Existe uma fórmula para calcular o grau de liberdade de imprensa de um país. Quem a criou foi uma organização não governamental. Seu nome, Repórteres sem Fronteiras, tem um quê da arrogância globalista. Todo poder para meter o bedelho onde quiser, desde sua sede em Paris. Ninguém quer saber mesmo de soberania nacional, se há uma ordem mundial, né? Sempre para o bem de todos, o coletivo. É sem fronteiras, ou, como diria um amigo meu, “é geral”. E esse é só um dos problemas.
Não há fórmula para calcular o grau de liberdade de coisa alguma, se o conceito de liberdade é relativizado, deturpado, personificado. Depende de quem, não do quê. Com seu olhar, seus ouvidos, todos os seus sentidos enviesados, tortos, seletivos, carregados de ideologia, a ONG juntou seus números e rebaixou o Brasil no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa. Foi uma queda de quatro posições, para o 111.º lugar num total de 180 países. E a culpa é de quem? Começa com “B”, termina com “naro”...
Não temos uma imprensa livre no Brasil principalmente porque boa parte dos jornalistas passou a atuar como um partido político derrotado nas eleições
A ONG afirma que, desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o poder, “o ambiente para o trabalho de profissionais do jornalismo se tornou tóxico”. Fala de “insultos, estigmatização e orquestração de humilhações públicas de jornalistas, uma marca registrada do presidente, de sua família e seu entourage”. É assim: uma fórmula, um resultado, uma interpretação. E, tenha certeza, o Gilmar Mendes mandando um repórter “enfiar uma pergunta na bunda” não entrou no cálculo.
Tentarei refazer as contas, dando peso maior ao principal. Prepare-se, a posição do Brasil no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa ficará... pior! Na minha fórmula vou incluir “reinações” do STF: a censura a veículos de comunicação, a prisão do jornalista Oswaldo Eustáquio, o bloqueio e o banimento de contas nas redes sociais... Sobre o Bolsonaro, vamos ver... Ele falou alguma vez em regular a mídia? Não, foram os governos petistas que sempre falaram disso. Bolsonaro comprou a imprensa com verba publicitária? Financiou blogs e portais? Tentou extraditar um correspondente internacional? Não, não e não.
Minha fórmula não procura culpados porque eles não se escondem, mas quer dar a cada um o peso correto. E o peso do fato é: os jornalistas já não amam a liberdade. Carregados de interesses pessoais, corporativos e ideológicos, escolhem as histórias que vão contar, a maneira como vão contá-las. Absolveram políticos corruptos, apoiaram agressões à Constituição, escolheram um lado, não querem mais saber de “todos os lados da história”. Manifestações pró-governo? Deixa isso para lá. É preciso saber sempre a quem a informação interessa, não importam a verdade, a relevância real. Somos os editores do Brasil.
Não é uma conta confusa, ainda que haja colchetes, qualquer coisa entre parênteses. O resultado é este: não temos uma imprensa livre no Brasil principalmente porque boa parte dos jornalistas passou a atuar como um partido político derrotado nas eleições. A guerra, afirmam, é contra um genocida, negacionista e fascista. Esse jornalismo militante, que só pensa em derrubar um governo, não tem como ser livre. Esse jornalismo é refém, é prisioneiro dele próprio. Tem barulho ou tem silêncio. Abriu mão do equilíbrio, desapegou-se dos fatos, das indagações, de permitir indagações. E, isto é certo, nunca haverá liberdade longe da verdade.
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