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Temos discutido muito as ações afirmativas nas empresas a fim de incluir diferentes minorias identitárias. Essas iniciativas são um híbrido de marketing e de papel republicano dos empresários.

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As companhias estão sendo cobradas, às vezes por consumidores tirânicos, a operar como poderes representativos da sociedade. Não vejo nada de mau nisso, e pode ser muito proveitoso para diminuir o "gap" entre classes e grupos sociais normalmente excluídos.

Mas a inclusão de pretos, gays, transexuais e simpatizantes nas empresas é coisa fácil.

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Assim como a publicidade americana descobriu que gays são um nicho de mercado poderosíssimo e disparou a revolução colorida, agora as empresas estão percebendo que a diversidade de jovens de classes sociais mais vulneráveis e de diferentes identidades, também vulneráveis, enriquece a performance dos negócios.

Ótimo. Ficam bem na fita e ainda alimentam o mercado da mídia e da academia com pesquisas que reforçam esse processo. Todo mundo fica feliz no fim do dia.

A verdadeira fronteira dos departamentos de inclusão e de diversidade das empresas será como assimilar a maior parte da população que será formada por longevos a partir dos 40 anos de idade.

Você estranhou que usei a expressão "longevos" para alguém de 40 anos? Se sim, é porque não está familiarizado com a idade de corte cada vez mais baixa no mundo corporativo contemporâneo.

O campo dos negócios ainda precisa ser analisado de forma consistente por parcela da inteligência pública. A maior parte do que se faz em termos de "cultura das empresas" é mero exercício de marketing.
Fala-se muito, por exemplo, em "pensar fora da caixa". Mas, na realidade, o que você deve fazer para sobreviver é pensar dentro da caixa –quanto menor, melhor.

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Repete-se muito também que devemos "sair da zona de conforto", mas isso só é pregado para quem está no corredor da morte, pronto para ser despejado –"você não consegue sair da zona de conforto porque é velho". Quando se trata da empresa em si, a ideia é nunca sair da zona de conforto de bater metas e ampliar lucros.

Portanto, todo esse debate sobre inclusão de minorias nas empresas, as mais diversas, é conversa para iniciantes. Garantido que essas minorias não passem dos 30 anos de idade, está valendo. Melhor: que elas estejam entre 20 e 30 anos, nunca mais do que isso.

A idade de corte despenca de forma bem confortável no mundo do trabalho – e só vai piorar. A lógica de resultados segue nessa direção com a digitalização da cadeia produtiva.

Pessoas perguntam se há saída. A resposta é não. A infraestrutura produtiva determina as consequências no âmbito da estrutura social.

Caso o número de nascimentos continue a cair vertiginosamente como tem caído há décadas nas sociedades mais ricas e organizadas, como fruto da emancipação feminina, das redefinições de papeis sociais e do impacto inexorável da opção pela carreira em detrimento dos filhos (que são um ônus cada vez maior), poderemos pensar em escassez de jovens em algum momento.

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Isso pode abrir espaço para os longevos de 40 anos, mas provavelmente essa escassez será resolvida com tecnologias digitais e algoritmos, sem precisarmos dos mais velhos.

A consequência dessa realidade será uma grande parte da população no papel de refugo do mercado de trabalho. E, como sabemos, quem não produz não existe socialmente –e mais: acaba perdendo em dignidade existencial.

Resta a essa parte da população a possibilidade de existir socialmente como consumidores, mas só para aqueles que têm poder aquisitivo. E é claro que alguns proprietários de patrimônios e de empresas manterão o seu lugar por mais tempo, antes de serem atropelados pelas novas gerações de filhos e pela ruptura digital.

Médicos, juízes, advogados, intelectuais, professores e psicanalistas ainda permanecem protegidos da idade de corte, mas isso perderá validade logo –serão vistos em breve como dinossauros que não entendem as novas cabeças. Os primeiros dessa lista a virarem refugo serão os professores.

O mercado de trabalho só inclui quem reproduz o capital. Os excluídos serão lixo social. O resto é blá-blá-blá.

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