Para eles, jatinhos da FAB, para cima e para baixo, para tomar um cafezinho em casa, ir a leilão de cavalos. Para eles, avião com boa suíte, cama de casal, banheiro com chuveiro, escritório, 100 poltronas confortáveis. Avião que não precise ficar fazendo escalas. Para os outros, carro popular, com desconto brincalhão, financiado, para custar dois ou três carros no fim.
Para eles, um giro pelo mundo, com um mundo de gente amiga. Para eles, hotéis de luxo, compras em lojas de grife, o deslumbrante turismo dos deslumbrados. Para os outros, talvez roupinhas chinesas, uma ida à esquina, sabendo quem não encontrarão por lá.
Para eles, cama de R$ 45 mil, sofá de R$ 62 mil, revestidos de couro, de couro italiano. Para eles, churrasco no palácio... Para os outros uma TV apenas, num apartamentinho com sacada, a “sacada do pum”. Talvez um coxão duro.
Para eles, jatinhos da FAB, para cima e para baixo, para tomar um cafezinho em casa, ir a leilão de cavalos
Para eles, a licença para gastar. Para eles, a permissão para fazer dívidas. Para os outros, os boletos, as contas, a obrigação de pagar e de contar migalhas. Para eles, o dinheiro dos impostos, as mordomias, os penduricalhos, os bônus, as diárias.
Para eles, a semana curta, as férias longas. Para os outros, o mundo de trabalho como ele deve ser. Para eles, os privilégios, a distribuição de privilégios. Para os outros, os pedaços, os trapos das leis perante as quais todos seriam iguais.
Para eles, as prioridades, as prioridades deles, o primeiro lugar. Para os outros, as filas, a espera interminável, as senhas para o juízo final. Para eles, eles mesmos, seus interesses, seus desejos, suas vontades. Para os outros, a noção de que são os outros.
Para eles, a burocracia, a tecnocracia, o confuso, o complexo, o controle, a manipulação. Para os outros, as facilidades e liberdades proibidas, a simplicidade vetada, o descomplicar impossível.
Para os outros, carro popular, com desconto brincalhão, financiado, para custar dois ou três carros no fim
Para eles, 37 ministérios, emendas parlamentares, a Polícia Federal, pelo menos três tribunais de Justiça. Para eles, o caminho livre, os processos anulados, arquivados, não abertos. Contra os outros, a caçada. Para os outros, a perseguição, também a suas famílias e seus amigos. Para eles, os amigos premiados, a eliminação de vozes contrárias, o fim da oposição.
Para eles, toda mentira autorizada, abusos, arbítrios, ilegalidades. Para os outros, censura, silêncio, cadeia, exílio. Para eles, as narrativas. Para os outros, a obrigação de acreditar nelas, de não rebatê-las, de não perguntar. Para eles, os cercadinhos, a proteção, a esquiva, os socos distribuídos. Para os outros, os tapas na cara, os socos no peito.
Para eles, a corrupção sem fim. Para os outros, todas as desgraças da corrupção, da desonestidade. Para eles, a incompetência, o compromisso com os erros (propositais), os equívocos, sempre, sempre. Para os outros, os erros e equívocos que não são seus.
Para eles, a quadrilha formada, atuante. Para os outros, a união proibida, o medo, a desorientação, o desalento. Para eles, os “acordos” feitos com base em ameaça e chantagem. Para eles, a “nova democracia”. Para os outros, a ditadura.
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