O mundo corporativo sempre fala coisas como "pensar fora da caixa", "inovação", "disrupção", "soft skills". Claro, é tudo meio embromação, porque se você pensar mesmo "fora da caixa", estará na rua antes de chegar aos 50 –quando estará de fato na rua.
Queria fazer uma proposta "fora da caixa" para o mercado de consultoria. Fala-se muito em ensinar respeito à diversidade, tolerância, "soft skills", e toda uma gama de valores que seriam fundamentais no novo mundo lindo que estamos construindo pelas mãos do marketing de causas.
Que tal lançar as garotas de programa como consultoras de negócios e comportamento? Fala a verdade, existe profissional que pratica mais a tolerância? A casa onde elas trabalham não era chamada, por nossos ancestrais, que entendiam das coisas muito mais do que nós, de casa de tolerância? Por que será? Pense, e se não encontrar a resposta, procure no Google.
Não me refiro a Madalenas arrependidas, nem a profissionais do sexo que dizem por aí que são oprimidas. Refiro-me às profissionais que são bem-sucedidas na carreira. Enfim, as que gostam do que fazem.
Tampouco me refiro à ideia de que elas jamais sonhariam em ter família e filhos. Hoje não estou a fim do blá-blá-blá – aliás, nunca estou.
A profissão mais velha do mundo –a segunda, segundo o grande Paulo Francis, seria o jornalismo– tem a consistência da permanência, expressão que está na moda entre inteligentinhos que identificam Bernie Sanders como exemplo.
De onde vem essa consistência da permanência no caso das garotas de programa? Salvam casamentos? Diminuem o estresse? Aliviam a solidão? Elogiam infelizes e brochas? Acolhem o choro envergonhado? E tudo por um preço fixo sem taxas e impostos. Conhece algum negócio mais reto?
Imagino que minha ideia não seria tão bem recebida no meio corporativo. As colaboradoras, fora as que curtem as meninas, provavelmente diriam que é machismo, patriarcalismo, assédio, enfim, usariam todas as palavras da moda que existem para cortar o barato do pensamento público.
Imaginem o que elas poderiam nos ensinar sobre a microfísica do poder e da corrupção no país e no mundo? Alguém imagina algum método mais seguro de garantir a corrupção do que o investimento nas velhas obsessões humanas? Muito mais "soft" do que chantagens, e com pitadas de enorme prazer.
Você acha que uma CPI resistiria aos depoimentos dessas meninas? Só o charme delas deixaria os senadores-consumidores de quatro, embebecidos pela beleza candidata a salvar o mundo.
Nada como uma prática que atravessa a geografia, a história, a filosofia, a religião, a política e mesmo as ciências. Em meio à peste, pessoas se arriscam por breves momentos na companhia dessas sacerdotisas da natureza humana.
Dezenas de artigos seriam escritos contra a proposta, quem sabe até manifestações na avenida Paulista a favor da liberdade sexual e contra aquelas que a praticam há milênios. Essas garotas são a prova de que a hipocrisia é a substância da moral pública.
As revoluções industriais, a inteligência artificial, enfim, toda e qualquer inovação ou disrupção cai de joelhos diante de tamanho fato sociológico, inegável.
Querem uma inovação mais radical nos currículos de humanidades em todas as faculdades do mundo? Uma disciplina ensinada por elas cujo título seria Ética da Tolerância e cuja ementa seria "o mercado do sexo garante práticas ancestrais, 'soft skills' e inovações comportamentais que resistem às crises de mercado e geram sucesso em todos os ecossistemas de negócios".
Até as guerras se dobram à mais velha profissão do mundo: essas profissionais são espiãs dos dois lados, salvam vidas, denunciam criminosos.
Mesmo as religiões têm um lugar guardado para elas. Não é à toa que o ancestral poema das aventuras de Gilgamesh, da Mesopotâmia, dá a elas um papel formador na vida dos grandes líderes quando jovens.
Essas garotas são a prova cabal de que a vida das paixões tem um lugar especial no coração dos sentimentos morais, sejam eles alegres ou tristes.
Boa semana e lembre que ainda existe alguém que tolera você no mundo. Quem for puro de pecado, que atire a primeira pedra.
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