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Luís Ernesto Lacombe

Luís Ernesto Lacombe

Quem faz as métricas

O Brasil do faz de conta

Indicadores econômicos fazem parecer que a picanha está na mesa de todo brasileiro
A julgar pelo discurso do PT, picanha é produto já disponível na mesa de todo brasileiro. (Foto: Gazeta do Povo/Arquivo)

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Somos o país das maravilhas. Nada poderia estar melhor no Brasil. A pobreza e a miséria caíram, no ano passado, ao menor nível desde 2012. É o que diz o IBGE, presidido pelo Márcio Pochmann. De acordo com o instituto, no ano passado, quase 12 milhões de pessoas deixaram de passar dificuldades. Devem estar comendo picanha, tomando cerveja, fim de semana sim, e o outro também. Tudo isso é resultado, segundo os cálculos mágicos, do aquecimento do mercado de trabalho e do pagamento de benefícios sociais. Tudo obra do PT.

Claro, é preciso fingir que a taxa de desemprego não está caindo desde que terminaram as medidas tirânicas da época da Covid, ainda com Bolsonaro. Faz de conta que só com a posse de Lula o quadro melhorou. Ele – e ninguém mais – é a solução de todos os problemas. Nem comenta que entre os setores que mais têm gerado empregos está... a administração pública. Omita o fato de que o PT está inflando o número de servidores federais e que a conta disso já chegou. Se afirmam que há 7 milhões de desempregados oficialmente e existem 56 milhões de cadastrados no Bolsa Família, é só não cruzar esses dados, e confiar, confiar...

Sobre os benefícios sociais, outro grande problema sobre o qual todos aceitam não falar: Lula e sua turma sempre mediram o sucesso desses programas pelo aumento do número de pessoas que são atendidas... Insisto, deixa isso para lá. Nem tenta emplacar que o correto seria fazer o contrário, já que o sucesso de um programa social deve ser calculado pelo número de pessoas que deixam de receber o benefício e conseguem caminhar com as próprias pernas. Isso é um detalhe, um mero detalhe.

Faz de conta que só com a posse de Lula o quadro melhorou. Ele – e ninguém mais – é a solução de todos os problemas

Ninguém vai ficar queimando a cabeça também, tentando entender como, em 2023, 59 milhões de pessoas ainda viviam com menos de R$ 22 por dia, se a pobreza e a miséria praticamente acabaram nesse período... E, mais do que tudo, é preciso jurar que o PT, que ocupou a Presidência da República por 16 anos desde 2003, nos últimos 21 anos, portanto, não tem culpa por nenhum dos problemas que o Brasil enfrenta, por sua origem ou seu agravamento. Fica combinado: o PT é a maravilha das maravilhas.

E vamos comemorar o PIB “me engana que eu gosto”. Aliás, importante: ninguém vai usar essa expressão... No terceiro trimestre deste ano, a economia do país cresceu 0,9%. Os gastos estratosféricos do governo federal, que trataremos como “necessários”, contribuíram para isso: tiveram alta de 0,8%. O consumo das famílias também puxou o PIB. Viva! Quem não tem dívidas não sabe o que é bom.

Como cidadãos conscientes, não vamos espalhar por aí que os leilões de imóveis que foram tomados de quem não conseguiu pagar o financiamento, por exemplo, dispararam, em meio à inadimplência de famílias brasileiras. Alguns dados que devem ser ocultados... Em 2022, com Bolsonaro, 9 mil imóveis foram arrematados em leilões assim. No ano passado, o número quase triplicou, chegou a 26 mil. Este ano, apenas no primeiro semestre, já foram 44 mil imóveis...

Com muita gentileza, peço que ninguém se lembre de que o PIB é divulgado com dois meses de defasagem. Unidos, vamos desconsiderar que esse número divulgado agora é de um período em que o dólar estava em R$ 5,45, e agora já passou de R$ 6, em que a previsão de inflação para 2024 era de 3,95%, e a taxa anualizada já pulou para 4,77%, acima do teto da meta, e os juros estavam em 10,75%, e tiveram de subir para 11,25.

Eu nem precisaria pedir com jeitinho que cada um de vocês silenciasse sobre o endividamento do governo, que saltou de 71,68% do PIB para 78,64%, em menos de dois anos de governo Lula. E quem vai perder tempo de olho na taxa de investimento atual, de 17,6%? Ela é pífia, não vai sustentar crescimento na faixa de 3% a 4% por ano, mas nosso plano é propagar as maravilhas inexistentes, que todos nós devemos garantir que são reais. Combinado?

Dessa forma, trabalhe-se com o seguinte: o arcabouço fiscal não permite aumento de despesas do governo e deixa o teto de gastos no chinelo; é muito melhor. O pacote de cortes nas despesas do governo federal também é sensacional. Ele vai gerar uma economia incrível e jamais vai deixar brecha para o aumento dos gastos fora da contabilidade tradicional. Ninguém pode acreditar nesses especialistas em contas públicas que estão por aí dizendo o contrário. Eles não entenderam nada.

Vamos combinar: não há déficit fiscal e dívida recordes, o dólar está num patamar ótimo, a inflação está controlada, as taxas de juros, logo, logo, vão cair. O crescimento do Brasil não está comprometido

Seria importante, é verdade, que o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União não implicasse com o dinheiro que o governo gasta com campanhas publicitárias para divulgar o pacote de corte de gastos e a proposta de ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda. O que são R$ 40 milhões? Os pagadores de impostos ficam felizes em ajudar e não acham contraditório aumentar gastos para divulgar pacotes de medidas que visam a reduzir gastos. O mundo fascinante das narrativas deve prevalecer, para o bem de todos.

Assim, não há déficit fiscal e dívida recordes, o dólar está num patamar ótimo, a inflação está controlada, as taxas de juros, logo, logo, vão cair. O crescimento do Brasil não está comprometido. Repitam, e repitam, e repitam. O governo do PT, como sempre, está nos entregando o país das maravilhas. Ele está preocupado com as finanças públicas, e todos devem acreditar nisso. Se você tiver alguma dificuldade para se render a essas afirmações, experimente usar novos parâmetros: o sucesso é ruim, e o insucesso é bom.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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