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Luís Ernesto Lacombe

Luís Ernesto Lacombe

Leis e coerências

Ex-presidente Lula durante a coletiva de imprensa no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Ex-presidente Lula durante a coletiva de imprensa no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. (Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo)

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Há pessoas que não devem ser presas. Há pessoas que devem ser presas. Há também pessoas presas que deveriam estar soltas, que não deveriam ter sido presas... Se o estilo lembrou o da ex-presidente, peço desculpas. As frases iniciais parecem óbvias. Tão próximas umas das outras assim, nos confundem, mas dizem muito sobre o que estamos vivendo e quem somos.

Quem você não prenderia? Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, talvez não prendesse o Lula. Cadê o processo que estava aqui? Cadê quatro processos que estavam aqui? Vão para o Distrito Federal, com todas as provas reunidas, todos os depoimentos, respirando por aparelhos.

Aceitamos mensagens eletrônicas obtidas ilegalmente e que nunca foram periciadas. Os votos, no fim, serão longos, com o produto do roubo dos hackers entre aspas. Lula: livre. Moro: preso

As “incoerências jurídicas” são mesmo um acinte... Estava na cara que não eram processos para Curitiba. Depois de tantos anos, ninguém tem dúvida disso, nem policiais federais da Lava Jato, auditores da Receita, procuradores, juízes de primeira, segunda e terceira instâncias. Tranquilo, pessoal.

Então, Lula está liberado. Há pessoas que não devem ser presas. Algumas, claro, devem. Quais? Quem? Você prenderia Sergio Moro? Lewandowski e Gilmar Mendes talvez prendessem. Suspeição, parcialidade. Os processos que não eram de Curitiba (estava na cara) chegarão ao DF? Terão jazigo em algum arquivo? Vamos soltar o bandido e prender o xerife.

Aceitamos mensagens eletrônicas obtidas ilegalmente e que nunca foram periciadas. Há pessoas que devem ser soltas, há pessoas que devem ser presas... E os votos, no fim, serão longos, 80, 100 folhas lidas pelos juízes, e o produto do roubo dos hackers entre aspas. Lula: livre. Moro: preso.

Prisão para quem ataca o prédio da ministra Cármen Lúcia em Belo Horizonte? Esquece isso. Há pessoas que não devem ser presas. Tivessem usado fogos de artifício, não sei... Entenda, os atos antidemocráticos são sempre aqueles que reúnem pessoas que devem ser presas. Jamais aqueles em que defendem a derrubada do presidente, a ditadura do proletariado, em que policiais são agredidos e há quebra-quebra. Preste atenção, há pessoas que não devem ser presas.

Já faz um ano, é verdade, e a Polícia Federal ainda não encontrou elementos suficientes para indiciar responsáveis pela realização ou financiamento dos atos antidemocráticos, você sabe quais, essas manifestações absurdas. Um ano. O STF aguarda ansiosamente. Ditadura, só a do proletariado.

Pode prender opinião, pensamento... De alguns... Pode prender jornalista, deputado federal. Sequestra a Constituição, vai de crime inafiançável, “mandado de prisão em flagrante”, vai na balada: há pessoas que devem ser presas. André do Rap? Líderes de facção criminosa? Ora, o coronavírus mudou a compreensão sobre quem deve ser preso e quem deve ser solto. Bandidos, nós soltamos aos milhares.

Assim, a coreografia corre atrás das leis, ou corre delas, o movimento é feio. Há um descompasso, falta sincronia, há um desafino, a política esbarra na Justiça e a derruba. As leis, as leis! As provas! Por favor, tente entender: há pessoas que devem ser presas e há pessoas que devem ser soltas.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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