No intervalo de um mês, em 2010, cartões corporativos que pagavam as despesas do então presidente Lula no Palácio da Alvorada compraram 10 garrafas de cachaça Anísio Santiago, no valor unitário de R$ 472. A adega recebeu ainda 13 garrafas de vodca Absolut, por R$ 150 cada, e 36 garrafas de Johnny Walker black, por R$ 236 a unidade. Em setembro de 2014, no governo Dilma Rousseff, foram adquiridas seis garrafas do vinho português Pêra-Manca por R$ 965 a unidade. O camarão GGG custava R$ 225 o quilo. Todos os valores da reportagem foram atualizados pela inflação.
Os dados foram obtidos na Presidência da República por meio da Lei de Acesso à informação. O blog solicitou acesso aos arquivos físicos das prestações de contas de gastos dos então presidentes Lula e Dilma com cartões corporativos em 2010 a 2014. Os dados incluem viagens e despesas do Alvorada. A resposta ocorreu em 13 de maio. A análise dos dados foi feita em visitas presenciais a um anexo da Secretaria Geral da Presidência, com a impressão de cópias de documentos originais.
Essas despesas ficam em sigilo durante o mandato do presidente da República, como prevê a Lei de Acesso. São “desclassificadas” após o término do mandato. Em caso de reeleição, após o término do segundo mandato. Qualquer cidadão pode solicitar essas informações diretamente à Presidência da República pela internet.
Os períodos analisados coincidem com as campanhas eleitorais de 2010 e 2014. O blog já havia revelado os gastos com cartões corporativos nos deslocamentos da então presidente Dilma, em agosto e setembro de 2014, quando ela presidia o país e estava em campanha eleitoral. Ela teve o reforço de Lula em comícios em 2010. Os documentos mostram que a Presidência da República paga as despesas com servidores da segurança e apoio técnico em qualquer deslocamento presidencial, inclusive para eventos eleitorais.
Bebidas sofisticadas no palácio
Em 12 de agosto de 2010, foram adquiridas 7 garrafas de Absolut, e 6 garradas de cachaça Anísio Santiago, mais alguns vinhos, num total de R$ 4 mil, na Casa do Vinho. No dia 25 daquele mês, no mesmo local, foram compradas mais 24 garrafas de Johnny black no valor total de R$ 5,7 mil. Em 10 de setembro, mais compras na Casa do Vinho: 12 garrafas de black, 5 Anísio Santiago e 6 Absolut, totalizando R$ 6,6 mil.
Na gestão de Dilma, surgiram bebidas mais sofisticadas. Em 23 de julho, foi feito um pedido de compra de vinhos para o Alvorada. Deveriam ser 6 unidades de vinho tinto português da região Península de Setúbal e 3 unidades de vinhos da região Alentejo. Foram compradas 6 garrafas do vinho português Quinta da Bacalhoa por R$ 200 a unidade e mais 3 garrafas do vinho Pêra-Manca. A conta fechou em R$ 4 mil.
O vinho Pêra-Manca, da Adega Cartuxa, em Évora, parece ter agradado. Em 9 de setembro, foram compradas mais 6 garrafas desse vinho para o Alvorada, por um total de R$ 5,8 mil. Atualmente, alguns vinhos Pêra-Manca chegam ao valor de R$ 5 mil.
Mesa farta, com camarão, bacalhau, robalo
O blog checou as compras de carnes nobres para o Alvorada nos meses de agosto e setembro de 2010. Em 6 de agosto, foram adquiridos 23 quilos de bacalhau Gadus Mohua dessalgado, por R$ 205 o quilo, no Mercado Municipal, pelo valor total de R$ 4,8 mil. Em 13 de agosto, na Peixaria do Guará, foram comprados 6 quilos de camarão rosa GGG por R$ 225 o quilo, mais 2 quilos de camarão GG, 14 quilos de filé de robalo e outros frutos do mar por um total de R$ 4,3 mil. Em 17 de setembro, na mesma peixaria, mais 7 quilos de filé de saint peter e 18 quilos de filé de robalo.
No dia 9 de setembro, mais uma incursão pela Peixaria do Guará. Na lista de compras, 16 quilos de camarão GGG, 18 quilos de filé de robalo e outros peixes, no valor total de R$ 7 mil. No Mercado Municipal, mais R$ 3,3 mil por 16 quilos de bacalhau Gadus Mohua.
Não faltou o prato predileto de Lula. No dia 20 de agosto, na Boutique de Carnes Viande, foram adquiridos 14 quilos de rabada. Mas o pacote incluía 51 quilos de filé mignon e 25 quilos de picanha Bassi, a R$ 130 o quilo.
Em 9 de setembro, foram adquiridos mais 11 quilos de Rabada na Viande. Numa viagem a Caruaru (PE), uma semana depois, Lula se deliciou com a culinária nordestina. No bar e restaurante Bode Assado do Luciano, comeu guisado de bode, sarapatel, picanha de bode e linguiça. A nota fiscal, no valor de R$ 164, especifica o consumidor: “Refeição para o presidente da República”.
A mesa também era farta na era Dilma. Em 17 de outubro, as
compras na Peixaria do
Guará somaram R$ 10,4 mil. Foram 10 quilos de camarão rosa G, 10 quilos de camarão
rosa GGG, 10 quilos de congrio rosa, 30 quilos de linguado e 15 quilos de
pescada amarela. O quilo do camarão GGG estava em R$ 250.
Houve ainda compra de carnes nobres importadas em setembro. Para churrasco, foram 7,5 quilos de bife de chorizo rio-platense e 6 quilos de picanha rio-platense de luxo; além de mais 26 quilos de filé mignon Mondelli.
O blog questionou a assessoria de Lula sobre as compras de bebidas caras e carnes nobres para o Alvorada e perguntou em que jantares, eventos, reuniões eram servidos esses alimentos e bebidas. A assessoria respondeu que “o governo fazia inúmeros eventos e recepções a chefes de estado e autoridades estrangeiras, que, na época, visitavam bastante o Brasil. Tais eventos constam da agenda da presidência da República”.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS