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Luís Ernesto Lacombe

Luís Ernesto Lacombe

Jornalismo e poder

Os cretinos não vencerão

Quando se trata de certas personalidades da República, o jornalismo se torna tão amigável que desculpa tudo e esconde tudo. (Foto: Marcio Antonio Campos com Midjourney)

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Não importa o que eu escrevo, sobre o que escrevo, meus textos sempre geram comentários com a mesma cobrança: “o que podemos fazer para escapar da tragédia?” Não é difícil listar todas as desgraças por que estamos passando, mesmo que sejam excessivas, apontar todos os absurdos, um a um. Está muito claro quem age pela calamidade, no Legislativo, no Executivo e no Judiciário, por ação ou omissão. As divergências entre essa turma costumam ser leves, os raros protestos de um lado são feitos tardiamente, de forma errática, e quase sempre em fala mansa... No descompasso, no descaminho, um país inteiro vira refém. E a imprensa que desistiu de ser imprensa endossa a condenação de todos nós.

Em outros tempos, os jornalistas eram hipersensíveis. Se para seus questionamentos agressivos e tendenciosos vinham respostas à altura, reativas, a imprensa estava “sendo atacada”. Claro, isso valia apenas quando o entrevistado era Jair Bolsonaro ou alguém ligado a ele. Ao ministro Gilmar Mendes, por exemplo, sempre foi permitido mandar um repórter enfiar sua pergunta em determinado lugar... Lula e os petistas também sempre puderam acusar a imprensa de “agir de má-fé e com assédio moral”, sempre foram autorizados a questionar a credibilidade de jornalistas, de apontar neles “desvios éticos”. Lula já chamou veículos de imprensa de lixo, já disse que eles não valem nada. Em outubro de 2018, a revista Veja publicou o seguinte: “Lula está à vontade. Desaforo é com ele. Desacato é com ele. Partir para cima é com ele”.

Há cretinos em grande número, prontos para não perguntar, não desconfiar, não buscar a verdade

A imprensa que desistiu de ser imprensa aceita de bom grado que Lula se considere uma vítima dos jornalistas, que ele agora chama de “cretinos”. E ninguém parece se importar. Se fosse com Bolsonaro... Lula pode mentir à vontade, há cretinice suficiente em sua defesa. Não, o petista não tem nada a ver com a alta do dólar... Não, a moeda americana começou a subir antes da entrevista que ele deu ao UOL. Exatamente 15 minutos antes. E ninguém rebate, ninguém expõe as toneladas de provas de que seus atos e suas falas são desastrosos, não apenas nesse caso. As empresas que Lula disse terem quebrado por apostar na alta do dólar, na verdade, acreditaram na valorização do real... Eram, de alguma forma, próximas do PT. Foram vítimas do seu desapego ao mundo real. Uma cretinice em série que os cretinos da imprensa que Lula aponta fazem questão de ignorar.

Há cretinos em grande número, prontos para não perguntar, não desconfiar, não buscar a verdade. Há cretinos aos montes que não vão a fundo no que realmente importa. Se a Amazônia e o Pantanal queimavam no governo Bolsonaro, a culpa, claro, era dele. Com Lula no poder, falam em El Niño, La Niña, “mudanças climáticas”, fazendeiros malvadões... Os ianomâmis morriam, com Bolsonaro... Depois das eleições de 2022, foram todos salvos. O governo Bolsonaro foi o culpado pelas mortes atribuídas à Covid. O atual não tem nada a ver com os casos recordes de dengue, com a falta de vacina para a doença.

Os cretinos querem decidir sobre tudo, com a empáfia, arrogância e soberba que lhes é peculiar. Aceitam inventar que um projeto contra o assassinato de bebês com mais de 22 semanas de gestação não é a favor da vida, é a favor de estupradores e contra meninas violentadas... Também não querem falar do que aconteceu nos países que liberaram as drogas... E o que houve é muito claro: tudo piorou. Há mais usuários, mais tráfico, mais crimes, de todos os tipos, mais acidentes de trânsito, mais doentes, mais mortes. O presidente do Supremo Tribunal Federal pode dizer que “o combate às drogas no Brasil fracassou” e provocar o eco submisso dos cretinos. Eles devem imaginar que, seguindo esse raciocínio, a guerra contra os homicídios no Brasil foi perdida, e é melhor autorizar de uma vez os assassinatos.

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Como tratar quem acha lindo um fórum jurídico brasileiro feito em Lisboa, com a participação de ministros do STF, parlamentares e 12 empresas com ações no Supremo? O que dizer de quem só faz aos participantes perguntas amigáveis, como manda a cretinice absoluta? Como chamar quem acompanha as respostas sem sentido aos questionamentos sem sentido com o balançar concordante de suas cabeças? Não é cretino quem se acha um repórter e não tem nada que confirme esse pensamento? Parecem todos à vontade, querendo de volta a “polarização” entre PT e PSDB. Era ótima, era civilizada, era saudável. Aí vieram os radicais, os extremistas... A culpa é toda deles, a culpa por tudo; a coligação de cretinos repete isso o tempo todo.

Só pode ser cretinice aceitar o descabido aumento da carga tributária e dos gastos do governo, a dívida e os déficits crescentes. Só pode ser cretinice não querer investigar a revisão repentina para baixo dos gastos com a Previdência (e, magicamente, “sobrou” dinheiro para pagar emendas parlamentares...). É o cúmulo da cretinice o uso político de estatais, o sigilo sobre o prejuízo quase bilionário dos Correios, o leilão de arroz, o ministro indiciado pela Polícia Federal por suspeita de cometer cinco crimes... Viramos o país dos cretinos? Então, precisamos apontá-los, todos eles. Precisamos combatê-los, com todas as nossas forças, com o alcance possível, dentro das leis. Vamos deixar claro quem eles são, o que fazem, o que deixam de fazer. Parece pouco, mas não é. Os cretinos não vencerão.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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