
O que eu sempre me pergunto é como deixaram chegar a esse ponto... É terrível que haja gente disposta a viver na beira de um precipício, na corda bamba, numa encosta cheia de perigos, pedra, barro. Tudo preparado para cair. Gente que não encontra um canto, um canto decente que seu pouco dinheiro permitiria. Gente desesperada, empurrada para uma vida de risco altíssimo.
É mais terrível ainda que o poder público aceite essa situação, a ameaça feroz, a tragédia sempre à espreita. Por que será que o olhar para a ocupação do solo urbano parece tão distraído? E sempre foi assim. São anos de complacência com o absurdo, o inconcebível, casas escoradas, casas por um fio. São décadas e décadas de desprezo à dignidade humana.
Quantas vezes os políticos deram um jeitinho e permitiram a criação de uma favela, de uma comunidade em área de risco? Quantos currais eleitorais foram criados assim?
Se fôssemos pessoas sérias, teríamos a obrigação de impedir qualquer tipo de ocupação irregular, na primeira enxadada que dessem no terreno. Não houvesse políticos sempre rondando, com olho grande nos votos... Quantas vezes eles deram um jeitinho e permitiram a criação de uma favela, de uma comunidade em área de risco? Quantos currais eleitorais foram criados assim?
Não sei que tipo de cegueira ou distração das autoridades municipais de São Paulo possibilitou o surgimento de sobrados de alvenaria, com estrutura de concreto partindo praticamente da pista da Marginal Pinheiros. Durante toda a obra, ninguém viu nada? As pessoas vão se pendurando em encostas, se deitando no leito de rios, e ninguém percebe? Há exemplos assim em muitas cidades pelo Brasil afora.
A situação é muito delicada. Desfazer em pouco tempo o que a cadeia de desespero, oportunismo, corrupção e negligência levou décadas para engendrar parece impossível. Mas é preciso agir. Primeiro, impedindo o crescimento de ocupações irregulares. Depois, investindo em moradias populares, liberando áreas de risco, investindo em obras de infraestrutura, contenção de encostas, saneamento básico, redes de água e esgoto, urbanização.
Há tanto que o poder público e o capital privado podem e devem fazer... Todos os esforços e todos os recursos possíveis devem ser empregados, mas não de forma emergencial e pontual. A dedicação deve ser diária, o empenho deve ser constante, eterno, o ano inteiro, todos os dias... Não dá mais para esperar por salvação. Tenho idade suficiente para me lembrar de temporais, enchentes e tragédias de 50 anos atrás. Tantas vidas perdidas... Tantas famílias despedaçadas. A solidariedade a elas não pode ter a duração de um temporal, se a bonança nunca vem.
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