Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues em entrevista após sessão da CPI da Covid, em 18 de maio.| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
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Cursei um ano de Psicologia, antes de ingressar na faculdade de Jornalismo. Não tenho saudade das aulas de Neuroanatomia, impregnadas de nomes estranhos e formol. A melhor lembrança que guardo daqueles dois semestres é do meu professor de Psicologia Social, Bernardo Jablonski. Ele era incrível, era ator, diretor teatral, roteirista. Suas aulas eram concorridíssimas, reuniam estudantes de todos os cursos da universidade, mesmo que não matriculados na matéria.

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Estudar como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras é um desafio enorme, que Jablonski apresentava aos alunos com muito humor. Quando falou da dificuldade que temos de mudar a primeira opinião que formamos sobre alguém, os exemplos foram hilários... Se vemos alguém de quem não gostamos ajudando uma velhinha a atravessar a rua, a tendência é que pensemos: “Ele vai extorquir dinheiro da senhora...” E se vemos alguém de quem de cara gostamos socando uma velhinha, tendemos a pensar o seguinte: “A velhinha aprontou alguma”.

Renan e Randolfe já deixaram claro que a CPI é para atingir o governo federal, o resto é secundário e evitável

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A CPI da Covid é assim, já tem opinião formada, relatório pronto e não se convencerá nem será convencida de que esse não é o jeito certo de fazer um inquérito. Os senadores de oposição não escolhem apenas as perguntas, decidem também as respostas. Ai de quem não responder do jeito que eles acham que deve ser. Coação, intimidação, ameaça... Não venha com churumelas, os senadores querem saber da cloroquina do Bolsonaro, não querem saber da cloroquina do médico David Uip, da cloroquina do governador do Pará, Helder Barbalho, do governador do Piauí, Wellington Dias.

Não venha com esse papo de que o Brasil está se tornando o quarto país que mais vacina em termos absolutos no mundo. Poderíamos ser os primeiros! Sério? Os espancadores de velhinhas têm certeza disso. Eles acreditam também que “somos o país que mais mata de Covid no planeta”, como afirmou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues. Lançou essa, enquanto tentava escapar de uma pergunta feita pela repórter Berenice Leite, do Jornal da Cidade On-line.

O que ela queria saber? Quando governadores e prefeitos serão convocados para depor na comissão? Quando se investigará o uso da bilionária verba federal enviada a estados e municípios para combate à Covid? Renan Calheiros, ao lado de Randolfe, disse que já há apurações sobre isso e que não vai fazer “uma dupla investigação”. Só que também já existe uma investigação pedida pela PGR e autorizada pelo STF sobre a conduta do ex-ministro Pazuello na crise em Manaus... Duplicidade, sim, se eles quiserem.

Berenice insistiu: “E as investigações sobre cinco governadores encaminhadas à CPI da Covid pelo procurador-geral da República?” Randolfe disse que “qualquer fato correlato, conexo será investigado”, deixando claro de novo que a CPI é para atingir o governo federal, o resto é secundário e evitável. Renan confirmou a estratégia, meio sem querer: “Vamos investigar tudo o que for necessário... dentro de um roteiro óbvio”. E minha primeira impressão permanece: nosso tempo e nossa energia são mesmo vagabundos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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