Em breve, workshops no mundo corporativo, comandados por consultores "mini-Gretas" de 12 anos, farão com que os colaboradores – nome chique para funcionários – tomem consciência de que são racistas, machistas, misóginos, estupradores e afins.
Sim. E, se você se recusar, confirmará o diagnóstico a priori, além, claro, de assinar sua sentença de morte na empresa, ainda mais se já estiver com o prazo de validade vencido, ou seja, perto dos 40 anos.
Claro que há gente cheia de preconceitos, violenta e que devemos combater – hoje em dia, quando a sociedade assimilou o auto de fé como ethos da inteligência pública, faz-se necessário qualquer herege contumaz deixar claro que é contra o que todo mundo de bom senso é. Feito o disclaimer, sigamos em direção ao que não é tão óbvio.
E por que o mundo corporativo vai assimilar essa prática? Porque, à semelhança das instituições de ensino, o mundo corporativo assimila qualquer moda de comportamento que apareça no horizonte. Hoje, o branding serve ao ridículo. E a moda no âmbito do pensamento é sempre signo de pobreza de espírito.
Em segundo lugar, porque serão ministrados por mentores –outro nome chique para nada – de 12 anos. O frisson com a juventude já fora diagnosticado nos anos 1860 na Rússia por Ivan Turguêniev no seu essencial "Pais e Filhos". Todo idiota da cultura que crê no caráter revolucionário da juventude deveria ler esse livro.
E, claro, nosso maior crítico da cultura, Nelson Rodrigues, nos anos 1960 e 1970, fizera o mesmo diagnóstico com seu conceito de "razão da idade". Portanto, o fetiche com o infeliz jovem é já uma coisa de velhos infelizes.
Essa moda no mundo corporativo segue de perto a moda do mundo acadêmico, descrita pelo sociólogo húngaro-britânico Frank Furedi como "to raise our awareness" –"elevar nossa consciência", numa tradução simplista. Hoje todo mundo quer fazer de você uma pessoa "consciente". A saturação dessa forma de ativismo é uma maravilhosa fantasia para a velha estupidez no seio da inteligência. Não confio em ninguém que queira me fazer mais consciente de nada.
Já que falamos em estupidez, para além dessas razões, há uma menos evidente mas não menos clara para quem usar os olhos de forma distinta: a pauta identitária serve a estupidez travestindo-a de justa causa (vale dizer, ela é em si uma causa justa).
Polarização, políticas identitárias, guerra cultural, supremacistas brancos – no Brasil este é o mais ridículo de todos – e similares são sintomas da velha estupidez humana, agora, mais ruidosa do que tudo. Esse diagnóstico já fora feito por Umberto Eco.
A estupidez é um processo. Você não nasce assim, necessariamente. Entre as várias etapas do processo, há aquela na qual ocorre um estreitamento do entendimento na linguagem. Difícil? Quer dizer o seguinte: tudo que você ouve, vê ou lê sempre quer dizer a mesma coisa a seus ouvidos empobrecidos. Todo militante é um estúpido em potencial.
Claro, há exceções de que não falamos aqui, como o revolucionário russo Vladimir Ilitch Ulianov, conhecido como Lênin. De todo modo, a militância sempre implica alguma forma de deformação cognitiva ou moral.
A humanidade nunca foi uma espécie excepcionalmente inteligente, e Lênin sabia disso. O equívoco de achar que sempre fomos inteligentes nasceu do fato de termos adquirido a linguagem. Mas o uso desta não atesta nenhuma inteligência a priori. Pelo contrário, a preferência por viver com animais pode ser uma reação a esse diagnóstico negativo.
O mundo contemporâneo e suas redes, sim, fizeram da estupidez uma enciclopédia pública de horrores. O ruído agora é enorme. Hoje, mais do que nunca, o contrário da estupidez tende ao silêncio.
Isso significa que de nada servem as redes? Claro que não. Aviões transportam pessoas e jogam bombas.
E, por falar em aviões, há quem diga que empresas áreas americanas pensam em selecionar seus pilotos reservando 50% das vagas levando em conta "minorias" e não mérito. Você ainda duvida de que a estupidez tem o comando do mundo?
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