Desde pequeno leio jornais. Assim, no plural. Sou carioca, e meu pai era assinante do O Globo, considerado à época um jornal de direita. Nos fins de semana, depois de suas caminhadas pela praia, meu pai trazia para casa o Jornal do Brasil, que era de esquerda. Menino novo, eu não entendia muito bem as diferenças, mas percorria nos dois jornais os títulos, subtítulos e lia com atenção, às vezes com um dicionário ao lado, as matérias que me apresentavam o Brasil, o mundo, que encaixavam peças do quebra-cabeça que sempre quis montar.
Meu pai, que foi executivo de grandes empresas, era um liberal. Meu avô materno, imortal da Academia Brasileira de Letras, intelectual católico, era um conservador. Foram minhas maiores referências. Dessa forma, claro, eu me identificava muito mais com o O Globo, mas nunca deixei de ler o JB. Isso me fez aprender rapidamente a refutar o que não considerava correto. Ganhei razoável argumentação, sem o olhar fixo em apenas uma direção, observando todos os lados de uma história, todos os personagens.
Podemos não respeitar uma opinião, mas devemos sempre respeitar o direito de o outro ter opinião, mesmo que ela seja diferente da nossa
A convivência entre contrários não era tão difícil. É verdade que passei momentos tensos no colégio, em discussões com professores de História e Geografia. Eles trabalhavam incansavelmente pela doutrinação dos alunos. Rebatê-los, quando defendiam, por exemplo, a União Soviética, “o paraíso na Terra”, exigia coragem, pela ameaça à autoridade em sala de aula e porque isso representava sério risco de o boletim vir com uma nota vermelha. Mesmo assim, não me curvei. Não fui calado, não fui “cancelado”.
O que meus professores entenderam sempre me pareceu bem simples, sempre me pareceu óbvio: podemos não respeitar uma opinião, mas devemos sempre respeitar o direito de o outro ter opinião, mesmo que ela seja diferente da nossa. Os que não pensam como nós não são nossos inimigos. Eles reafirmam nossas bandeiras, nossos princípios, nossos valores. Podem servir como referência negativa, e não há problema nisso. Podem nos estimular, nos dar mais energia, mais vontade de crescer e melhorar, mas o foco não estará jamais em quem se opõe a nós, em quem é contra aquilo que defendemos.
Sim, há ideais macabros, há ideias perversas. Estão por todo canto, disfarçadas de virtudes, tentando se apropriar da bondade, da fraternidade, da solidariedade. São promessas de proteção e segurança, o início de toda tirania desde que o mundo é mundo. Contra elas temos tantos argumentos, o mundo real escancarado. E vamos à luta, respeitando as regras, com senso de justiça. Então, surgem os loucos, os covardes, que disparam com metralhadoras todo tipo de censura. Querem nos dizer o que é verdade e o que é mentira. Não importam os fatos, exigem nosso silêncio, uma espécie de morte. Jogam sobre nós “gigantes adormecidos”. Tentam nos cercar, tirar nossos empregos, nos calar, “cancelar”. Sobrevivem disso, de prejudicar quem não pensa como eles.
De minha parte, nunca precisei do fracasso de ninguém para nada. Nunca prejudiquei ninguém, no caminho para minhas conquistas. E já são 32 anos de jornalismo... Do menino que fui em dias distantes mantenho o olhar curioso e desconfiado. Nunca embarquei num mundo imaginário, em planos que não deram certo em lugar nenhum, em nenhuma época. Coleciono fatos, argumentos, amplifico minha voz, aumento a fonte das palavras que digito. Agora, com muito orgulho, aqui, na Gazeta do Povo, que leio diariamente há um bom tempo, linha por linha. Este jornal, há quase 102 anos, sabe muito bem do que se trata: é sobre liberdades, é sobre verdades, honra e caráter.
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