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É chegada a hora de prestarmos atenção ao método Bolsonaro. É famosa a citação segundo a qual Shakespeare diria que há método mesmo na loucura. Vivemos hoje um momento em que há método mesmo na estupidez.
Essa estupidez, que atinge, às vezes, o nível da delinquência, se dispersa pelas redes sociais, se alimenta delas e escorre, infelizmente, agora, pela Presidência da República.
Muitas vezes, a identificação de um método se faz através de observações óbvias. O filósofo René Descartes (1596""1650) dizia que uma das qualidades do bom método é a simplicidade. Por isso, essa simplicidade em observar um método nos leva à obviedade.
O presidente costuma usar camisetas de time de futebol nas mais variadas cenas em que se comunica com sua base de apoiadores, como no vídeo em que atacou na última quinta-feira, dia 27 de fevereiro, a jornalista Vera Magalhães, do jornal Estado de S. Paulo, e também apresentadora da TV Cultura.
A associação entre essa prática e as redes sociais é uma mensagem que vai diretamente ao coração de muitos brasileiros que se sentem "desrepresentados" pela mídia, pelos políticos e pelo Supremo Tribunal Federal.
Todas essas instituições são identificadas como parte das "elites" por pessoas distantes de um entendimento de que a democracia seja um regime de instituições e não, meramente, de pessoas isoladas.
Aqui, Bolsonaro avança em práticas de que o próprio ex-presidente Lula fazia uso: populismo agressivo com a intenção de jogar "as massas" contra "as elites" –uma tática simples com efeitos poderosos no plano dos afetos identitários. É banal e óbvia, porém eficaz.
O que Bolsonaro e asseclas andam fazendo com os jornalistas e as instituições visa minar a representação política. E devemos bater de volta. Mas há dois detalhes que julgo importante apontar nesse embate, para que quem atua na mídia profissional não fique pregando pra conversos. É necessário tomar consciência de dois trunfos que a gangue Bolsonaro tem em mãos nesse terreno.
O primeiro é um fato apontado já pelo jornalista Paulo Francis, morto em 1997, após apontar esquemas de corrupção na Petrobras pré-PT, mas sem provas, o que custou muito caro à sua saúde, que era a colonização de grande parte das redações no país por apoiadores do PT e similares.
Profissionais da mídia não podem abraçar ideologicamente partidos políticos ou conjuntos ideológicos de forma militante, assim como juízes não podem se tornar cabos eleitorais. Quase como um asceta, um jornalista não pode ter, nem na vida privada, práticas partidárias militantes. Estas devem se restringir ao segredo do voto. A privacidade está morta no mundo das redes.
Se essas práticas não implicaram parcialidade na lida profissional com governos do PT, no nível da "microfísica do poder", elas acontecem e isso nos enfraquece.
Quem disser o contrário é mentiroso ou ingênuo. Bolsonaro navega de braçada nesse fato óbvio. Faculdades de jornalismo em peso ensinam aos alunos a serem de esquerda sim. Grande parte dos colegas da mídia acha tão óbvio ser de esquerda como sendo "do bem" que nem enxerga mais esse viés. Esse fato se tornou um telhado de vidro a favor da gangue dos Bolsonaro.
O segundo fator é meramente ferramental. Ninguém precisa mais da mídia profissional pra receber ou emitir conteúdos. O método Bolsonaro também navega de braçada nas consequências políticas da comunicação em redes sociais.
O jornalismo corre o risco de se tornar uma quase bolha entre conversos, enquanto grande parte da população se "informa" e "informa" os outros pelas redes com vídeos, textos e memes, minando a bolha citada acima.
O cerne do método Bolsonaro é a ideia de que a democracia se faz diretamente entre a soberania popular e o Executivo. O conceito de "bolsochavismo", delineado pela jornalista Vera Magalhães, no domingo, dia 23 de fevereiro, no jornal O Estado de S. Paulo, identifica um fator fundamental: o autoritarismo rompe limites ideológicos.
A Venezuela está à esquerda, e o Brasil está à direita. Que ninguém alimente isso indo à manifestação do dia 15 de março. Não saia de casa neste dia.
Evite a contaminação.