O número de partidos políticos no Brasil diminuiu, mas o balcão de negócios continua a todo vapor. Os conchavos para as eleições municipais, os conluios para a eleição dos presidentes do Senado e da Câmara e o olho gordo espichado para 2026 indicam que o bem do país não tem assim realmente tanta importância. O PSD, que fez o maior número de prefeitos este ano, está, por enquanto, nos braços do PT, que levou a corrida presidencial de 2022, mas teve resultado pífio em todas as últimas eleições desde 2018. Tentar explicar esse “fenômeno” pontual será sempre expor-se a riscos, num Brasil em que o debate foi banido e as “verdades” são impostas com ameaças graves a quem ousar duvidar delas.
O PSD, que tem a maior bancada do Senado, com gente como Otto Alencar, Omar Aziz, Eliziane Gama e o presidente da casa, Rodrigo Pacheco, está também abraçado a ministros do STF. Aqueles que juram defender a democracia, rasgando ou inventando leis. Pacheco não tem o menor interesse em se indispor com a turma do Supremo. Otto Alencar, novo líder do governo no Senado, também não. Em entrevista à revista Veja, ele disse o seguinte: “Não vejo fato determinado que possa comprometer o trabalho do ministro Alexandre de Moraes, que foi um guerreiro para sustentar a democracia e combater os atos de vandalismo e destruição do patrimônio nacional no dia 8 de janeiro. Acredito que ele tem trabalhado dentro da lei, e a democracia deve muito à sua posição”.
Nossos partidos continuam pensando em negócios, continuam sendo “sacos de gatos”, uma mistura disforme de egoístas e oportunistas, de uma gente baixa, sem valores, sem escrúpulos
Na defesa de abusos, arbítrios e ilegalidades praticados por ministros do Supremo, Otto Alencar, da turma da circense CPI da Covid, chega ao cúmulo de citar seu conterrâneo Rui Barbosa: “Com a lei e dentro da lei. Porque fora da lei não há salvação”. A “Águia de Haia” e meu avô, o historiador Américo Jacobina Lacombe, que organizou e publicou toda a obra de Rui, estariam estarrecidos... Em relação à citação do senador baiano e certamente com a transformação da baderna no 8 de janeiro numa “tentativa de golpe de Estado”, com associação criminosa armada, mesmo que não houvesse armas. Otto Alencar não quer nem saber. Para ele, “não tem anistia possível para aqueles casos gravíssimos de ameaça à democracia, de depredação do patrimônio nacional, de acusações e de palavras duras contra ministros, além dos financiamentos para que aquilo tudo acontecesse”. Alencar também não cogita uma anistia a Jair Bolsonaro, grotescamente tornado inelegível até 2030.
O novo líder do governo do PT no Senado afirmou que o PSD já tem um nome para a disputa pela presidência da casa: Eliziane Gama. Ainda assim, ele disse que “gosta muito do Davi Alcolumbre”, favorito na corrida... Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido que recebeu mais votos nas eleições municipais, também não parece ter nada contra a candidatura de Alcolumbre. Em entrevista ao Estadão, sem constrangimento, ele disse que tem conversado com a bancada do PL sobre um apoio ao senador do Amapá, do União Brasil, para a presidência do Senado. Bolsonaro também já falou do assunto. Acha melhor que o PL tente ficar com a vice-presidência do Senado, para, então, tentar uma anistia aos envolvidos no 8 de janeiro e a ele próprio.
Valdemar Costa Neto jura que quer ter Jair Bolsonaro como candidato a presidente em 2026. Só que lança uma conversinha de que “o PL não tem votos para vencer o PT na eleição e precisa do centro”. E ele continua enfileirando bobagens na entrevista ao Estadão: “É necessário ampliar os eleitores para além da direita e da extrema direita, isso não infringe o plano de reforçar a ideologia conservadora da legenda”. Não? Mesmo que ele declare que o PL não deve partir para uma ofensiva contra ministros do STF? Mesmo que ele reclame de “bolsonaristas” que o criticam por ter boa relação com o PT e manter diálogo com líderes considerados inimigos? E não dá para aceitar que o presidente do PL use uma expressão absurda como “extrema direita”...
Se Valdemar Costa Neto quer uma aproximação com o centro, o senador Otto Alencar declara amor a Lula: “O PSD realmente cresceu muito. Sai fortalecido, mas não dá para fazer projeção se isso vai influenciar para ter um candidato próprio em 2026 ou se vai apoiar Lula. Eu apoio o presidente, que é, por natureza, um pacificador, um negociador. Sempre foi o perfil dele. Ele tem feito um esforço muito grande para governar e está governando bem o Brasil”. Será que Gilberto Kassab, cacique do PSD, também pensa assim? Ou sua ligação com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, impõe outro tipo de aliança do hoje maior partido do Brasil para a eleição presidencial de 2026?
Nossos partidos continuam pensando em negócios, continuam sendo “sacos de gatos”, uma mistura disforme de egoístas e oportunistas, de uma gente baixa, sem valores, sem escrúpulos. Podem se movimentar, por interesses próprios, para vários lados. Quase todas as legendas estão nessa, incluídos MDB, União Brasil, PP e Republicanos, que ainda têm alguma importância. O PSDB vai ladeira abaixo. O PT, cheirando, como sempre, a mofo, foi praticamente abandonado pelos eleitores “reais”. E, nesse sistema insano, o Brasil ainda não tem um partido verdadeiramente conservador... No nome, na ideologia, nas ideias, no programa, no coração e na alma.
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