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Mesmo depois que Luiz Inácio Lula da Silva deixou o Palácio do Planalto, a Presidência da República continuou bancando despesas do petista em viagens pelo mundo. Os maiores gastos do ex-presidente aconteceram em 2011, logo depois que ele deixou o governo – um total de R$ 1,44 milhão. Só as internacionais somaram R$ 1,16 milhão (tudo em valores atualizados pela inflação).
O mais curioso, porém, foram as viagens para Atibaia (SP), onde ele usufruía de um sítio que o levou a uma condenação a 17 anos de prisão. Lula fez 30 viagens para Atibaia em 2014, permanecendo um total de 92 dias hospedado na casa atribuída a ele.
Os dados constam na prestação de contas das despesas do ex-presidente com diárias e passagens. Somente em janeiro de 2014, Lula ficou 19 dias em Atibaia. Ele foi acompanhado por quatro seguranças/assessores de 5 a 13 de janeiro, por exemplo. Cada um recebeu 8 diárias e meia. De 1º a 6 de janeiro, outra equipe já havia estado em Atibaia por 5 dias e meio. Em junho e julho, foram 11 e 14 dias de retiro, respectivamente.
Os deslocamentos de São Bernardo ou de São Paulo para o local da chácara eram feitos sempre em veículos oficiais. Cada ex-presidente dispõe de dois deles. No final do ano passado, foram comprados 12 carros para renovar a frota dos ex-presidentes. São veículos sedan, quatro portas, com ar-condicionado, direção hidráulica, airbag e freio ABS.
Lula foi sentenciado em primeira instância, na 13ª Vara Federal de Curitiba, a 12 anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo o Ministério Público Federal, empreiteiras fizeram obras no sítio em Atibaia para usufruto de Lula em troca de benefícios em contratos com a Petrobras. No Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a pena foi ampliada para 17 anos de prisão. O ex-presidente nega as acusações.
Paris, Lisboa, Nova York... as viagens de Lula pelo mundo
Os assessores e seguranças de Lula receberam R$ 653 mil em 1.026 diárias e gastaram R$ 781 mil com passagens aéreas acompanhando o ex-presidente em 2011. Apenas as viagens pelo mundo custaram R$ 500 mil com 613 diárias, mais R$ 667 mil com passagens. Todos os valores foram atualizados pela inflação.
Lula esteve em Paris, Madri, Nova York, Washington, Cidade do México, Lisboa, Luanda, Bogotá e outras cidades menos famosas. A Presidência da República não custeia as passagens nem paga diárias aos ex-presidentes.
Em março de 2011, Lula foi a Lisboa receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Coimbra. As diárias e passagens custaram R$ 54 mil aos cofres públicos brasileiros. No mesmo mês, ele participou do 6.º Fórum Anual da Al-Jazira, rede de televisão com sede em Doha (Catar), como um dos palestrantes do painel “O mundo árabe em transição: o futuro chegou?”. As despesas ficaram em R$ 47 mil.
Em maio, Lula esteve em Manágua, na Nicarágua, com líderes de esquerda da América Latina, participando do XVII Foro de São Paulo. Mais uma despesa de R$ 58 mil.
O ex-presidente retornou a Lisboa em setembro para receber a medalha Leonardo Da Vinci, oferecida a personalidades que contribuíram para a educação na área da engenharia. O custo da viagem ficou em R$ 80 mil.
No mesmo mês, recebeu mais um título de doutor honoris causa em Paris, dado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Lula foi aclamado por estudantes e manteve reunião fechada com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, durante 45 minutos. Mais R$ 74 mil na conta da Presidência da República do Brasil.
Em outubro, na Cidade do México, o ex-presidente recebeu o prêmio Amalia Solórzano, oferecido a personalidades que se destacaram no trabalho pelo desenvolvimento do seu país. O prêmio é concedido pelo Centro Lázaro Cárdenas y Amalia Solórzano. A conta fechou em R$ 95 mil.
Em 2014, Lula viajou menos – mas gastou R$ 819 mil
Mesmo reduzindo o volume de viagens para o exterior, Lula fez 13 viagens pelo mundo em 2014. A mais cara foi para Abuja, capital da Nigéria, onde participou do "Fórum Econômico Mundial para a África” – uma versão africana do "Fórum Econômico Mundial", realizado anualmente em Davos, na Suíça. O custo ficou em R$ 80 mil. Ele passou antes em Luanda, em Angola, deixando mais uma despesa de R$ 38 mil em diárias e passagens.
Em abril, o ex-presidente recebeu da Universidade de Salamanca, na Espanha, título doutor honoris causa por seu apoio à educação e por combater as desigualdades sociais. Mais R$ 52 mil na conta da Presidência.
Em fevereiro, Lula já havia estado em Havana, onde visitou as obras no Porto Mariel, acompanhado do presidente de Cuba, Raul Castro. As obras tiveram o custo total de U$ 957 milhões. A maior parte – U$ 680 milhões – foi tocada pela empreiteira brasileira Odebrecht, que logo estaria no centro da Operação Lava Jato. A empresa tocou a obra em Cuba com financiamentos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O ex-presidente também esteve em Roma, Milão, Nova York, Lisboa, Bilbao e Montevidéu. O custo total das viagens internacionais ficou em R$ 369 mil. Considerando também as viagens nacionais, o total fechou em R$ 819 mil.
Gastos são garantidos por lei aos ex-presidentes
Os dados das viagens foram solicitados pelo blog à Presidência da República por meio da Lei de Acesso à Informação. As respostas foram fornecidas após a apresentação de recursos em primeira e segunda instância na Secretaria Geral da Presidência, que alegava a impossibilidade de responder pelo volume de dados que seria processado.
A previsão de que a Presidência da República arque com esse tipo de despesa consta na Lei 7.474, de 1986, e no decreto nº 6.381, de 2008. Conforme o blog já mostrou em outra reportagem, as despesas com esse tipo de mordomia para os ex-presidentes (não só Lula) já somam R$ 60 milhões.
Considerando todas as despesas, Lula já gastou R$ 9,9 milhões (em valores atualizados) desde que deixou a Presidência da República, em janeiro de 2011. A sua despesa média por ano está em R$ 1,2 milhão, sem contar os 19 meses em que esteve preso em Curitiba. Naquele período, foram cortadas as verbas para diárias e passagens, mas mantidos os oito assessores disponibilizados por lei a cada ex-presidente, a um custo de R$ 1 milhão.