A História de Portugal, e por consequência, do Brasil, está marcada por eventos sagrados desde sua origem. A independência de Portugal, por exemplo, na batalha de São Mamede, em Guimarães, no ano de 1128, por el-rey D. Afonso Henriques, teve como inspiração a aparição e o encontro com Jesus Cristo Crucificado, que profetizou ao rei os grandes feitos que Portugal iria realizar por meio dele e de suas gerações. Com Sua Graça, o monarca e sua descendência iriam expandir a fé e o Império do Espírito Santo na Terra. A passagem está minuciosamente descrita nas crônicas de Duarte Galvão e outros cronistas da época, e é o intento fundador da nação portuguesa e de todos os seus territórios ultramarinos.
Desde essa época a fé e a religiosidade foi pano de fundo em diversas batalhas, tragédias e vitórias vividas pelos reis e povos que traçam sua origem na criação de Portugal. Esse vínculo é indissociável em nossa história. No entanto, com o tempo os historiadores passaram a descartar as motivações do fato fundador e a valorizar mais os aspectos temporais e materiais. Isso acontece especialmente quando os fatos não são relembrados em celebração.
Para um cientista político, que analisa só fatos e com a frieza do raciocínio, incluir aspectos esotéricos para explicar história material não faz sentido nenhum. Mas omitir as motivações que mobilizaram reis e povos em atos que, pelo prisma material, não pareciam racionais, pois embutiam risco de vida e altas chances de fracasso, é faltar com uma parcela relevante da explicação.
Muitos da escola marxista descartam a fé como instrumento de controle material dos povos. Não aceitam a fé como condutor da história e fazem desacreditar que a fé tenha algo a ver com a realidade vivida; reduzindo as evoluções e involuções da humanidade a conflitos entre classes e civilizações - entre oprimidos e opressores. Para esses, o bem e o mal não fazem parte da história, já que a história contada pelos vitoriosos nunca deve ser aceita como sendo toda a história. Argumento típico dos materialistas.
Aceitar que o ser humano tem um lado espiritual que faz parte da sua vida material é relativamente fácil e universal - até para um marxista materialista. Mas entender que a vida material é também uma manifestação do lado espiritual é para os poucos que aceitam e compreendem as interligações dos dois lados.
Os chefes de Estado que compreendem essa interligação realizam atos considerados irracionais pelos materialistas. Mas para os que estão em sintonia com o lado espiritual, é uma demonstração de humildade e coerência.
As metáforas cristãs que envolvem a Sagrada Família, o menino, o coração de Jesus, da Virgem Maria e o nascimento de Cristo são as mais fortes. Em diversos momentos da história de Portugal e do Brasil o país foi consagrado por seus líderes às forças da fé que derivam dessas metáforas.
Primeira Consagração
Mais de 400 anos após a fundação de Portugal o Império Português viveu seu pior momento: a União Ibérica, que unificou as coroas na dinastia dos reis espanhóis, que assumiram o poder a partir da crise sucessória que se instalou em Portugal depois da morte do rei D. Sebastião, na batalha de Alcácer Quibir. De 1580 a 1640 Portugal e seus territórios estiveram à mercê do reino espanhol que não tinha nenhum interesse no seu destino como povo independente.
No Brasil, Antônio Vieira proferiu um de seus famosos sermões em honra a Nossa Senhora da Conceição, em 1635, meses antes de ser ordenado padre. Vieira viria a ser o conselheiro espiritual e político de D. João IV, o restaurador, em 1641, logo depois deste ter libertado Portugal do domínio espanhol, recuperando o trono português para a dinastia de Bragança.
É nesse período de entusiasmo que o rei Dom João IV, católico devoto e claramente influenciado pelo luso-brasileiro padre Vieira, dá ênfase à defesa da Imaculada Conceição. Faz o voto de que, a partir dele, nenhum outro rei de Portugal irá usar a coroa que não seja Nossa Senhora da Conceição. Consagra a ela seu país e territórios, inclusive o Brasil, em 25 de março de 1646, em Vila Viçosa. Nesse dia, a igreja celebra a visita do arcanjo São Gabriel a Maria, anunciando que ela seria a mãe do Messias, tão esperado por Israel.
A passagem da consagração também foi documentada na época: “Ao toque das trombetas e ao rufar dos tambores, teve início o cortejo. À frente vinha o pendão do Reino, ostentando as cinco Cruzes e as cinco chagas de Cristo crucificado. Seguiam-se cavaleiros e soldados, abrindo caminho para os Prelados, religiosos, e membros da nobreza que conduziam Dom João IV ao Santuário. Ali, após a Santa Missa, o Reino de Portugal foi consagrado à Santíssima Virgem”.
Na Bahia, em 1654, o Governador-Geral do Brasil, Dom Jerônimo de Ataíde, mandou fundir uma placa de bronze com o texto da proclamação redigido em latim. Esse foi um ato religioso e também político, pois os Reis de Espanha pensariam duas vezes antes de reivindicar a coroa e as terras que estivessem sob o domínio de Nossa Senhora, coroada pelos regentes da casa de Bragança. A ameaça de invasão do território português perdurou décadas após a independência de Portugal mas nunca se materializou.
Segunda Consagração
O Brasil foi pela primeira vez consagrado em 1646, como parte de Portugal, mas nem a Independência revogaria esse voto. Dom Pedro I, ao contrário, só o confirmou, consagrando pela segunda vez o país a Nossa Senhora Conceição Aparecida.
A história registra que dom Pedro, então príncipe regente, viajando do Rio de Janeiro para São Paulo, no dia 22 de agosto 1822, prostrou-se aos pés da imagem de Aparecida para pedir sua proteção. A situação política da época o pressionava para que proclamasse a independência. Uma decisão difícil e de profundo impacto. No dia 25 de agosto, três dias depois, D. Pedro rezou no santuário de Nossa Senhora da Penha, zona leste de São Paulo, para pedir o mesmo discernimento. Hoje, Nossa Senhora da Penha é a padroeira da cidade.
Dom Pedro I cumpriu sua promessa: o Brasil tornou-se independente sob a proteção de Nossa Senhora Aparecida. Imperatriz perpétua de nossa nação, a ela Dom Pedro I consagrou o Brasil, antes da Independência; e com ela ficou a coroa da Princesa Isabel, após a Proclamação da República.
Terceira Consagração
A mais devota dos Braganças foi dona Isabel, a Redentora, filha de Pedro II e ratificadora da Lei Aurea que libertou os escravos. Ela foi chefe de estado diversas vezes na ausência de seu pai. Ela foi responsável pela consagração do Brasil ao sagrado Coração de Jesus.
Também é conhecida a passagem histórica da promessa de dona Isabel em visita ao santuário de Nossa Senhora Aparecida, em 1868. Ela era desejosa por ser mãe, porém, não conseguia engravidar. Se alcançasse a graça de ter um filho, ofereceria um manto à Nossa Senhora. Em sua segunda visita, feita no dia 6 de novembro de 1888, a Princesa Isabel ofereceu à santa não apenas um manto, mas uma bela coroa feita de ouro, com rubis e diamantes. Teve três filhos homens, um deles, D. Luíz Maria, foi meu bisavô.
A estátua do Cristo Redentor, considerada uma das sete maravilhas do mundo, na verdade era para ser um monumento à princesa Isabel, “A Redentora”, por ocasião da assinatura da Lei Áurea. O projeto foi recusado por ela, pois desejava que o país confirmasse a consagração ao Sagrado Coração de Jesus, por isso dona Isabel pediu que fosse mudado o projeto para a figura de um Cristo de braços abertos, que recebia a todos, de acordo com a piedade cristã.
Quarta Consagração
No final de seu mandato, em 24 de outubro de 2022, o presidente Bolsonaro, na Capela do Palácio do Alvorada, voltou a realizar o Ato de Consagração do Brasil a Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, voltou a ter caráter religioso em 2016, após período em que foi utilizada como escritório. No texto, o Presidente pediu, como chefe da nação, que Nossa Senhora fosse a governante do Brasil, pedido semelhante ao da Princesa Isabel. A data em que a consagração foi realizada coincide com o Dia de São Rafael Arcanjo, a quem os brasileiros tradicionalmente recorrem nos momentos de maior tensão nacional.
O Brasil é um país abençoado e consagrado às forças espirituais mais poderosas e virtuosas que protegem a humanidade. Vamos relembrar o quanto elas nos conduziram através dos momentos mais difíceis de nossa história coletiva e de nossas histórias individuais e ir adiante com a confiança dessa proteção. Feliz Natal a todos!
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