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Em 2002, o sociólogo húngaro-britânico Frank Furedi lançou um livro, sem tradução no Brasil: "Paranoid Parenting", pela Chicago Review Press. Esse livro deveria ser lido por todos esses pais paranoicos que habitam nosso mundo.

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São muitas as frentes de paranoia. A profusão de informação de hoje só piora as coisas. Mas a paranoia parental recente é fruto mesmo do gozo em torturar as crianças. Venhamos e convenhamos, o mundo já foi muito mais perigoso do que é hoje, e esses pais paranoicos teriam inviabilizado a sobrevivência da espécie alguns milhares de anos atrás.

Muitos pais de hoje sentem que suas crianças são um ônus injusto nas suas vidas, que deveriam estar sendo vividas com felicidade nas praias do Vietnã em vez de ter de lidar com os pentelhos o tempo todo. Não é outro o sentido do caráter de "ordeal" (provação) da condição dos pais descrito por Furedi.

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O culto da criança vulnerável veio pra ficar. Isso leva os pais, por exemplo, a atormentar as escolas e, creiam, as universidades, com suas demandas infinitas de aumento da autoestima dos seus poucos filhos.

Antes, você tinha dez filhos, morriam cinco, e você nem sabia os nomes deles. Agora, você tem apenas um e chega a programar o nascimento dele para ter o signo certo. Por exemplo, ninguém quer um filho de áries porque será uma pessoa violenta e cruel. Será que os arianos vão protestar?

E a paranoia com as castanhas? Escola "nut free"! Agora, se seu filho tem alergia, ninguém mais tem direito a respirar. Alergias sempre existiram, mas nenhuma mãe aterrorizava a escola com as alergias do filho.

A politização da atividade parental cresce. A crença de que todos os problemas que a criança tiver na vida serão consequência da incompetência dos pais é uma constante no discurso das políticas públicas.

Outra forma de politização do cotidiano da relação entre pais e filhos é a crença de que você deve ser o mais politicamente correto do mundo na educação dos filhos: a meta é a produção em série de Gretas Thunberg. Se seu filho não tiver um ataque histérico diante de um canudo de plástico, se não fizer um discurso irado contra comer carne aos três anos, há algo de terrivelmente errado na forma como você o está educando.

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Os mais afoitos creem mesmo que se seu filho assumir uma identidade masculina ou feminina antes dos 40 anos é porque você o oprimiu nesse sentido. Ele ou ela deve amar todas as cores do arco-íris.

Mas há formas mais prosaicas de essa paranoia se manifestar. Pais jovens disputam com as mães a condição de melhor mãe. É uma questão de honra. Não fossem os homens maus a priori, eles, seguramente, teriam o direito de protestar diante da injustiça social de terem nascido sem útero e mamas.

Ouvir os gritos dos pais no banheiro masculino quando levam seus filhos ao shopping no final de semana é um espetáculo para qualquer um com uma sensibilidade antropológica mínima: "Não toque em nada!", berram os pais com seus filhos. A criança deve pensar que está diante da "Coisa" a sair da privada a qualquer momento.

Mas, se essa criança jogar um caco de vidro, "sem querer", na cara do garçom, logo será abraçada pelos pais. Esses morrerão de medo que o corte no rosto do garçom poderá ferir a frágil autoestima da vulnerável criança.

Grande parte da paranoia parental é projeção dos pais sobre os filhos. Esses devem ser mais evoluídos do que os pais. Pobres miseráveis são essas crianças.

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Os psicólogos (que, muitas vezes, são parte do problema, e não da solução) deveriam avisar aos pais que uma das formas mais seguras de fazer do seu filho um desgraçado tomador de ansiolítico aos cinco anos de idade são as altas expectativas de que ele venha a se tornar um ser humano fofo.

Confesso, não sei como adultos ainda se dedicam à atividade de ensino de crianças diante de pais tão insuportavelmente pentelhos e invasivos do cotidiano das escolas. As escolas, por sua vez, incentivam essa invasão como forma de fidelização dos pais pagadores. Enfim, essas crianças ficarão cada vez mais zoadas da cabeça.