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Os fatos, a verdade. Serei óbvio: esta é a matéria-prima dos jornalistas. Ela raramente está por aí, visível, acessível, depurada, oferecendo-se na internet. Pode escapar por conta da preguiça ou da pressa. Querer ser o primeiro a chegar com as últimas é legítimo, mas isso não pode levar ninguém a resumir a apuração. É preciso procurar fontes primárias, fazer todas as perguntas, esgotar todas as dúvidas. Jornalista tem de ser curioso, desconfiado, entender o tamanho da sua responsabilidade, mesmo que, no começo da carreira, a falta de experiência e a ansiedade possam atrapalhar. Então, vencemos a imaturidade, a pressa enlouquecida. Buscamos todos os lados de uma história, buscamos respostas... Quem? O quê? Onde? Quando? Como? Por quê?
Revistas e jornais que já foram grandes, que já foram meios de comunicação, foram transformados em veículos de militância
Antes da reportagem, a pauta. Antes da pauta, a pré-pauta, uma sugestão ou uma ideia de matéria. Cumpram-se todos os passos, desde o início, para que a história se confirme e possa, então, ser profundamente apurada e contada. É o básico, mas muita gente tem ignorado isso. Não por inexperiência ou pressão do tempo, mas por militância, porque abandona a realidade e se entrega a crenças, a um mundo irreal, ao combate contra um fascismo imaginário. Quantas vezes vimos, recentemente, pré-pautas que não se confirmaram virarem reportagem? Primeira página, no caso dos “disparos” de WhatsApp na campanha do Bolsonaro... O porteiro do condomínio do presidente, o leite condensado... Tudo por uma narrativa. O governo não presta e deve ser defenestrado.
Não são profissionais do jornalismo que transformam em democratas os fascistas que se dizem antifascistas, vândalos que agridem policiais e depredam patrimônio público e privado, que carregam faixas em defesa da ditadura do proletariado. Não é jornalista quem escreve manchetes como “O presidente Bolsonaro pretende amedrontar a população, tumultuar a mente das pessoas e promover o caos na sociedade” e “A Covid está ligada ao avanço do fascismo no Brasil”. Triste. Uma revista e um jornal que já foram grandes, que já foram meios de comunicação, transformados em veículos de militância. Abandonam a honestidade, o caráter, a sensibilidade jornalística, na seleção das histórias que contam e na escolha de como elas são contadas. Às favas com os fatos, vamos à dissimulação.
Informar deve ser o objetivo. Opinar, se for o caso, com base nos fatos, com argumentação. Agir como um partido político derrotado na eleição é imperdoável. Boa parte da imprensa embarcou nessa, não importa se a pauta é política, econômica, cultural, de comportamento. É como se as seis perguntas básicas para o desenvolvimento de uma matéria jornalística já viessem respondidas: Quem? Jair Bolsonaro. O quê? Derrubá-lo. Onde? Em Brasília, por todo canto. Quando? Agora. Como? De qualquer jeito. Por quê? Está nas manchetes dos jornais, dos telejornais, dos portais de notícias: o presidente é um grande fascista.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos