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O presidente Jair Bolsonaro gastou R$ 2,7 milhões em 37 viagens para participar de visitas e cerimônias militares em dois anos de governo. O valor compraria 50 mil doses de vacina Coronavac. Em pelo menos 12 eventos, o presidente foi acompanhado do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, ou de comandantes militares, que viajaram em outros jatinhos da FAB. Considerando os eventos em Brasília, foram 58 solenidades militares.
Dezesseis dessas viagens foram realizadas durante a pandemia da Covid-19, a um custo de R$ 1,16 milhão. Cinco viagens foram realizadas em dezembro, quando já havia começado a “segunda onda” da epidemia. Naquele mês, surgiu mais 1,3 milhão de novos casos e ocorreram 21 mil mortes.
Em dezembro, Bolsonaro desdenhava e levantava dúvidas sobre a eficácia de vacinas. “Se você virar um jacaré, é problema de você, pô. Se nascer barba em alguma mulher ou algum homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso”, afirmou, referindo-se à vacina da Pfizer, que foi oferecida ao governo brasileiro em agosto.
Sem máscaras e com “arminha”
As cerimônias militares geram aglomerações e nem sempre os participantes seguem medidas de segurança para evitar a contaminação do coronavírus, como aconteceu na solenidade de declaração dos novos aspirantes da Aeronáutica, em Pirassununga (SP), em 4 de dezembro do ano passado. Bolsonaro misturou-se a dezenas de aspirantes, que gritavam ao seu lado, sem usar máscaras, muitos fazendo com a mão uma “arminha” – símbolo da pauta armamentista do presidente.
Os eventos geralmente são formaturas de aspirantes e sargentos, com entrega de espadas, passagens de comando, lançamento de pedra fundamental e visitas. O presidente esteve, por exemplo, na solenidade de incorporação dos alunos recém-matriculados no 6º ano do ensino fundamental no Colégio Militar de São Paulo. Essa viagem custou R$ 166 mil. Esteve também em cinco formaturas de promoção a sargento. Teve homenagens ao dia do marinheiro, do aviador, do Exército, da Força Aérea, da Cavalaria, da Vitória e da Pátria.
Como mostrou reportagem do blog, o ministro da Defesa e os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica gastaram R$ 1,3 milhão com jatinhos em deslocamentos para visitas e cerimônias militares em 2020. Foram 134 horas de voo no cumprimento das missões festivas – 47% do total de deslocamentos dos comandantes militares. Os maiores gastos foram do comandante do Exército, o general Edson Pujol, num total de R$ 567 mil em 34 voos.
Congestionamento de jatinhos
A passagem do Comando Militar do Leste, em 14 de agosto do ano passado, uma sexta-feira, atraiu vários jatinhos. Bolsonaro partiu para o Rio de Janeiro na sexta bem cedo, para participar da inauguração da Escola Cívico Militar. No final da manhã, esteve da passagem de comando, em companhia do ministro da Defesa e do comandante do Exército, general Leal Pujol. No dia seguinte, o presidente também esteve na cerimônia de brevetação dos novos paraquedistas. Com dois escalões avançados, a viagem custou R$ 286 mil.
Mas as festividades tiveram ainda mais despesas. Pujol havia viajado para o Rio na quinta à tarde, em jatinho da FAB. Após a passagem do comando, decolou do Galeão às 14h de sexta, em direção a Canoas (RS). Os dois deslocamentos custaram R$ 34 mil.
O general Fernando Azevedo havia viajado para o Rio na terça-feira (11). Foi uma semana de festas. Na quarta, prestigiou a passagem de comando da 1ª Divisão de Exército. Na quinta, esteve na cerimônia de despedida do general Luiz Eduardo Ramos. Na sexta, na passagem do Comando do Leste. No sábado, na brevetação de paraquedistas. Retornou a Brasília no meio da tarde de sábado. Seus deslocamentos em jatinhos custaram mais R$ 30 mil.
Pirassununga atraiu mais autoridades
Bolsonaro viajou para Pirassununga no dia 4 de dezembro do ano passado, uma sexta-feira, bem cedo, para a solenidade de declaração dos novos aspirantes da Aeronáutica. A viagem custou R$ 47,5 mil. Ao meio dia, rumou para Salvador, onde prestigiou as Assembleias Gerais Ordinárias da Convenção Estadual das Assembleias de Deus da Bahia – outro evento com muita aglomeração. Às 5 da tarde, partiu para Resende. No dia seguinte, esteve na solenidade de entrega de espadins e de declaração de aspirantes da AMAN. Recebeu homenagem com salva de 21 tiros e caminhou acompanhado da cúpula militar sem o uso de máscara de proteção. Mais R$ 105 mil na conta do contribuinte.
A cerimônia em Pirassununga atraiu ainda mais autoridades. O Comandante da Marinha, Ilques Barbosa, viajou do Rio de Janeiro para Pirassununga, no início da manhã de sexta, em jatinho da FAB. O Ministro da Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez, partiu de Brasília para Pirassununga às 7h da manhã – uma hora e meia antes da decolagem do avião presidencial. Após o evento, voou para o Rio de Janeiro no início da tarde.
Há registros de dois voos do ministro da Defesa, um de Pirassununga para Resende, no dia 4, e outro de São José dos Campos para Brasília, no dia 5. Os deslocamentos do ministro e dos comandantes militares custaram R$ 56 mil. Eles foram saudados no discurso do presidente da República.
Submarino e entrega de espadas
Nos dias 11 e 12 de dezembro, o presidente da República e integrantes da cúpula militar fizeram mais uma festança no Rio de Janeiro. Primeiro, presenciaram a cerimônia do Dia do Marinheiro, na Base Naval em Itaguaí (RJ). Em seguida, fizeram visita ao submarino nuclear de ataque americano USS "Vermont", que estava atracado na base de submarinos.
No dia seguinte, estiveram na cerimônia de declaração de guardas-Marinha de 2020 e entrega de espadas da Turma Capitão-Mor Jerônimo de Albuquerque, no Rio de Janeiro. As despesas de viagens para os dois eventos somaram R$ 182 mil. O ministro da Defesa viajou de Brasília para o Rio no dia 10 e o comandante da Marinha no dia 9, cada um no seu jatinho. Esses voos custaram R$ 43 mil.
Bolsonaro participou da cerimônia de entrega de espadim aos cadetes da Turma “Centenário da Missão Militar Francesa no Brasil”, em Resende, dia 17 de outubro. A viagem custou R$ 115 mil. O comandante do Exército chegou ao evento por Guaratinguetá, partindo de Brasília, no dia 16. O ministro da Defesa decolou de Brasília para o Rio e depois seguiu para Resende. Os voos extras em jatinhos da FAB custaram mais R$ 58 mil.
Amado Batista e viagem afetiva
Em 2019, houve muitas cerimônias que seriam repetidas em 2020, mas alguns eventos foram únicos. Em 15 de junho, um sábado, Bolsonaro voou para Santa Maria (RS) para a cerimônia comemorativa ao 218º aniversário de nascimento do Marechal Emilio Mallet, patrono da arma de artilharia do Exército. A viagem custou R$ 59 mil. No dia 19, já estava em Guaratinguetá, para a formatura da 248ª Turma do curso de formação de sargentos da Aeronáutica. Mais uma despesa de R$ 43 mil. O ministro da Defesa seguiu para evento de Brasília, no seu jatinho da FAB.
Na semana seguinte, em 26 de julho, o presidente foi a Goiânia. Almoçou com o cantor Amado Batista, em encontro de três horas, visitou o Comando de Operações Especiais e participou, à noite, da cerimônia de comemoração do 161º Aniversário da Polícia Militar de Goiás e formatura da 45ª Turma de Aspirantes. Com a utilização de dois escalões avançados, a viagem saiu por R$ 98 mil.
O presidente da República partiu para Anápolis (GO) às 10h20 do dia 4 de setembro para a cerimônia de recebimento da Aeronave Embraer KC-390. O evento durou apenas uma hora e custou R$ 66 mil. O comandante da Aeronáutica decolou de Brasília para Anápolis no seu jatinho às 9h20 – uma hora antes do presidente.
Saltando e subindo a rampa
Em 11 de outubro, Bolsonaro seguiu de São Paulo ao Rio de Janeiro para uma visita ao submarino Riachuelo, na Base Naval de Itaguaí, e a “cerimônia de início de integração” do submarino Humaitá. O comandante da Marinha seguiu de Brasília para o evento em jatinho da FAB. A viagem do presidente custou R$ 58 mil. Lá também estavam o ministro da Defesa e o comandante da Aeronáutica.
Bolsonaro foi ao Rio de Janeiro em 23 de novembro para a celebração do 74° aniversário de criação da Brigada de Infantaria Paraquedista, que ele integrou no final de 1977. Bolsonaro homenageou os paraquedistas com uma metáfora: “Nós sempre saltamos da rampa do avião e agora subimos pela vontade popular a rampa do Planalto Central. Isso é motivo de honra e orgulho para todos”. O contribuinte entrou com mais R$ 122 mil nessa viagem de caráter afetivo.
Em 6 de dezembro, o presidente esteve na solenidade de promoção dos novos aspirantes a oficial da FAB em Pirassununga, com despesa de R$ 32 mil. O Comandante da Aeronáutica partiu de Brasília para o evento no seu jatinho. No dia seguinte, Bolsonaro já estava na cerimônia de declaração de guardas-marinha e entrega de espadas. Mais uma despesa de R$ 110 mil para os pagadores de impostos.