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I
Agora, teremos paz...
Ninguém andará perdido,
pois todo o mal que o mal traz
do Brasil será banido.
Do diabo, o satanás,
o país é protegido...
Uma gente tão capaz
já tem tudo decidido.
O dedo apontado, em riste,
a rima que não existe,
mandaram calar a boca.
Não falar, será assim;
nada será tão ruim.
Quem não quer a vida oca?
II
Tem a Constituição,
que já não vale de nada.
Liberdade de expressão
tem de ser abandonada.
Crítica... Opinião...
A Lei Máxima rasgada,
para nossa salvação...
Nem pense em fazer piada.
O que fica permitido?
Repetir o repetido
por eles, reis do pedaço.
O resto é tudo mentira,
juram que é ódio, que é ira,
descaminho, descompasso.
III
Quem precisa de debate?
De que serve o opositor?
Melhor é não ter embate,
melhor é falar de amor...
Vem na pressa o arremate,
na sanha do usurpador.
Não há nó que se desate.
É censura, sim, senhor.
Vamos engolir em seco...
Na encruzilhada, no beco,
quem nos pega pela mão?
São os donos da verdade,
fazem tudo por bondade,
e não tem mais discussão.
IV
Vão dizer o que é verdade.
Vão dizer o que é mentira.
Com a sensibilidade
de quem tem alvo, tem mira.
Multa, banimento e grade...
Esse país o que vira?
Feito na brutalidade
que todo censor admira.
Não às redes sociais,
e vamos ler os jornais,
vamos à televisão.
Sem perguntas, sem respostas,
em precipícios, encostas,
no silêncio, na prisão.
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V
Quem gosta de não gostar
do pensamento contrário
tem muito a comemorar,
cada gesto autoritário...
Velhas leis que vão rasgar,
vão reescrever dicionário,
inimigos condenar,
apostar no anti-horário.
Mas a mordaça que agora
essa turma toda arvora
pode pegá-la também...
Começa sempre em censura
toda e qualquer ditadura,
num mundo que é vaivém.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos