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Luiz Felipe Pondé

Luiz Felipe Pondé

Escritor e ensaísta, autor de 'Dez Mandamentos' e 'Marketing Existencial'. É doutor em filosofia pela USP

História e filosofia

A origem da política é a violência

(Foto: EFE Diego Reyes Vielma)

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Quais as origens da política? O tema é polifônico. Muitas vozes buscam identificar tal processo. Reconhecer as diferentes formas de organização política é a mesma coisa que identificar as causas da necessidade da política? Não necessariamente.

É importante dizer que a busca por compreender tais questões não implica a última resposta para elas. A razão para entender a origem da política é buscar sofrer menos com as causas que geram a política enquanto tal. É sofrer menos violência, de qualquer forma em que ela se apresente na experiência concreta do cotidiano social e individual.

A origem da política é a violência. O debate entre Hobbes (século 17) e Rousseau (século 18), que opõe pessimistas a otimistas acerca da natureza humana pré-política, é interminável. Ambos erraram ao imaginar que existiu um homem pré-político, fosse ele o lobo do Hobbes ou o doce selvagem do Rousseau. Nunca fomos seres isolados a marchar sobre o mundo. E aqueles que por azar caíram nessa condição eram rapidamente assimilados pelos bandos, para o bem ou para o mal.

Todavia, ambos acertam quando veem que a violência é um problema para os seres humanos, e que o surgimento das formas políticas é um modo de lidar com essa violência, tentando organizá-la, com maior ou menor sucesso. Evidentemente que nunca houve um contrato social assinado, nem os autores imaginaram que tenha existido ao lançar mão desse termo.

O contrato social é uma hipótese de trabalho para tentar explicar como teria surgido a ordem política sem a interferência das explicações religiosas e mágicas.

O que está por trás da ideia de um contrato social é a suposição que teriam sido decisões racionais que levaram os homens à ordem política.
O filósofo Francis Fukuyama no monumental "Origins of Political Order", da Farah, Straus and Giroux de 2011 –com tradução no Brasil–, demole essa hipótese racionalista. Não somente ele, claro, percebe a inconsistência de tal hipótese.

O que nos leva à vida política é a condição humana determinada pelas contingências de um ambiente aberto à violência contínua. Proteger-nos da violência implica fazer a gestão contínua dessa mesma violência, usando-a como recurso disponível. Se a gestão da política é racional, sua substância é emocional.

Fukuyama, mesclando história e filosofia política, diz que nunca houve homens pré-políticos porque a violência sempre fez parte do cenário humano. Jacob Burckhardt, historiador do século 19, já dissera que a violência surge como resultado das diferenças de poder entre indivíduos, grupos e sociedades no cotidiano da busca por realização dos intentos humanos.

Tanto o filósofo quanto o historiador veem essas diferenças de poder já na ordem biológica. Uns são mais fortes do que os outros, os homens mais do que as mulheres. Umas sociedades mais do que as outras, por elementos naturais e geográficos ou culturais e técnicos.

Fukuyama vai aos chipanzés para ver como entre eles também há política porque há diferenças de capacidade para exercer a violência.

Reconhecer que a violência é parte da condição humana é como reconhecer que existe a gravidade, a priori não se trata de um enunciado moral. Tampouco significa que sejamos apenas capazes de violência, mas sim que negar essa disposição, e diferentes capacidades para o exercício da violência, implica não compreender a política real.

O que está em jogo na política institucionalizada é quem ou o que consegue exercer mais violência de modo mais ou menos legitimado. E esta legitimidade implica, em grande medida, na importância da forma como a violência é exercida e organizada no cotidiano dos grupos.

Organizar a violência no cotidiano de um grupo é, basicamente, reduzi-la.
Nunca existiu um processo acumulativo e linear de sucessos na gestão da violência na longa duração da história. Dos grupos organizados por parentesco à corrupção no coração dos Estados, às teocracias, à tentativa de uma organização impessoal e mais transparente, tudo é efêmero e pode, um dia, degenerar em violência desorganizada.

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