mil. No PT, a média atingiu R$ 542 mil.

O Novo havia decidido preencher apenas a metade das vagas nos gabinetes. Na reunião de avaliação que fez nesta semana, a bancada descobriu que conseguiu mais: reduziu o número de assessores de 12 para sete, em média. “Decidimos reduzir em 50% o número de assessores, mas a média é de sete em cada gabinete. Tenho seis aqui em Brasília e dois em Porto Alegre, e eles têm dado conta do recado”, comenta Van Hatten.

Os partidos que integram o Centrão (PP, PRB, PL, PTB e Cidadania) tiveram gasto médio de R$ 503 mil por deputado na contratação de assessores. O PCdoB ficou na segunda colocação, com R$ 528 mil por deputado.

Os deputados mais gastões

As novas práticas, por enquanto, convivem com os métodos da “velha política”, que torra milhões em divulgação do próprio mandato, aluguel de carros, de aviões, combustível, consultorias. O cotão já sangrou os cofres públicos em R$ 69,5 milhões neste ano. Mas a maior despesa está na contratação de assessores, um total de R$ 257 milhões em seis meses.

O campeão de gastos no primeiro semestre foi o deputado Cássio Andrade (PSB-PA), com R$ 243 mil – próximo ao total da bancada do Novo. Ele investiu R$ 103 mil na divulgação do mandato, imprimindo 205 mil informativos para seus eleitores.

Andrade justifica a prática: “sempre produzi e distribui muitos informativos impressos, para garantir o máximo de divulgação sobre minhas atividades legislativas e políticas. Entendo isto como dever do político eleito e um direito do cidadão, do eleitor. Cada deputado define suas estratégias de trabalho. Alguns alugam carros, outros gastam em contratação de táxi aéreo, em aluguel de escritórios políticos. Eu priorizo a comunicação com o público”.

Ele expôs outro motivo. “No Pará, ainda há muita exclusão digital, principalmente nas comunidades isoladas, onde atuo, pois na sua grande maioria não há internet, ou é instável e lenta, como nas próprias sedes municipais”.

A mesma estratégia foi adotada por Wellington Roberto (PL-PB), que investiu R$ 174 mil em divulgação. Ele distribuiu 600 mil informativos ao custo de R$ 160 mil neste semestre. O público alvo do deputado está no sertão da Paraíba: “A massa de eleitores dele é do Cariri. Ele é pouco votado nos grandes centros”, comentou um assessor do deputado. Total gasto com o  cotão: R$ 226 mil.

Nas asas da Câmara

Fernando Rodolfo (PL-PE) consumiu R$ 241 mil, sendo R$ 69 mil em passagens aéreas. Além do seu deslocamento a Recife, ele bancou 29 passagens para oito assessores. Só o assessor Emílio Duarte Silva fez 17 voos, numa despesa total de R$ 23 mil, tudo por conta da Câmara. Segundo relato da assessoria do gabinete, Emílio faz assessoria jurídica para o deputado, analisando projetos e pareceres, mas mora em Recife. Assim, precisa fazer constantes deslocamentos a Brasília.

Os outros são assessores que têm contatos políticos em Caruaru, Garanhuns, Salgueiro. Até o chefe de gabinete do deputado, Daniel Vesely, fez viagens a Recife com recursos do cotão.

Vicentinho Júnior (PL-TO) investiu R$ 175 mil na empresa de consultoria DMD, que acompanha a tramitação de convênios de prefeituras do estado. A assessoria do deputado afirma que há escassez de funcionários qualificados nos municípios. O total da cota usada por Vicentinho chegou a R$ 227 mil.

Silas Câmara (PRB-AM) gastou um total de R$ 235 mil. Investiu R$ 148 mil na impressão de 257 mil informativos e R$ 80 mil em aluguel de aviões para percorrer seus redutos eleitorais no Amazonas. Esteve em Boca do Acre, Caruari e Parintins.

Veja abaixo a lista dos 10 deputados que mais gastaram dinheiro do cotão no primeiro semestre deste ano:

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