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Lúcio Vaz

Lúcio Vaz

O blog que fiscaliza o gasto público e vigia o poder em Brasília

Mordomias

Viagem de Lula a Cuba na pandemia foi a mais cara de um ex-presidente em 2020

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou a Cuba em 21 de dezembro, dia em que o número de novos casos da Covid-19 no Brasil bateu em 49 mil e de mortes em 779. Participaria das gravações de um documentário sobre a América Latina. Cinco dias depois, atestou positivo para a Covid-19. A viagem de 30 dias custou R$ 163 mil aos cofres públicos em diárias e passagens para assessores. Nove integrantes da comitiva foram contaminados. As gravações foram adiadas para outra data. Mais despesas à vista.

A aventura em Havana representou quase 40% das despesas de Lula com viagens no ano passado e 20% do gasto dos seis ex-presidentes da República com deslocamentos no ano da Covid-19 – um total de R$ 770 mil. No ano anterior, essa despesa chegou a R$ 1,2 milhão, com Lula preso. Em 2020, o líder petista também esteve em Roma, Paris, Berlim e Genebra, gastando R$ 357 mil em viagens internacionais. Incluindo as nacionais, os gastos chegaram a R$ 423 mil.

Na viagem a Cuba, três integrantes da equipe receberam um total de 90 diárias no valor de R$ 156 mil – média de R$ 1,7 mil. Cada um recebeu entre R$ 50 mil e R$ 54 mil. No tour europeu, onde Lula recebeu homenagens e teve encontros com políticos e intelectuais durante 11 dias, no final de fevereiro, cada diária de assessores e seguranças custou R$ 2 mil. As despesas de oito servidores com diárias e passagens chegou a R$ 136 mil. Incluindo os gastos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que também esteve em Paris, o roteiro custou R$ 177 mil ao contribuinte.

Quanto custou a conversa de Lula com o papa

Na viagem de Lula a Roma, em fevereiro de 2020, para um encontro de uma hora com o papa Francisco, para “conversar sobre um mundo mais justo e fraterno” – segundo relato do ex-presidente –, foram gastos R$ 57 mil com passagens aéreas e 22 diárias para três assessores. Nos primeiros 100 dias em liberdade, após 580 dias de prisão em Curitiba, o ex-presidente torrou R$ 300 mil em viagens nacionais e internacionais.

Os ex-presidentes têm direito a oito servidores públicos – incluindo assessores, seguranças e motoristas –, passagens aéreas, diárias, cartão corporativo, carro oficial e combustível, como prevê a Lei 7.474/1986. Dois assessores ocupam cargo de DAS-5, com salário de R$ 13,6 mil. O gasto médio anual de um ex-presidente chega a R$ 1 milhão. Essa despesa já superou os R$ 60 milhões. Os gastos são pagos pela Presidência da República, ou seja, com dinheiro público.

O então deputado federal Jair Bolsonaro chegou a apresentar um projeto de lei, seis meses antes das eleições presidenciais de 2018, para revogar integralmente a Lei 7.474. Depois de eleito, não tocou mais no assunto. O projeto está parado na Câmara há um ano. Se assim permanecer, Bolsonaro terá direito às mesmas mordomias.

Paris, Cartagena e Rio de Janeiro

As viagens da ex-presidente Dilma em 2020 custaram ao todo R$ 116 mil, sendo R$ 79 mil em eventos internacionais. Bem menos do que os R$ 697 mil gastos no ano anterior. No Hay Festival, em Cartagena das Índias (Colômbia), ela afirmou que “a extrema de direita de Jair Bolsonaro é um lobo solitário que devorou o centro e a própria direita”. Disse que o seu impeachment foi “duro e irracional” porque afastou uma “inocente” eleita com 55 milhões de votos. A viagem custou R$ 42 mil.

Nas homenagens a Lula em Paris, ela gastou mais R$ 37 mil. Dois assessores de Dilma ficaram 4 dias e meio em Paris e depois passaram por Rio de Janeiro e Brasília, até retornar a Porto Alegre. Cada um deles recebeu R$ 8,7 mil em diárias.

Nos deslocamentos no país, as despesas somaram R$ 36 mil. A viagem mais cara foi de Porto Alegre para o Rio de Janeiro, de 25 de dezembro a 9 de janeiro, num total de R$ 12 mil. A equipe de apoio recebeu 40 diárias que somaram R$ 9 mil. Ele também pegou voos para São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.

Collor acumula verba e cota de senador

O ex-presidente Fernando Collor gastou R$ 187 mil com viagens em 2020, todas elas nacionais. Foram 412 diárias, no valor total de R$ 90 mil. A maior parte dos deslocamentos foi para Maceió e São Paulo. Em oito trechos para São Paulo, seus seguranças viajaram em veículo oficial. No ano anterior, Collor havia torrado R$ 233 mil com viagens.

Senador por Alagoas, Collor conta ainda com verbas da “Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar”, paga pelo Senado Federal. Em 2020, ele utilizou apenas R$ 15,3 mil dessa cota para comprar passagens, todas para Maceió. Como economizou com passagens, pode investir muito em divulgação do mandato – gastos incluídos da rubrica de “serviços de apoio parlamentar”.

Gastou R$ 205 mil com a Superphoto Comunicação, que faz consultoria de arquivo de imagens, e R$ 170 mil com a Texto e Contexto, que faz assessoria de Comunicação. Ainda contratou a Conlegis, de assessoria legislativa, por R$ 16 mil. Collor também conta com mais um carro oficial alugado pelo Senado.

FHC, Sarney e Temer reduziram gastos

As viagens do ex-presidente Michel Temer custaram R$ 22,5 mil no ano passado, sendo R$ 13,7 mil com passagens para seguranças. Apenas uma foi internacional, para Beirute, ao custo de R$ 5,7 mil, como chefe da comitiva brasileira que levou alimentos e medicamentos para o Líbano, onde ocorreu uma violenta explosão que deixou mais de 160 mortos e 4 mil feridos. Ele foi destacado para a missão pelo presidente Bolsonaro. Em 2019, Temer havia gasto R$ 81 mil com viagens.

O ex-presidente José Sarney gastou R$ 18 mil com deslocamentos, quase todos para São Luis. Em cinco viagens, sua equipe de apoio recebeu 56 diárias, num total de R$ 18 mil. No ano anterior, as viagens de Sarney haviam somado R$ 58 mil.

Os seguranças do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fizeram apenas cinco viagens, quatro delas em veículos oficiais, para o Rio de Janeiro e para Ibiúna (SP), onde ele tem uma fazenda. As despesas somaram R$ 3,2 mil. Em 2019, as despesas de FHC com viagens haviam totalizados R$ 43,7 mil.

Aventura em Cuba com o seu dinheiro

Lula foi a Havana para participar do início das gravações de um documentário produzido e dirigido pelo cineasta norte-americano Oliver Stone. Estava acompanhado da mulher, Janja, e de sete integrantes da sua comitiva. Todos foram submetidos a exames de diagnóstico da Covid-19 no Brasil, ao embarcar, e na chegada a Cuba.

O teste de RT-PCR foi repetido em 26 de dezembro e apontou positivo para o ex-presidente e outros membros da equipe, confirmando serem “casos importados através da investigação epidemiológica”, segundo nota oficial do Instituto Lula.

Nove membros da comitiva tiveram diagnóstico positivo ao longo do monitoramento. Todos permaneceram em isolamento sob vigilância sanitária. O ex-presidente comunicou a doença apenas na chegada ao país. Lula e sua equipe não necessitaram de internação hospitalar, exceto o escritor Fernando Morais, que permaneceu internado por 14 dias, por complicações pulmonares.

A "irresponsabilidade do presidente", segundo Lula

O ex-presidente foi diagnosticado com lesões pulmonares compatíveis com broncopneumonia associada à Covid-19, apresentando excelente recuperação. Ao retornar, agradeceu a solidariedade cubana e elogiou o sistema de saúde daquele país, “que adota um protocolo unificado, inspirado na ciência e nas diretrizes da OMS”.

Aproveitou para criticar o presidente Bolsonaro: “Quero estender as minhas saudações aos profissionais de saúde que se esforçam para fazer o mesmo aqui no Brasil, apesar da irresponsabilidade do presidente da República e do ministro da Saúde”. Acrescentou que somente a vacinação da humanidade pode livrá-la do coronavírus.

As gravações do documentário foram adiadas para uma data futura, quando as condições sanitárias permitirem. O blog perguntou à assessoria de Lula quanto tempo duraria a estada de Lula em Cuba se não houvesse a contaminação e quanto custou ao governo brasileiro o tratamento dos servidores infectados em Cuba. Não houve resposta.

Na ilha, após a alta epidemiológica, reuniu-se com o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel; o 1º secretário do Partido Comunista de Cuba, Raul Castro; e o primeiro ministro de Cuba, Manuel Marrero.

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