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As duas últimas eleições presidenciais na Venezuela foram duramente criticadas por agências internacionais, pelos Estados Unidos, pelo Canadá, pela União Europeia e por países da América Latina. Denúncias de fraudes, falta de transparência... Não deu em nada. Em 2018, quando Nicolás Maduro foi reeleito, os protestos foram ainda mais pesados do que em 2013, quando ele chegou ao poder.
Com o apoio das Forças Armadas, garantido por meio de promoções a rodo para oficiais, e uma boa grana para os militares em negócios escusos, com o Judiciário dominado, Maduro resolveu zerar seus riscos nas eleições. Tratou de impedir a candidatura de qualquer um que aparecesse com mais força como seu opositor. Pelo menos, quatro políticos contrários ao ditador foram barrados e não puderam concorrer.
Preso em Curitiba, em abril de 2018, Lula certamente comemorou a reeleição do amigo Nicolás Maduro. No ano passado, já cumprindo seu terceiro mandato na presidência, o petista disse em entrevista à Rádio Gaúcha que “a Venezuela tem mais eleições do que o Brasil...” O entrevistador rebateu: “Mas eleições não garantem democracias...” Foi quando Lula vociferou: “O conceito de democracia é relativo”. E ele continuou defendendo o amigo ditador: “Quem quiser derrotar o Maduro, derrote nas próximas eleições agora. Vai ter eleições, derrote e assuma o poder. Vamos lá fiscalizar. Se não tiver uma eleição honesta, a gente fala”.
Não, Lula e o PT não vão falar nada... Agora o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela decidiu manter inelegível por 15 anos a candidata consagrada nas primárias da oposição, María Corina Machado. Na semana passada, 36 pessoas ligadas a partidos contrários a Maduro foram presas, incluindo três assessores de María Corina. Então, os Estados Unidos, que chegaram a acreditar que haveria eleições democráticas na Venezuela, resolveram retomar as sanções contra o regime de Nicolás Maduro. Argentina, Uruguai, Paraguai, Equador, além de trinta ex-chefes de Estado e de governo da Espanha e da América Latina, reunidos em Miami, criticaram a inabilitação de María Corina, a perseguição à oposição venezuelana. E o Lula? O Itamaraty considerou que ainda é cedo para um posicionamento do Brasil...
Em março do ano passado, Lula já tinha se recusado a assinar uma declaração conjunta de mais de 50 países que denunciaram na ONU os crimes de outro amigo seu, o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega. Em 2021, Ortega prendeu dezenas de opositores, incluindo sete políticos que iriam disputar com ele a presidência.
Em entrevista ao jornal espanhol El País, em junho daquele ano, Lula, libertado e liberado pelo STF para concorrer mais uma vez à presidência, perguntou a duas atônitas jornalistas: “Por que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder na Alemanha, e Daniel Ortega, não? Por que o Felipe González, aqui, pode ficar 13 anos no poder? Qual é a lógica?”. E uma das jornalistas respondeu: “Sim, mas Angela Merkel governou 16 anos, Felipe González, 13, na Espanha, e não botaram nenhum dos seus opositores na cadeia...”
Lula se fez de desentendido, disse que não sabia o que tinha havido na Nicarágua: “Eu não posso julgar o que aconteceu. No Brasil, eu fui preso. Fiquei 580 dias na cadeia, para que o Bolsonaro fosse eleito presidente da República. Eu não sei o que as pessoas fizeram para ser presas. Eu sei que eu não fiz nada”.
Para o petista, tudo parece mesmo relativo, o sistema de justiça também. Se é contra ele, alguém condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em três instâncias, por unanimidade em dois tribunais superiores, com habeas corpus negados pelo Supremo, está obviamente errado. Se as decisões o beneficiam, ou beneficiam seus amigos ditadores, está tudo certo, não há o que questionar.
É impossível não enxergar similaridades entre o que vem acontecendo há alguns anos na Nicarágua, do ditador Daniel Ortega, e na Venezuela, do ditador Nicolás Maduro, com o que temos visto no Brasil
Tudo indica que a situação no nosso país vai piorar. Jair Bolsonaro está inelegível... Deltan Dallagnol teve o mandato de deputado federal cassado, por crimes que poderia cometer... O processo contra o senador Sérgio Moro no TRE do Paraná foi acelerado. O relator das ações chegou a tirar duas semanas de licença no Tribunal de Justiça, para concentrar fogo contra Moro.
Lula já deixou claro que tem pressa em “ferrar” o ex-juiz... Um pré-candidato a prefeito de Niterói, no Rio de Janeiro, e um pré-candidato a prefeito do Rio foram alvos de operações da Polícia Federal... E o que faz o PT? Faz piadas nas redes sociais, debocha dos seus opositores.
Não há democracia que se sustente dessa forma. Eleições não garantem nada, menos ainda quando existe algum tipo de perseguição, quando há uma nítida perseguição a alguém, a um grupo político, quando são dominadas pelo desequilíbrio, quando são conduzidas por medidas tirânicas, absurdas, ilegais, arbitrárias, abusivas.
Lula só engana quem quer ser enganado. Ele se compara aos que foram banidos da política, aos que foram presos na Nicarágua e na Venezuela, ao mesmo tempo em que defende os ditadores desses dois países.
Sim, o Brasil ainda tem eleições, mas já não é uma democracia faz tempo.