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O presidente Lula durante evento em São Leopoldo (RS), em 15 de maio.
O presidente Lula durante evento em São Leopoldo (RS), em 15 de maio.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Não era exatamente um showmício... Apresentação musical não teve. Foi comício, quase tudo fora de tom. Desde o início. No palco, uma turma enorme sendo apresentada, um a um. Não teve show, mas teve clima de festa. Alguns nomes puxando aplausos efusivos, gritos de animação: “Uhu!”, assovios, não apenas da plateia, entre as autoridades também. Foram coisas assim: “Aí, meu prefeito!”; “Viva! Viva!”... “Bom dia às mulheres, aos homens, às crianças”... Mas esse não é aquele que estava dizendo que sua cidade tinha um sistema de proteção contra enchentes, que estava tudo sob controle, que nada de grave aconteceria? Então, ele explicou, sem se explicar: “Essa tragédia é fruto do descaso que a humanidade teve com a questão ambiental”. E tome aplauso... Estamos destruindo o planeta.

A Justiça confirmou o veredito do poder municipal: “A natureza, tragicamente, escolheu aqui para dar esse imenso sinal de alerta de que a mudança climática não é mais um problema abstrato, é um problema real, e nós precisamos enfrentá-la com medidas efetivas, com medidas concretas e com medidas corajosas”. Tudo mais são mentiras, é tudo uma “abominável onda de desinformação, de notícias falsas, de fake news a propósito do que está acontecendo no Rio Grande do Sul, do que está sendo feito no estado”. A culpa, toda a culpa, é das “criaturas das sombras, criaturas das trevas, que, sobre o sofrimento das pessoas, projetam a sua maldade”. Muitos aplausos, aplausos, aplausos.

Foi um comício mórbido. A exploração eleitoral de uma tragédia, no falatório do chefe sempre em descaminho, por longos 45 minutos

Os donos da verdade foram se revezando no palco, com o apoio total da plateia. Parecia tudo encaminhado, parecia tudo resolvido, e a claque cantou: “Olê, olê, olê, olá, laiaraiá, laiaraiá!”. Entre as autoridades, o clima era de satisfação, havia sorrisos, sorrisinhos, piadinhas no ouvido, ou em alto e bom som... Havia polegares para cima, risos, brincadeiras, abraços, punho cerrado, mas, quando o chefe falava, nada de mexer no celular... A moça deu bronca. Todos devem ser solidários ao chefe. Ele, que jura ter recebido um país destruído... Mas a mudança foi rápida, foi total. A maior prova disso? O número gigantesco de voluntários empenhados no socorro ao Rio Grande do Sul. Tudo por obra dele, nosso salvador e protetor. Se não fosse por ele, não haveria “milhões de voluntários e de voluntárias em defesa do povo gaúcho”. Quem faz críticas, que a turma no comício nunca chama de críticas, “será banido da política brasileira”. É hora de união!

E os animaizinhos? A moça só pensa neles. Uma parte do discurso do chefe foi sobre isso: “Qualquer hora, ela vai falar de baratas”, ele brincou... Talvez fosse tudo mesmo brincadeira. E não tinha fim: “Se você tem uma vaca, um boi, um touro, um rinoceronte, um elefante, você gosta de animal, você aprende a gostar”. “Qualquer negócio, manda uma carta ao ministro da Fazenda, para liberar recurso para uma cesta básica para os animais que foram encontrados”. Os animais estão à solta, subiram no telhado... “Ainda bem que a gente continua acreditando que é possível ter uma humanidade mais humana… Apesar da nojeira das fake news”.

E assim seguiu o comício... Não há nada melhor do que imposto! Porque o chefe não quer governar, quer cuidar. E prometeu casa para todo mundo que perdeu a sua na tragédia. As moradias que foram anunciadas para os atingidos nas enchentes no Rio Grande do Sul em setembro do ano passado, ele reconheceu, não foram entregues, mas “agora a burocracia vai acabar”. O chefe é a solução. Com ele, o Brasil se tornou um país maravilhoso. Tudo graças a ele, até que um “incivilizado” chegou ao poder. Não ficou pedra sobre pedra. Ah, se tivessem gastado com prevenção, não seria necessário tanto dinheiro na emergência... E a plateia se calou, não aplaudiu, não gritou, não assoviou... Nos últimos 22 anos, 16 se passaram com seus ídolos no poder.

Foi um comício mórbido. A exploração eleitoral de uma tragédia, no falatório do chefe sempre em descaminho, por longos 45 minutos. E ele quer acréscimos, mais um período, mais acréscimos, prorrogação... Ele quer viver até os 120 anos, disputar umas dez eleições. Aplausos, muitos aplausos, desgraça pouca é bobagem. Ele não tinha noção de que no Rio Grande do Sul havia tanta gente negra... Aplausos! E ele sai por aí, beijando muito as pessoas, coisa que não fazia: “Eu tô ficando moderno agora. Para mim, pode ser homem ou mulher, eu vou beijando logo”.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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